terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A questão não é que o real seja impossível, mas que o impossível é real*

  Por que é tão difícil realizar certas coisas? Vivemos de projetos e promessas que nos movem, nos absorvem, mas que, às vezes, não se realizam. A realidade assusta e dificilmente conseguimos encará-la. Porque, para encarar a realidade, precisamos romper com o discurso. E o discurso é tão bom...

  Vivemos de inventar projetos e não de realizar projetos porque o mundo é muito grande e impossível de se abarcar. Quando, por ventura, um projeto de alguma forma se concretiza, ele se soma ao mundo e nos é subtraído. Nesse momento, esse projeto não é mais nosso: é do mundo. Entretanto,  Žižek nos diz que o real não é impossível, mas o impossível é real. Ou seja, o impossível é um subconjunto do real. De que tamanho?

  Como saber que não estamos pisando no terreno impossível do real? Não há como saber por causa dessa dicotomia entre eles. Mas, isso não significa uma inação, significa que mais do que nunca é preciso lutar para superar o desafio da realização.

  Porque, conforme Žižek, o real PODE acontecer, e isso deve nos manter firmes na luta, no sentido de uma emancipação.

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* Arriscar o Impossível - Conversas com Zizek - Col. Dialética, pg 89

sábado, 20 de dezembro de 2014

Elasticidade

  O nosso corpo, por si só, somente pode se mover em pequenos espaços. O corpo se atrita com outros corpos o tempo todo.

  A mente voa. A mente é livre para levar o corpo para onde ela quiser.

  Mas o corpo não pode ir. O corpo é passado, sempre. O corpo é experiência acumulada.

  A mente é futuro, quase sempre. A mente, refletindo sobre o passado, visa o futuro. Esse visar sobrecarrega o corpo porque a mente pensa muito, propõe muito para o corpo.

  A força de cada pensamento é fisiológica. E aí, nessas reviravoltas mentais, muito se perde - há um desgaste.

  É preciso relaxar a mente, distender. Distensionar!!!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Arte popular

Arte popular é expressão viva da cultura. Arte popular manifesta o sentimento que anda por aí a baila de qualquer processo formal.

Arte popular é o sorriso autêntico, o olhar cativante e a boca cantante. O gingado da arte popular vem do corpo treinado em vivência e sobrevivência. A vestimenta da arte popular é colorida e denuncia o folclore arraigado no sangue do povo que faz arte para a alegria.

O traço da arte popular não é planejado, é emotivo. Porque a arte popular louva a terra e perpetua a simplicidade. De tão ingênua e espontânea, a arte popular se sofistica.

A arte popular não quer os salões e museus, a arte popular quer a rua e a praça: quer viver. Faz viver. A arte popular contagia, joga pra cima. A arte popular espanta a tristeza porque traz a magia pura que enfeitiça os corações e a alma.

Arte popular: remédio que cura e expurga qualquer tentativa de se pensar em algo irrelevante e sem sentido. Quando possível, viva a arte popular!

- Trio Virgulino passou no Metrópolis (TV Cultura, 17/12/2014) e plantou em meu coração uma semente cheia de vida e cativante.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A filosofia e os professores sob o olhar de Adorno

    O texto que dá nome a essa reflexão trata do exame que seleciona os futuros professores de ciências e filosofia. A crítica de Adorno é severa, mas reflete uma Alemanha que passou pela nazismo e, nesse sentido, podemos entender a sua gravidade. Se, por um lado, há por parte dos examinados sérias deficiências, por outro lado, a falta de exigência premia a consciência reificada e sua subordinação a qualquer autoridade, mesmo que seja o regime nazista.

    Sobre a avaliação, os examinados preferem questões específicas que versem sobre a história da filosofia, mesmo que tenham grandes dificuldades de articulação quando ser trata do desenvolvimento de pensamento de um filósofo em relação a outro, e não só no interior de cada filosofia. Entretanto, Adorno sugere o uso de questões temáticas, que faça vínculos com a arte e a cultura de cada época e sublinha o contraponto entre o espírito filosófico e o científico, que, reificado, se vale de valores científicos para fazer a mediação com a experiência viva. Ante estudantes que não querem correr riscos no exame, o que precisa ser abordado é o potencial intelectual, a capacidade de reflexão sobre a atividade e o meio social.

    Assim, a consciência dos candidatos está reificada e repousa sobre "conformações formais do pensamento". Sem reflexão, cria-se o apolítico, que é facilmente subordinado. Mas, aonde estaria a causa do problema? Segundo Adorno na falta de formação cultural, que exige o empenho de cada um, que é espontânea, para que se crie o espírito crítico que se abre a novas possibilidades. Mas o que o resultado dos exames mostra é exatamente o contrário: fica evidente o fracasso da formação cultural, que não é alimentada por experiencias prévias oriundas da condição social de cada indivíduo.

    É grande o peso que Adorno coloca nos ombros do professor: ele deve ter o conhecimento específico e histórico da filosofia, mas também se relacionar com as outras ciências e com as artes e experiências em geral, refletir sobre sua atividade e sobre o social. É esse indivíduo que, com uma formação cultural adequada, pode possuir o espírito filosófico que supera a consciência reificada, é capaz de fazer a autocrítica e ensinar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A Biblioteca de Babel

Leitura 1

Se a biblioteca encerra todos os livros passíveis de serem escritos, lá estão todas as respostas. Mas qualquer empreitada humana jamais será capaz de desvendar todos os segredos, por mais que seja essa a última (no sentido de finalidade) e única tarefa humana, uma tarefa que seja coordenada para durar todo o tempo que seja necessário e que envolva todos os homens.

Tão perto e tão longe. O que se poderia buscar em tal biblioteca? O livro que conta a história do que procura, ou da amada do que procura? O livro que conta a história da família do que procura ou o livro que virou o filme que estrelou semana passada? Tudo e nada. Buscar qualquer história é buscar uma história e todas as histórias. E toda a história. A biblioteca encerra todos os livros e contá-los não seria tarefa humana.

Organizá-los ou dispô-los em alguma ordem minimamente arbitrária não é possível. Não há lógica em sua distribuição... (somente em sentido cosmológico, como veremos abaixo).

Segunda leitura

Qual o sentido da biblioteca total? O sentido é não fazer sentido. O sentido é não procurar o sentido porque acha-se a loucura ou a morte, mas não se acha o sentido. As histórias já estão todas contadas, é muito melhor viver uma história contada sem saber o seu roteiro, do que, ao saber o roteiro, querer dele fugir, ou querer alterá-lo. O sentido é viver e só.

Mas, o que está por trás da solução do problema da Biblioteca Total? Dois axiomas: 1) que o tempo é eterno e 2) que o número de símbolos é limitado; axiomas que nos aparecem como similares ao Eterno Retorno, de Nietzsche: "...o número de situações, alterações é também determinado e não infinito." e "O tempo, sim, ... é infinito." Moral da história Nietzschiana: repetição. E que moral essa de fazer e refazer... A solução de Borges: "A Biblioteca é ilimitada e periódica". Uma solução cosmológica e muito longe da nossa capacidade (portanto não tem a ver com a moral), por que a ordem viria da repetição das desordens cíclicas.

Nesse conto, Borges contou uma história de repetição. Mas, na filosofia e na lógica, Borges conta uma história de repetição? Não é o que parece, vide o problema da identidade: o que se repete é o mesmo ou é outro? A repetição tem o tempo no meio, tempo que impede a identidade (as refutações Borges mesmo cita: Mauthner, Russell, etc.). Mas, na literatura pode (na de Borges, porque a de Nietzsche se pretende doutrinal), porque a identidade é identidade da situação, do complexo de sensações, é por aí que anda a identidade do sujeito: o que escreve sente o mesmo do que lê. O que traduz atinge o mesmo do original. Como tal identidade é possível? Sem o tempo humiano/kantiano, o da estética transcendental, o tempo que seria a identidade: tempo do espaço-tempo com tempo do pensar (consciência). Se uma cosmologia cíclica é válida, o que volta? Não EU e VOCÊ, mas os complexos de sensações sentidos e percebidos - as experiências (essas questões são teóricas e totalmente fora de contexto aqui, voltaremos a elas em outra oportunidade).


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Um

...Mas, alguma coisa some, desaparece? O que morre degrada e vira outro. Se algo desmancha e vira ar, aí está: o ar! O ar é coisa. o ar é. Não há o que não é. Nada acaba - tudo se transforma. Até quando? Qual o limite de tudo isso? Um dia vai explodir ou implodir. Da mesma forma, tudo reverbera: é o efeito borboleta.

Centenas de milhares de causas e efeitos guiando centenas e milhares de seres vivos ao longo de centenas e milhares de anos. O que vive, morre. Mas, o que é morrer? O que é nascer? São dois estalos? O corpo não nasce de um estalo, o corpo é uma coisa existente antes de ser, fruto de reprodução. O corpo não morre, ele se decompõe e se transforma.

Do que é composto meu corpo? Células compostas de células de meu pai e minha mãe, que são compostos de células de meus avós: aí vai se remontando.

O que nos move - a alma - morre?
O que acontece com esse fluxo, essa chama? Vai para outro? A alma é reciclável? Nada some!!! Minhas alma é a alma de outro que era de outro e será de outro. Minha alma é a alma do mundo. Uma só. Nada morre...

sábado, 15 de novembro de 2014

Uma reflexão sobre a educação: a dicotomia do papel da escola*

  Em nosso país, a escola é obrigatória perante a lei e a sociedade (e deveria ser pública e gratuita, em regime totalitário). Mas, com os avanços da tecnologia, na sociedade informatizada e globalizada, como avança a escola? Qual é o seu papel, atualmente, quando as crianças entendem mais de tecnologia que os adultos?

  Vamos pautar a nossa abordagem em dois aspectos: o papel ideológico da educação e a sua importância na economia. Chamaremos de INSTRUÇÃO o saber técnico que se aprende na escola e de FORMAÇÃO aquela relativa ao como viver, tais designações já caracterizadas por Montaigne, nos idos da Renascença, quando a sociedade "renasce" da "idade das trevas" e o nobre deve abandonar sua vida de luta empunhando a espada para se converter em nobre no castelo, vivendo "em sociedade" (aristocrática). Montaigne propõe um saber que não é aquele escolar, mas que prepara para a vida, "que lhe proponham (ao jovem) essa diversidade de julgamento e ele escolherá, se puder, do contrário, permanecerá na dúvida". Lá, é mais importante ensinar o comportamento - o como viver, para o cavalheiro, o bruto.

  Mas, INSTRUÇÃO significa conhecimento de habilidades visando o mercado de trabalho, a formação profissional. Partindo do pressuposto da evolução tecnológica que guia a sociedade contemporânea, em constante transformação, o jovem deve estar apto a acompanhar as inovações e dar resultado. O mundo competitivo exige isso, exige que saíamos do outro lado. Tempo é dinheiro, não é mais o processo que é importante, é o produto, como se faz não importa: "se vira nos trinta!!!". Aqui abre-se espaço para a ascendência econômica que monopoliza o ensino, na medida em que o empresário que investe em educação investe buscando um profissional capaz de resolver suas demandas, profissional pré moldado. Por outro lado, a tecnologia invade a educação e solicita uma fatia do bolo: ensino à distância, conteúdos curriculares em aplicativos para computadores de mão. Mais máquina, menos homem: a velha fórmula marxiana. E a velha educação não serve mais.

  FORMAÇÃO é quando a instituição de ensino pauta pela educação inserida na sociedade, tendo como pano de fundo as relações dos indivíduos, a divisão de classes, o patrimônio cultural do povo. É na escola onde as primeiras relações sociais são ensaiadas, relações verticais e horizontais. É aqui que Hannah Arendt põe a escola entre a casa e o mundo, é aqui que a autoridade do professor é testada num jogo de imposição e arrefecimento, na miscelânea que compõe a sala de aula e a escola.

  Os dois aspectos que comentamos remontam ao surgimento da escola moderna. Se, por um lado, a reforma protestante colocou o cristão em contato com Deus, por outro, o cidadão francês, fruto da revolução, tinha o direito à educação. A INSTRUÇÃO era necessária para o indivíduo ler a Bíblia, a conduta vinha da palavra e o acerto de contas com Deus seria feito depois da morte. A Alemanha, que perdia guerras para Napoleão, encontrou a causa do problema: soldados não escolarizados não estavam aptos para as modernas técnicas de guerra. Mas, na França, Condorcet editava um código de leis e diretrizes para a educação que valorizasse a cultura e as artes, um projeto universal e igualitário, educação iluminista e de soberania individual baseada no progresso do homem, projeto liberal (embora, 20 anos antes, os projetos de educação de Rousseau tenham ido muito mais na linha da formação ética e política do homem, dentro de sua crítica ao progresso da ciências e das artes, porém, ambas as propostas, de Rousseau e Condorcet, tratando educação como política de Estado e direito do homem). Não haveria mais apelo a uma entidade superior, era a declaração dos direitos do homem.

  Outro ponto importante e que merece um aprofundamento nesse debate é que uma sociedade muito tecnológica não pode se pautar somente pelo progresso, somente por soluções tecnológicos porque fica reificada e presa em tal concepção. É preciso formar para se valorizar a cultura local e pesar as consequências do jogo global. Alternativas são necessárias e devem ser incentivadas.


  Então, que escola queremos? Uma que INSTRUA ou que FORME? Ou ambas? A escola instrui para o mercado e forma para a sociedade. Ou será que é a sociedade que impõe a sua forma/conteúdo ao processo pedagógico? No século passado, Bourdieu, em sua sociologia reprodutivista, atesta que a escola termina a tarefa iniciada pela família. O habitus social ganha corpo na escola e ela reproduz a sociedade. De tal maneira, que faz um trabalho alicerçado na ideologia de dominação: a educação vem de berço e deve ser continuada, os ideais burgueses preservados.

  Que escola queremos? Seria uma de convergência das exigências? Formar um profissional que saiba pensar? Instruir um cidadão a resolver os problemas burocráticas que haverá de enfrentar na ciranda do mercado de trabalho? Menos escola, mais escola ou não escola? Escola de reprodução social ou escola liberal e democrática? Com o pano de fundo da constante mudança da base técnica, apoiado em um sistema econômico e financeiro persistente, não podemos apelar para teorias utópicas e extravagantes. O homem, que vive, deve, necessariamente, trabalhar e produzir, e por isso não podemos nos esquivar da discussão. E quem pode apontar para uma luz no fim do túnel é Mészáros. Falaremos sobre ele brevemente...

* resenha aula de POEB 13/11/2014 - professor Romualdo (com pinceladas apreendidas das questões do ensino de filosofia da FFLCH - Maria das Graças).

Mídia

Mídia remelenta, fétida, suja, baixa, mesquinha, hipócrita, elitista, interesseira, marrom, covarde, sanguinárea, inescrupulosa, anacrônica, irrefletida, esteriotipada, propagandista, autoritária, vexatória, preconceituosa, tendenciosa, daninha, odiosa, policialesca, maliciosa, mau caráter, maléfica, corrompida, corrompidora, reproducionista, oportunista, desconstrutivista, raivosa, mentirosa, impetuosa, falaciosa, mequetrefe, superficial, corruptora, arrogante, sensacionalista, capitalista, enganadora, usurpadora, totalitária, inconsequente, ardilosa, manipuladora, asqueirosa, golpista, tenebrosa, chocante, hilariante, cômica, retrógrada, conservadora, sentenciosa, juiza, obscurantista, perniciosa, indecente, mau intencionada, marqueteira, poderosa, inconteste, avassaladora, desgraçada, demagoga, ideológica, subserviente, fatídica, fatalista, rancorosa, disfarçada, gananciosa, filha da puta.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Corrupção


    Tem se ouvido muito ultimamente, principalmente associado aos governos Lula e Dilma, um discurso contra a corrupção, discurso esse que atinge níveis elevados de indignação e intolerância. Mas, o que é a corrupção?

    Uma busca rápida do significado esclarece que é o ato ou efeito de se corromper, levar vantagem em negociatas prejudicando outrem. Trocando em miúdos, é o que você, eu, todos nós fazemos ao longo de nossa vida algumas vezes, em qualquer fofoca ou conversa de bastidor, seja no trabalho ou em casa. Qualquer uso do discurso ou tentativa de convencimento baseados em segundas intenções, visando deturpar a realidade dos fatos a partir de pontos de vista subjetivos. Tentativas de burlar o fisco, infração consciente de lei trânsito, aquisição de produtos piratas, etc., em quaisquer dessas práticas nos corrompemos e aumentamos a massa corrompida. Alterar o valor do recibo de reembolso da empresa, comprar ingresso de meia entrada ilegalmente, etc. são práticas corruptíveis, em que nos beneficiamos e adquirimos algum tipo de vantagem, mas são práticas comuns na sociedade.

    Apesar de prática corriqueira, o discurso oposicionista contra a corrupção impera e sobressai. Obviamente, a corrupção, principalmente na coisa pública, não é aceitável, deve ser combatida, denunciada e investigada. Mas esse não deve ser um tema maior, quando relacionado a temas como saúde, educação, programas sociais, parcerias comerciais do país, dentre tantos outros. O discurso contra a corrupção é conservador porque é negativo e não visa o diálogo, porque não visa agregar ideias novas; é um discurso combativo, mas estático. Mas o que estaria por trás desse discurso?

    A corrupção é um tema que aparece, que expressa um sentimento escondido. Essa expressão visa apelar para a moral de cada um, mas esse discurso é antiético em sua base e fundamento, porque 1) quem julga também é criminoso, ou seja, corrompe e é corrompido; 2) a grande queixa é: o que estão fazendo com o meu dinheiro? A corrupção incomoda moralmente mas, mais e principalmente financeiramente, na medida em que se questiona o desvio de dinheiro pago por cada cidadão. Em última análise é o dinheiro que está por detrás do discurso. O valor manifesto por uma palavra de ordem chamada corrupção esconde uma causa que potencializa a luta de classes.

    Em um país onde boa parte da população vive na linha de pobreza e não sabe o que é trabalho, salário e imposto, tal discurso é vazio. E é isso que esse discurso esconde: a indignação de parte (rica e mesquinha, e honesta??) da população, que na verdade está muito mais preocupada com o seu capital e propriedade; ao invés de um confronto de ideias prefere o conforto ideal. Tal discurso visa responsabilizar o atual governo como único responsável por tal comportamento distorcido e é usado como bandeira política, discurso usado mesmo por quem sabe muito bem que a corrupção afeta todos os partidos e toda a sociedade. Ele é um mantra: achamos um culpado e nos isentamos; repetindo a palavra de ordem, nele acreditamos. A elite, e boa parte da classe média candidata a rica, se escondem por trás desse discurso de fachada, evitando o diálogo e se tornando subserviente à ideologia de dominação; cada vez mais distante da reflexão. Não mexa no meu dinheiro, fora Dilma, fora PT!!

domingo, 19 de outubro de 2014

Mauthner e o mundo fenomênico

Vamos fazer uma tentativa de análise pragmática de Mauthner baseada nos fenômenos, com a consideração de que se trata aqui de um pragmatismo negativo e não um pragmatismo positivo, de ação.

KANT


Coisa-em-si: substantivo - desconhecido (causa eficiente).
Relação entre coisas: verbo - desconhecido (causa final).
Fenômeno: adjetivo - qualidade que aparece.

O que está por trás da coisa-em-si kantiana? O limite da razão, do conhecimento. Só posso falar de fenômenos, embora me arrisque às vezes na coisa-em-si, ultrapassando o limite... E Mauthner? Sua intenção é recusar substantivo e verbo no uso da linguagem?

O mundo kantiano de fenômenos é um mundo "sem ação" (sen-S-ação..), porque é um mundo que "aparece", mundo de aparências. Fenômenos que aparecem são formas sem conteúdo, é uma forma sem ação.

Ao abolir substantivo e verbo da linguagem, abolimos a ação e ficamos presos em complexos sensíveis não determinados. Ficamos a mercê de complexos sensíveis em constante mutação.

No momento que uma qualidade sensível aparece como fenômeno, nesse momento temos um adjetivo. Mas o adjetivo é uma coisa extravagante que se deteriora - não permanece. O que podemos fazer com ele? Precisamos investigar.

* * * * *

É a teoria do conhecimento que Mauthner atinge porque o que conhecemos nos chega pelos sentidos. É por essa via que o fenômeno deixa uma impressão em nossa alma. Mas chega subjetivamente porque essa decodificação é de cada um e está em cada um. Muito embora esse conhecimento seja intelectual, tal conhecimento intelectual somente pode ser posto intersubjetivamente por um acordo: porque aceitando as diferenças. Mas defendemos, em outro momento, o conhecimento pelo verbo: conhecimento instintivo e, talvez, o mais importante. Porque na hora da situação adversa um consenso acordado será desrespeitado pela via da necessidade e sobrevivência.

* * * * *

O que se apresenta do caminho trilhado por Mauthner é a evolução de nossa espécie se adaptando às impressões impostas pelo mundo (darwinismo). Porque são os acidentes que se impõem a nós. Nesse sentido que a memória ganha importância, enquanto termômetro de sensações. A psicologia caminha paralelamente com esse contato com o mundo e é quando a evolução se fixa na busca do melhor caminho. Mas, parece que o melhor caminho é aquele irrefletido - sem juízo de valor.

Esse rastro de complexos sensuais e sensoriais cria uma herança humana que se baseia na memória e se expressa pela linguagem. Deslizemos nossa existência nos desviando de fenômenos indevidos.

Hannah: autoridade e conservação.

Na sua análise da crise da educação (1960), Hannah procura legitimar a autoridade daquele que ensina. A criança que vem ao mundo é uma vida nova no mundo (velho) e uma vida em formação.
Mas, que mundo é esse? Um mundo que a criança não conhece. Um mundo que a ela precisa ser apresentado, mas um mundo “perigoso”. A proteção é a casa, a propriedade (até para os adultos).

Nesse sentido, a criança precisa ser preservada do mundo. Dentro de casa, a vida em formação pode se desenvolver e se conservar (não perecer). Mas é o adulto que traz a novidade do mundo lá de fora para a criança. Hannah argumenta que a crise da educação advém de uma mudança no comportamento da sociedade, quando a autoridade passa a ser desconstruída e desconsiderada. Se foi a autoridade que sempre orientou e guiou, ao relevá-la, se releva a sua responsabilidade perante o mundo a ser por ela pilotado. Mas, ao abrir mão dessa autoridade, a sociedade não a pegou para si – o homem não se responsabiliza pelo mundo que está aí. E, como ficam nossas crianças? Sem a autoridade, quem se responsabiliza pelo mundo?

A escola tem esse papel: ponte para o mundo. É o professor quem apresenta o mundo para a criança. É a sua autoridade que pode guiar os passos da criança, que, só assim, protegida, se conserva e se desenvolve.

Mas a autoridade vale somente para a educação e para a criança !!! Entre adultos, autoridade é coerção, porque aí estamos no campo da política. A criança precisa ser resguardada da política porque não tem elementos cognitivos suficientes para tal. O homem deve enfrentar a situação política, livre da autoridade.


Autoridade: responsabilidade pela criança; coerção entre adultos.
Educação: conciliando o velho e o novo - o homem sempre é velho no mundo velho; a criança é nova no mundo novo-para-ela, velho-para-o-homem, precisa ser conservada para se desenvolver.

Fale Hannah:


• A educação não pode desempenhar papel na política, porque na política lidamos com os que já estão educados. Educar adultos é coerção.
• O que quer que o mundo adulto proponha de novo às crianças é mais velho do que elas mesmas. Cada geração se transforma no antigo: preparar uma nova geração para um mundo novo equivale a arrancar-lhes a oportunidade face ao novo.
• Velho mundo: admirável, mas não encontrou a solução.

sábado, 11 de outubro de 2014

Engatinhando na linguagem, filosoficamente

Mala: não existe a mala, existe uma mala que estou vendo agora. O nome se refere à coisa, mas não uma coisa específica, o nome se refere a uma coisa conceitual que, se existe, existe como uma forma em nosso pensamento.

Aquela mala, o que ela é? Eu não a conheço, eu a vejo porque ela aparece para mim como uma forma. Não conheço o seu conteúdo, a sua constituição. Ela é uma forma retangular e vermelha, ela ocupa um espaço. Mas consigo determinar que coisa é ela? E, sei também, que ela não é inexorável e que um dia vai se tornar alguma outra coisa qualquer.

Então, o que dizer dela? Uma coisa muito prática, para que ela serve, que pode ser muitas coisas e coisas diferentes para diferentes pessoas.

Substantivo, substância: no dicionário está cheio. Mas na realidade, cada coisa é uma coisa singular e desconhecida. O substantivo só é uma forma que eu crio para me relacionar com o mundo, ele só existe quando penso nele ou me lembro dele. Ou quando escrevo no papel. É uma representação vazia.

Adjetivo, qualidade: está em algo, caracteriza algo. Mas o vermelho da mala, aquela constituição pigmentada, não é sozinha: só é na mala ou em outra coisa. É uma pseudo substância, uma substância de nível inferior.

Verbo, ação: utilidade prática. A mala serve para guardar alguma coisa, para transportar coisas, para escorar a porta que pode bater com o vento. A mala não é uma coisa em si, ela é um composto de qualidades que aparecem em determinados momentos de uma determinada forma, de tal maneira que eu consigo identificá-la. Mas a mala só é mala pelo que se presta a ser e enquanto pode ser aquilo que se presta.

Ficaremos tateando na linguagem: o substantivo vazio, o adjetivo que neles aparece e o verbo que pragmaticamente faz. Parece melhor me orientar pela linguagem do verbo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Few words about marxism

With the capitalism, the job's kind has changed.

Men work in places that are not their places and where they are not familiar. Men produce objects that they don't know what they are.

When you see a factory's production line, it reminds you a Charles Chaplin film. A man participates in a little part of the whole and he doesn't see the totality. This is the alienation. The alienation of the job. The alienation of the job's result.

But, what's the job's result? It's the product, i.e., goods. A product is a strange object because it has a value. We can exchange it, exchange it by any other.

This value seems to be natural, but it isn't. This product with value is known as fetichism. But its value is produced by whom? It's produced by the labor of the man: the abstract labor... And everything can (and need to) be sold. Even our labor!!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Marx para jovens.

Qual seria o tema para uma boa aula introdutória de filosofia para o Ensino Médio? Poderíamos abordar os gregos, onde tudo começou? Tem assunto: os mais famosos Aristóteles, Platão (com diálogos bem interessantes e proveitosos) e Sócrates ou os marcantes: Parmênides e Heráclito e seus aforismos, dentre tantos outros. Ali ainda havia uma visão de mundo, digamos, mais romantizada. Damos um salto e poderíamos abordar em linhas gerais um dos dois expoentes da Igreja: Santo Agostinho ou São Tomás. O último, tarefa difícil. Isso sem falar no ceticismo que por aí perpassa, com Ockham, entre outros (assunto bem específico).

Mas eis que surge o modernismo e o método de Descartes, a utilidade de Bacon, a revolução copernicana, a monadologia leibziniana, o empirismo de Hume e.... Kant !! Que chega em Hegel !! Por aí há muitos... Há o iluminismo, Rousseau e seus discursos, a política de Hobbes. Tarefa interessante, mas difícil, seria falar um pouco da fenomenologia de Husserl e a crise das ciências, ou falar do positivismo, o círculo de Viena, o pragmatismo de Peirce. Do século passado, poderíamos abordar muita coisa: a teoria crítica, o existencialismo de Sartre, a filosofia da linguagem, etc.

As possibilidades são vastas e meu conhecimento escasso e superficial. Mas precisamos preparar uma aula para os jovens. E o que falar para eles? Como primeiro contato na filó, creio não ser interessante algo muito abstrato, teórico ou complexo demais. Nem específico e detalhado. Uma boa visão geral seria importante, mas também ideias que possam ser aplicadas, porque o jovem faz, por natureza. Ele é ativo. E o jovem contesta, também. Nesse sentido, por que não educar? Instruir e formar...

Daí Marx, porque questiona o sistema dado. Todo filósofo reflete sobre a realidade e propõe uma teoria. Mas Marx é mais concreto. E o sistema que ele questionou se perpetua até hoje e, vamos lá: cada vez mais forte. Nossa proposta é sentar junto com o jovem e aprender. Nossa proposta é estudar
Marx e o entender, entender o que for possível de sua filosofia (embora existam certas teses de que ele rejeita a filosofia). O materialismo histórico, a luta de classes, a ideologia de dominação, a alienação e a segunda natureza do trabalho, o fetichismo da mercadoria, as relações de produção e forças produtivas. Quanta coisa !!!

Vale a pena, para uma primeira tarefa, tratar da alienação: situação que ilude o sujeito de tal maneira e a tal ponto de transformá-lo em objeto do sistema. Sistema de mercadorias dotadas de valor, e o homem coisificado. Creio que promete...

domingo, 28 de setembro de 2014

Um pouco de ficção

Conforme argumentação de Vaihinger, há ficção na base do conhecimento. Mas, se as grandes teorias científicas se assentam sobre ficções (por exemplo, a teoria de atração gravitacional, que é uma abstração e hipoteticamente proposta por Kepler e depois Newton; o feixe de luz como se fosse uma onda, etc.), qual a garantia epistemológica da ciência?

Se, conforme Popper, a ciência é provisória, qual o valor dos juízos analíticos kantianos? Se há uma lógica na qual eles se baseiam, essa lógica de nada adianta se não for aplicada. Mas a aplicação dos juízos analíticos desemboca praticamente nas ciências. E mais, por que não se pode fazer metafísica, por que a razão somente pode tratar dos fenômenos? Se chegarmos a tal ponto de ceticismo, a uma dissociação tão radical da realidade com a racionalidade, perdemos qualquer ponto de apoio.
Se a metafísica versa sobre o imponderável, o que dizer do artifício das ficções? A ficção é um construto da razão e, como tal, é subjetivo. Tempo e espaço, que são as condições da estética kantiana e são dados a priori, também não fazem parte desse construto engenhoso? Até onde isso vai?

É ilimitado o mundo criado pela mente humana. O Homem concebeu um mundo e nele vive. Esse mundo concebido não é o mesmo mundo que está aí, embora eles paralelamente se desloquem e coincidam (essa ideia remete a Leibniz e as mônadas que vivem simultaneamente isoladas, tudo com elas e entre elas acontecendo ao mesmo tempo, causa e efeito em cada uma delas, separadamente). Uma vez criado esse mundo, ele se perpetuou de tal forma que, hoje, nesse momento, agora (!!!), ficamos a mercê do produto aparente que se torna quase impossível comprovar qualquer tipo de conhecimento ou julgamento, ou qualquer coisa que remeta a algum tipo de verdade.

Mas, se é assim, vivemos sobre o caos. Ele está abaixo de nossos pés, a frente de nossas mãos e atrás de nossas costas. Se é assim: por que tanta seriedade??? Por que levar tão a sério algum tipo de trabalho que se baseia na epistemologia??? Isso abre caminho para o humanismo, porque não precisamos de ciência para nos relacionarmos com o outro...

Tal ceticismo ficcional traz consigo o nominalismo que se aparta do mundo: a cabra é mais "palavra cabra" do que "bicho cabra" - ainda mais hoje quando não mais vemos bichos...
As qualidades das coisas: só as conhecemos pelos nomes e pelas sensações que delas temos, não as conhecemos em si. O nome evoca a coisa e provoca seu efeito, às vezes, antes mesmo da coisa (isso já nos mostrou Sartre sobre a intencionalidade da consciência, o imaginar que provoca algo, o ausente que se faz sentir, o pensar no frango e sentir fome, o lembrar da carne podre e sentir enjoo da carne boa).

Quando o homem concebe o mundo (no sentido de gerar, parir - dito antes), é esse mundo idealizado que é intersubjetivamente compartilhado entre cada um, esse mundo idealizado serve de base para as convenções que são utilizadas na sociedade, de uma maneira geral. Há sempre um algo traduzindo o mundo: há um mundo lá - esse mundo real é descrito por palavras, pela convenção linguística. Há um mundo lá que pode ser previsto pelas ficções, pelas abstrações criadas pelo homem. Linguagem e ficção são criadas pelo homem e para o homem. Pensando nas 3 desilusões alertadas por Freud: 1. não somos o centro do Universo (heliocentrismo); 2. não somos originados por Deus (darwnismo); e 3. a sua: existe uma subconsciência alheia ao mundo e ao homem e que pode ser responsável por nossos atos; qual o recado da ficção, das linguagens? De fato, não nos relacionamos nem com uma realidade de mundo e nem e de forma direta entre nós. Há sempre uma criação e uma virtualidade contida nas palavras, nos movimentos e intenções: somos passivos, somos reflexos de nossas próprias criações - cada vez menos originais.

A própria linguagem inventada pelo homem evolui, as palavras mudam de significados, as palavras se fundem e se consolidam, novas se criam. Essa mudança de sentido das palavras tem como pano de fundo uma possível falsidade da linguagem? A língua não é certa, ela se constrói. E, por isso, as palavras mudam? Palavras não são números. Os números são - há sempre uma atualidade neles. As palavras, eram, estão e serão. Virão a ser o que um dia deixaram de ser, ou poderão ser o que um dia não foram?? Ao representarem coisas que deixaram ou deixarão de existir, mesmo assim ainda subsistem? Que ficção pode ser construída com que tipo de palavra? Precisamos investigar essa relação entre a palavra que representa uma realidade diretamente e uma palavra que é usada em uma ficção. Porque a associação linguagem-ficção multiplicada pelo homem tem responsabilidade mesmo que seja naquele humanismo que ressaltamos anteriormente.

Aula da Filosofia da Arte de 22/09/2014

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Patologia

A patologia é artificiosa, usa de artimanhas indecifráveis. Ela derrama o véu de maya sobre o mundo e ele se torna sôfrego e IMPLACÁVEL. Como acordar? É preciso se submeter?

Mas, ao se submeter, não se acorda. Que dilema!!! Há um mundo REAL. É preciso enfrentá-lo. Mas, a doença não deixa. Mas, a doença não é real. É patológica. Não há meios: precisamos lançar mão da evolução e, por conseguinte, da medicina.

Mas, a medicina não é o remédio único, ela é o remédio geral e não se aplica a TODOS os casos. Nem sempre, ininterruptamente. É preciso saber a dose certa: é preciso parar!!!

Há um desconhecido, fruto da imaginação. Mas, ele só vale no sonho. O mundo é REAL. Deixemos a patologia para o sonho. É bom, porque acorda-se. Mas, também é preciso dormir tranquilo...

Mas, a patologia vem de algo marcado. Algo que CHEGOU até nós. Ou mesmo algo que produzimos. Mas, a patologia é algo real agora, mesmo que tenha sido CRIADA no passado. Importa descobrir? Qual o sentido da vida?

Mistério!!!

Faremos força para descobrir ou vamos vivendo? A vida é sempre um fardo porque é imprevisível. Queremos descobrir? A vida é um gozo, um jogo. Descobre-se uma coisa, mas não se descobre tudo. Então... Tanto faz!!!

Mas,tem sempre uma patologia no mundo (no mundo da cabeça do homem, porque o mundo é uma coisa que está aí). Cura-se uma e ganha-se outra. Certamente é preciso viver melhor. Superar medos e domar a ansiedade. Mas, calma!!! Existe um ponto de limite. Dele não se passa. O limite existe acima e abaixo. Estabilidade, esse é o segredo.

Algo assusta. Buscamos associações. Não sejamos detetives, sejamos vivos. Viventes.

Porque a patologia não se cura falando. Ao falar se representa, a essência é perdida. Há influências. Nos curamos vivendo. A segurança está dentro de nós. O falar quebra tudo porque tem intenção. E não se pode equiparar um pensamento a um fato. Fatos acontecem. Pensamentos perturbam.

O roteiro não é meu. Vomitado durante Freud, além da alma.

domingo, 21 de setembro de 2014

Há muito por fazer

Não podia passar sem uma reflexão o contato com a arte de Bergman. Através de um espelho desnuda o interior e o conflito da experiência familiar e nos envolve em um quadro psíquico intenso. Se Karin sofre de transtorno que a projeta em uma outra realidade, a proximidade da família revela o desejo de felicidade. Sua delicadeza liga três homens: pai, irmão e esposo. A patologia que sobre ela incide covardemente, embaralha suas metas.

Mas Karin quer fazer. Ela luta. Nós lutamos. O que nos move? O que é possível fazer? O mar, o escuro, o vento e o barulho das ondas. Uma ilha, férias. Gritos de pássaros ao longe e perto. Melancolia. Karin quer fazer. Mas o que ela pode fazer? A doença destrói o que nos diferencia: a consciência, razão, sobriedade. A doença que chega sorrateira rouba-lhe a autonomia.

No momento de crise: controle. Tranquilizantes. Invasão. Ela sente e eu sinto. Ela não chora, eu choro. Ela não sabe ou sabe demais naquele momento? Eu sei que ali algo se vai, a maneira com que lidamos com a doença é bruta. Pedro soube, meu pai sabe. A crise vem, VEM, crescendo... ABOCANHA!!!

Mas Karin quer fazer. Ela quer fazer algo PARA o outro. Mas como?? O que fazer?

domingo, 31 de agosto de 2014

Série 3 perguntas, eu respondo.

  1. O que é a vida? (essa é do abu...)
  2. É preciso mudar algo no mundo?
  3. O que fazer para melhorar nossa condição?
  1. A vida é uma condição orgânica sustentável. Em se tratando do homem, essa condição se degrada ou se revigora baseada em fatores da psique e, se deslocando para fora, fatores culturais, sociais, políticos e... econômicos!!!
  2. É preciso mudar a ordem dos valores. Enquanto ser humano no mundo, precisamos sobreviver, ou: viver-da-melhor-maneira-possível. Qualquer fator externo ao homem deve ser relevado e reduzido ao extremo, qualquer situação adversa deve ser exterminada. A cada dia deve ser feito um brinde à saúde: do corpo e da alma.
  3. Temos que extinguir qualquer tipo de desigualdade e injustiça. Temos que aprender a postura de luta e combate. Não afirmo que o homem é um animal político, mas sei que é social. A nossa condição irá melhorar quando descobrirmos, ao certo, qual a medida da contestação. Uma medida que não nos mate, mas que não nos desmobilize também.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O valor da teoria marxista

A importância da teoria marxista é evidenciada pelo seu caráter normativo. Em abordagem oposta a da teoria tradicional, que descreve os acontecimentos e, com isso, perpetua a situação vigente, Marx denuncia em que bases se fundamenta o capitalismo e acentua a marca histórica oriunda do seu advento. Quem acusa esse procedimento marxista é Horkheimer e sua teoria crítica.

Basta um breve conhecimento de algumas das ideias gerais da teoria marxista para se tornar impossível imaginar a neutralidade de qualquer ciência política e social. O "neutro" é a favor do que esta aí, em voga. Mas a lei do sistema capitalista é abstrata e se funda no cálculo matemático de possibilidades, na transformação do tempo fluido em unidades de medida de trabalho discretas. Enfim, no controle da mão-de-obra livre, na alienação causada por uma cadeia de produção que fragmenta e subtrai a espontaneidade da vida humana, quando o orgânico se perde no imediatismo de uma consciência reificada.

Marx previu o colapso do sistema porque acreditava na sua contradição interna. Mas os proprietários dos bens, os chefes, se associaram ao estado e a livre concorrência se institucionalizou. Depois o capitalismo se tornou financeiro e global, cada vez menos humano. Talvez Marx não tenha errado em seu diagnóstico, mas a sociedade mercantil nascente, iluminada e teimosa, seguiu pelo caminho tecno-financeiro. Mas nem tudo são flores: aqui e acolá pode-se ver que seu seu legado está vivo em diversas correntes e pesamentos: sua luta ainda continua.

A neutralidade mentirosa e hipócrita da ciência nos quer calados e doutrinados. Mas é pelo valor da teoria marxista que se semeia uma esperança.

sábado, 23 de agosto de 2014

Reverberação

Uma coisa acontece aqui e tem um efeito ali. Ou lá. Não existe acontecimento isolado. Essa cadeia de causa e efeito envolve situações concretas - reais, materiais - mas também passa pelas ideias.

A cultura e a formação influenciam. Há um determinismo do meio, da educação. Mas o aqui e agora é fundamental. Como se vive agora contribui para o modus operandi. Como se vive agora não envolve somente conforto ou uma pseudo-ilusão de estabilidade. Como se vive agora é.

A gota perene pingando no forro de gesso vence. Uma falsa pressão de fora pode causar um desequilíbrio indevido. Se sujeitar a essa falsa pressão não é necessário.

A equação do sobreviver vivendo-da-melhor-maneira-possível precisa ser resolvida.

sábado, 2 de agosto de 2014

Dinheiro

Será que sabemos o valor que o dinheiro tem? Certamente sabemos que é um valor de equivalência e esse valor é subjetivo.

Pois, para quem tem muito, o dinheiro traz conforto. E para quem quase não tem, o dinheiro é sobrevivência.

Admiro mais o mendigo do que o rico. Porque o mendigo pede dinheiro, mas o dinheiro recebido é rapidamente trocado por alguma coisa necessária: seja um prato de comida, uma pedra de crack ou uma dose de pinga. O dinheiro do rico não é troca: é conforto, excedente. Esse dinheiro COMPRA.

Admiro mais o mendigo porque seu cheiro é cheiro de animal, seus pensamentos são imediatos. O mendigo que dorme na rua vê o mundo como ele é. Ele não tem propriedade, ele vive. Sua existência é sempre uma realização, ele não pode parar. Ele não escreve e quase não lê, não produz porque produzir é criar algo PARA alguém. Mas produzir algo PARA alguém é produzir algo para QUE alguém conosco se comprometa.

O cheiro do rico é de sabonete ou de perfume, não é um cheiro natural. Ele se aflige porque não conhece o mundo e precisa GUARDAR seu dinheiro ou mesmo perpetuá-lo. Sua sobrevivência se projeta no GANHAR dinheiro, ele TEM que trabalhar. E produz para si, para os seus, para que a prole continue sua espécie.

Admiro o mendigo porque tenho dinheiro e não posso imaginar o que seria de mim e de minha vida sem dinheiro e, talvez portanto, sem projeto e sem futuro, sem nenhuma pegada, nenhum rastro. Admiro o mendigo porque ele é livre. Livre do dinheiro.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Em um boteco real de copacabana

    A gente faz loucuras por futebol. E na final da copa do mundo não poderia ser diferente, senão que fizemos (Lívia e eu) um bate e volta de São Paulo para o Rio de Janeiro. Ida. Saída: 00h:45hs, chegada 6:45hs. Volta. Saída: 21h:50hs, chegada 3:30hs.

    Dizem que o brasileiro é um povo hospitaleiro e recebe de braços abertos, mas não foi o que pudemos constatar nessa rápida passagem pela cidade maravilhosa. Com a vitória da Alemanha na final do campeonato mundial, houve muita festa dos brasileiros. Até aí, dentro da desportividade. Mas me envergonhei ao ver as pessoas xingando e hostilizando nossos visitantes. Do alto dos prédios, de dentro dos bares. A ponto de no coração de Copacabana, bairro carioca multicultural, cosmopolita, presenciarmos cenas realmente lamentáveis ao sentarmos na mesa de um bar para bebermos a "saideira". Cariocas se sentindo donos do boteco, hostilizando corajosos argentinos que invadiram o bairro, a cidade, o país em busca do sonho de ver a Argentina campeã novamente. Vimos um homem de perto de 60 anos "puxar" uma garrafa para um grupo de argentinos, um outro senhor (carioca) enrolado em uma bandeira da Alemanha muito descontrolado e agressivo. Ao me queixar com duas moças que também estavam lá, elas disseram que o bar era delas, que frequentavam lá faziam 30 anos, etc. Cariocas se sentindo donos do boteco: não era sonho ou pesadelo, era o boteco Real, esquina das ruas Paula Freitas e Barata Ribeiro.

    Mas também havia lá uma senhora, uma dama (também do pedaço), ilustre frequentadora que nos deu um pouco de esperança. Ela, percebendo o devaneio de seus colegas, tentava em vão argumentar. E, certamente, não somente no Rio de Janeiro, como em São Paulo e talvez em outros lugares do país, hostilizamos nossos vizinhos. Além do futebol. Vi raiva, vi ódio e desprezo. Ando preocupado com nosso povo. Não seria melhor que a taça ficasse no nosso continente, valorizando-o? Não deveríamos cuidar dos nossos? Seria o complexo de vira-latas? É o famoso fogo amigo.

    Mas, em 2016, o Rio de Janeiro receberá uma Olimpíadas. Quem sabe se com o foco não somente na paixão do futebol, cariocas e brasileiros talvez possam receber bem como dizem por aí. Preparemo-nos!


sábado, 28 de junho de 2014

A Dama e o vagabundo

  Senhora FIFA despachou Luisito mais cedo para casa. Um cão raivoso? Não, um cachorro vira-latas, filho do terceiro mundo: o lado marginal do mundo !!! Porque a copa é dos ricos. E, me parece, que o povo brasileiro, a imprensa brasileira, na sua grande maioria, QUER ser colonizada pela dama de ferro.

  Nas matérias de TV e jornais que vemos, na cobertura dos times, os gringos brancos europeus estão se banhando na praia. Algum negro, alguém viu? Os africanos brigam por dinheiro, os alemães COLONIZADORES constroem um resort no paraíso da costa baiana. Playground de rico. Mas esses africanos antidesportistas brigando por dólar... Por que será, né, cara pálida???

  Mas a dama não protege os seus filhos. A dama quer dinheiro, quer sair na foto. O show tem que continuar. A dama usa os filhos e os joga fora: tem que dar exemplo !!! O que é isso, morder alguém em campo???? Fora !!!! Isso é evento de primeiro mundo. E as pessoas se comportam.

  E estamos incomodados com Luisito. Que vá logo, está estragando a nossa copa. Que fique em casa. Que suma !!! Não passou no teste mundial, perdeu. Temos que vencer, sempre. Se bobear: PUNIÇÃO. Que vá se tratar.

  Se acho a atitude del perro correta? Não acho. Mas, então, que se punam todos e vamos ver quem sobra... Que o comitê disciplinar da senhora FIFA trabalhe depois de todos os jogos e puna cabeçadas, cotoveladas, pisões. Que gravem tudo e punam tudo. O pupilo do time da CBF cometeu atitude imprudente em campo (cotovelada). Isso é coisa de jogo, da cancha.

  Se torço pelo time da CBF? Sim. E gosto de futebol e jogo no bolão. Mas podemos refletir com o jogo também. A bola ensina.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Vai tomar no cú

Abertura da copa do mundo no Brasil, ingressos a R$ 500,00, o time local vencendo o jogo de estréia e eis que se escuta: "Ei Dilma, vai tomar no cú!". Palavrão gostoso de se dizer, né? Melhor não tentar dizer isso na rua para alguém porque o resultado pode não ser muito bom...

Mas o povo vai no estádio para dizer palavrões e xingar todo mundo. Bem, não era bem o "povo" que estava lá, nosso povo anda melhorando de renda, mas quinhentos reais não é para qualquer um. Assim como não era qualquer um a ser hostilizado, era: 1) uma mulher, 2) já senhora e 3) presidenta da república, representante máxima do "povo". Já diria José Simão: "o brasileiro é cordial.".

Ousaria dizer que a cantoria se deu por pura falta de criatividade, por não se ter nada melhor para cantar, como aquele coro: "1 2 3, 4 5 6, 7!". Mas a reação da mídia sugere que, é verdade, o "povo" exagerou. Mas não é a própria mídia a cultivar tal espécie de ódio e rancor? De fato, além de falta de criatividade para se festejar a vitória com um cântico melhor, podemos dizer que o que se passou ali foi intolerância. Intolerância que se vê e escuta todos os dias por esse "povo" que estava lá, que deve estar no país errado. O lugar dele devia ser a Suíça, essa deve cumprir o nível de exigência.

Não quero ser politicamente correto, quero que a política seja feita em data e local apropriados e com o respeito que tal contenda merece. Mas o "povo" não quer mais saber de política porque o "povo" só pensa no seu bolso (cheio) e só quer morder o lucro, não quer dividir. O "povo" não quer mais partidos políticos porque tem muita gente querendo dialogar e dividir o bolo agora e, para esse "povo", é melhor uma ditadura que lhe dê garantias. Debater para que? Fora com os partidos.

Poderíamos sugerir a esse "povo" alguns temas para serem cantados em um estádio de futebol, inúmeras as marchinhas e bordões que temos de carnaval. Nosso samba e nosso pagode poderiam ser divulgados para o mundo em tamanho evento, são expressões de nossa cultura. Mas o "povo" não está preocupado com o mundo, prefere xingar a presidenta e partir para seus nobres compromissos sociais e afazeres importantes.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Greve, 2014

Podemos ser engajados ou estar engajados, mas também podemos não nos engajarmos. O compromisso é de cada um, podemos lutar invariavelmente em todas as situações ou em alguns momentos mais relevantes, podemos somente ver a banda passar.

Mas em uma situação de greve não temos escolha. A situação de greve exige paralisação, é um estado de exceção, de suspensão do juízo, de não normalidade. Não se admite passividade, é preciso estar lá e participar. É preciso coletar o maior número de variáveis, escutar os pontos de vista. Podemos nos abster e até mesmo não ter ainda uma opinião formada, mas temos que ir.

Dentro da universidade (pública), diante de uma decisão da assembléia dos estudantes por greve, não pode haver aula. Uma vez deliberada a greve, é greve! É mobilização, é discussão. O fura-greve que fique em casa, estudando, descansando ou cuidando de outros assuntos. Mas no espaço da universidade, a sala de aula é para debate, é aula prática. E existe melhor aula do que essa?

O que temos visto é que somente nos momentos de greve podemos prestar a atenção nos problemas institucionais e no funcionamento das estruturas. Na situação do dia a dia todos correm atrás do seu prejuízo e poucos se engajam, poucos guerreiros. Mas uma aula em uma greve é um evento ilegítimo porque não é claro. Os comunicados correm na boca miúda, as notícias são contraditórias e ninguém sabe bem o que está havendo. Contra essa atitude: cadeiraço!

sábado, 17 de maio de 2014

Olhar-se

Para nós que enxergamos, os olhos são janelas para o mundo. Pensamos mais através de imagens: elas nos afetam e direcionam nossa mente pelos seus efeitos visuais.

É quase isso que nos resta: a imagem de pessoas, a imagem de um problema, a imagem de uma ação, de um acontecimento ou a imagem dos objetos.

De olhos abertos vemos um mundo de imagens, mas escutamos sons, cheiramos odores e olores e tocamos nas coisas. De olhos fechados vemos imagens. Buscamo-as alhures.

Mas quando nos olhamos? Ou, de quanto em quanto tempo? Na correria da vida dificilmente refletimos sobre nós. Mas quando olhamos no espelho? Olho no olho? Olho no corpo? Olho na mente e na alma?

No mundo de imagens precisamos nos olhar mais. Não um olhar longe e vazio e nem um olhar perto demais e imediato, olhares do dia a dia. Mas o olhar-se.

sábado, 10 de maio de 2014

Alguém

Sempre existe alguém no pano de fundo de nossas ações, garantindo nosso usofruto. Isto é assim e está constituído.

Ao estacionarmos o carro, tem sempre um flanelinha vigiando.
Ao chegarmos em casa, o porteiro está lá.
Se urinamos fora do vaso, dá-lhe doméstica.
No trabalho tem muita gente na infra, na base, no suporte.
No restaurante, os garçons. Na padaria, os serventes.

Essa é a condição de classe, de dominação, de se sujeitar à dominação. A classe que recebe o serviço, que necessita do serviço prestado, não vive sem ele e a ele está submetido.

Porque tem sempre ALGUÉM prestando o serviço. Mas não vemos esse alguém ou não os vemos como alguém. Para nós esse alguém é objeto. Mas quando isso acontece, o que somos?

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Mundos Possíveis

Gostaríamos de abordar alguns conceitos da filosofia de Leibniz esquematicamente, referentes a criação do mundo e a liberdade humana.

Para Leibniz, no entendimento de Deus existem muitos mundos possíveis, mas Ele escolhe o melhor dentre todos. Sendo assim, nosso mundo é contingente porque "poderia" ser outro (se Deus quisesse), mas é esse por uma escolha moral de Deus. Por trás dessa escolha há uma liberdade que não é arbitrária, mas calculada racionalmente e baseada na vontade de Deus.

Dentro do nosso mundo criado existem leis que podem ser resumidas em: leis subalternas e leis universalíssimas, mas também existe a memória humana. De novo, essas leis são contingentes porque poderiam estar em outros mundos possíveis, mas estão nesse porque Deus é bom e esse é o melhor dos mundos possíveis.

A memória é uma faculdade humana que "automatiza" certas leis naturais, a partir dela não precisamos realizar cálculos. Por exemplo, sabemos que o sol nasce de manhã e se põe de tarde todos os dias.

As leis subalternas são as leis naturais, da natureza, da ciência, da física, da mecânica. Podem ser calculadas por nós, deduzidas pelo nosso entendimento humano. Enfim, o que podemos explicar recorrendo a fórmulas. Por exemplo, que a densidade é o quociente entre massa e volume.

As leis universalíssimas pertencem à ordem das regras de Deus e nelas estão contidos os milagres e nossas ações livres. Os milagres estão na ordem das leis de Deus e não temos conhecimento suficiente para entendê-los. Da mesma forma que as ações livres dos homens, que são imprevisíveis em cada situação. Aqui Leibniz não se utiliza de nenhuma moral normativa que poderia caracterizar ou "indicar" quais seriam ou deveriam ser nossas escolhas e ações (deixemos isso para Kant).

A partir desse esquema simplificado, encerraremos com duas reflexões acerca das nossas ações livres. Uma que se relaciona com nossa liberdade humana e outra com a natureza das nossas ações. Se nossas ações livres estão dentro das leis universalíssimas, elas estão no entendimento de Deus e podemos compreender melhor o significado de nossa liberdade: uma que remete a Deus, que está nele, mas também que se serve de nossa vontade.

Seguindo nesse caminho, podemos dar um segundo passo: se esse mundo é contingente, nossas ações livres valem aqui. Mas como elas seriam em outro mundo? Podemos pensar em uma ontologia da ação livre. Em outro mundo possível, o que poderia mudar na nossa ação livre? Nada? Ela teria o mesmo sentido de ser? Seria uma ação livre de escolha dependente da vontade ou poderia haver outra ordem de precedência? E mais, poderia haver outro tipo de propriedade ou predicado que desconhecemos nesse mundo melhor possível e que poderia nos ser atribuído em algum outro?

Nos outros mundos possíveis a ação livre estaria totalmente com sua causa em nós e influenciada por nossos predicados ou essa autonomia poderia ser relativizada? São questões que podem nos ajudar a compreender melhor a filosofia da criação leibniziana.

domingo, 27 de abril de 2014

decisão

a decisão é o ato ou processo de escolher. e vivemos escolhendo, a toda hora e tudo. desde os rumos de nossas vidas a necessidades básicas, desde coisas irrisórias e bobas a atitudes perigosas e essenciais.

mas a decisão é livre? esse livre-arbítrio tão antigo... dúvido dele. estou aqui escrevendo agora. paro ou não? depende de mim? depende do que? estou apertado para ir ao banheiro. vou ou não? seguro até quando? se eu for agora, fui eu quem decidiu? e se eu for daqui dez minutos?

o homem é finito e limitado. faz ciência e tecnologia observando a natureza. inventa robôs com o que? todos os materiais estão na natureza. o limite do homem é a vida, nada mais.

difícil acreditar na escolha, na decisão, no livre-arbítrio. toda ação vem da razão e de nosso sentimento. mas não conhecemos nem um nem outro. o que é a razão, o racional? não sabemos. o que é o sentimento, a paixão? não sabemos.

será que decidimos sobre algo?

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Argumentação

A argumentação faz parte do nosso dia a dia porque, como seres sociais que somos, nos envolvemos em situações de diálogo onde precisamos defender nossas opiniões.

O processo de argumentação tem como meta o esclarecimento de nosso ponto de vista (dependendo da nossa certeza visa o predomínio de nosso ponto de vista). Nesse processo, podemos nos utilizar de alguns métodos, como a retórica (rebuscamento da oratória), a ética (baseado em um bem ou valor), a lógica (encadeamento de ideias) ou a empiria (experiência prática).

A retórica sem dúvida tem alto poder de convencimento porque pode iludir; podemos acreditar no discurso em si mesmo: emocionante, cativante, delicioso, triste.

A ética se agarra na cultura dos envolvidos, no que é relevante para o tema do debate e para os debatedores e pode ludibriar, pender, moralizar.

A lógica não tem sentimento nem valor, mas não tem erro. Não abarca tudo, mas satisfaz dentro do contexto e permite provar de trás para frente, e vice-versa.

A empiria é aquilo de cada um, do que apareceu na vida; está colada no mundo, resultado do que resvala em nosso corpo, das refregas de nosso entendimento com o dos outros.

Dependo do tipo de diálogo e da importância da situação (e de regras: quantidade de envolvidos, critérios de consenso e igualdade de condições) escolhemos o método que mais se adéqua.

Mas, independente do método, é a meta que importa: esclarecimento, se possível, certeza. Senão caímos no vazio da subjetividade que é oposto ao processo de argumentação. Vazio esse essencial, vital. Mas isso é tema para outra reflexão...

terça-feira, 18 de março de 2014

Falas

Gostaríamos de dividir a fala (essa "vulgar", do dia-a-dia), no que se refere ao grau de importância ou relevância, em dois tipos: contingente e necessária.

A fala envolve o falante e o ouvinte numa relação de troca mecânica, de emissão e recepção de sons, mas atinge também o sentimento e o pensamento: atinge a pele, o coração e a razão.
Nesse sentido que queremos caracterizar a fala: o que daí é relevante? O que daí merece ser analisado sob algum prisma de valor?

A fala contingente é aquela que se dá de modo espontâneo, uma fala que "brota", um impulso que explode no ar. Essa fala fica por ali na região do sensível, é um ato totalmente atrelado ao corpo, do mesmo jeito que vem, volta. A fala contingente é a fala da paixão, é o grito, o palavrão, o susto, a braveza, a decepção. Uma fala que ACONTECE.

A fala necessária vem de dentro, é articulada, cada palavra é desenvolvida dentro de um discurso, é uma fala utilizada como meio para se chegar a algo ou para atingir um objetivo. A fala necessária é elaborada racionalmente e o que dela se deve produzir é visto como algo responsável, algo que deve PERMANECER.

Dessa caracterização, podemos associar a fala contingente à existência e a fala necessária à essência.
A fala da existência é aquela da pele e do coração que pulsa, que ACONTECE, vai e vem: dela não se deve guardar mágoa. É um sentimento passageiro, é um fim em si. Aconteceu, já foi.
A fala da essência pretende demarcar um território e se origina na razão, ela PERMANECE. E dessa permanência causas são produzidas e todo um modo de orientação.

A fala da existência é um apoio para o dia a dia, é útil, mas não é importante. Não deve ser levada em consideração em qualquer análise mais ampla ou profunda. Quando visamos coisas importantes, um fim ou uma ideia séria e sensata, devemos nos ater à fala da essência e só dela poderemos fazer um juízo de valor.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Tzvetan, Pondé, Safatle

Folha, domingo - 09/03/2014: Tzvetan nos conta de sua mudança de atitude e de como as suas "preocupações sociais deveriam ressoar no seu trabalho".

Folha, segunda - 10/03/2014: Pondé na sua coluna se dirige aos filósofos críticos do comércio como maus filósofos (hein?!??).

Folha, terça - 11/03/2014: Safatle na sua coluna exalta a população carioca que aplaudiu os garis em greve.

Mas a filosofia não é conceito? Não é o desvelamento da razão??

Esses filósofos contemporâneos nos mostram que a filosofia está totalmente inserida na prática cotidiana e que talvez a busca da VERDADE tenha ficado no passado.

O "engajado" Tzvetan aponta o caminho: unir o conceito com o social, pensar a partir de um prisma e agir sobre este prisma.

O "niilista" Pondé faz uma crítica um tanto assoberbada aos colegas (de hoje e de ontem).

Mas o "belo" Safatle por hora esclarece: ao transformar a notícia, uma "simples" greve de garis e suas consequências políticas e sociais, cria o roteiro de um texto revelador: é nas pequenas coisas que o conceito brota. Ele faz a crítica e revela a verdade escondida nos detalhes.


sábado, 8 de março de 2014

Consumo

O consumo é o principal ato individual que rege o sistema capitalista, no que tange a nossa "possibilidade de escolha". Consumir é adquirir bens e serviços; consumir é escolher dentre possibilidades e ante capacidades financeiras.

Mas essa escolha é negativa. Não escolhemos porque queremos ou oque queremos.
Escolhemos porque somos obrigados pelo sistema capitalista e pela sociedade: a nos vestirmos, a usarmos tecnologias, etc.
Escolhemos a partir de opções dadas e não imaginadas ou criadas por nós.

Escolhemos uma criação alheia, de outro. Existe uma manipulação por trás da mercadoria, do produto. Ao mesmo tempo o produto abstrai o criador e ganha forma e autonomia. O consumo é movido pela mercadoria que fascina e domina.

E acreditamos que o conforto trazido pelo consumo vale essa liberdade condicionada.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Cavalidade

Conhecemos UM cavalo ou O cavalo? Conhecemos cada cavalo: um cavalo, dois cavalos, três cavalos, ou conhecemos o cavalo ideal?


O ser humano conhece conceitos, e aqui não importa se nascemos com eles ou se eles são adquiridos com a experiência.
Somente conhecendo UM cavalo não conhecemos CAVALO, precisamos conhecer outro cavalo (semelhante) para abstrairmos o conceito de cavalo (a cavalidade). Somente UM cavalo no mundo é uma coisa estranha.

Disso concluímos algumas coisas, dentre elas: não tomar o todo - a cavalidade (ou a humanidade...) - pela parte (podre) e que cada parte (cada cavalo) é composta de acidentes específicos da CAVALIDADE ideal. Cada parte é uma tentativa não perfeita, não realizável idealmente.

Daí que cada cavalo é contingente e só estamos certos, só temos conhecimento racional humano, conhecimento seguro da cavalidade: da essência.

O objeto de discussão do UM individual não deve ser tratado na esfera do conhecimento e, arriscamos dizer: não deve ser levado tão a sério. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Comunicação Virtual

Tudo o que é feito pela informática e pela computação é invenção do homem. Qualquer objeto dentro de um sistema de computador é um objeto artificial, referenciado comumente como virtual.

Mas existe algo de real no mundo virtual? Por exemplo: quando as pessoas se comunicam por mídias sociais, o que há aí de real?

A comunicação é artificial/virtual, baseada em bits e bytes. Mas, uma vez que uma mensagem é codificada e decodificada, ela se torna necessariamente artificial?

Então o jornal, o livro e a TV são artificiais, porque a linguagem é codificada em todos esses casos. A codificação é uma meta linguagem que permite a comunicação e que a torna artificial: virtual.

Talvez somente o que se fala e no momento que se fala seja algo real (natural), dentro desse limite de comunicação codificada.