domingo, 19 de outubro de 2014

Mauthner e o mundo fenomênico

Vamos fazer uma tentativa de análise pragmática de Mauthner baseada nos fenômenos, com a consideração de que se trata aqui de um pragmatismo negativo e não um pragmatismo positivo, de ação.

KANT


Coisa-em-si: substantivo - desconhecido (causa eficiente).
Relação entre coisas: verbo - desconhecido (causa final).
Fenômeno: adjetivo - qualidade que aparece.

O que está por trás da coisa-em-si kantiana? O limite da razão, do conhecimento. Só posso falar de fenômenos, embora me arrisque às vezes na coisa-em-si, ultrapassando o limite... E Mauthner? Sua intenção é recusar substantivo e verbo no uso da linguagem?

O mundo kantiano de fenômenos é um mundo "sem ação" (sen-S-ação..), porque é um mundo que "aparece", mundo de aparências. Fenômenos que aparecem são formas sem conteúdo, é uma forma sem ação.

Ao abolir substantivo e verbo da linguagem, abolimos a ação e ficamos presos em complexos sensíveis não determinados. Ficamos a mercê de complexos sensíveis em constante mutação.

No momento que uma qualidade sensível aparece como fenômeno, nesse momento temos um adjetivo. Mas o adjetivo é uma coisa extravagante que se deteriora - não permanece. O que podemos fazer com ele? Precisamos investigar.

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É a teoria do conhecimento que Mauthner atinge porque o que conhecemos nos chega pelos sentidos. É por essa via que o fenômeno deixa uma impressão em nossa alma. Mas chega subjetivamente porque essa decodificação é de cada um e está em cada um. Muito embora esse conhecimento seja intelectual, tal conhecimento intelectual somente pode ser posto intersubjetivamente por um acordo: porque aceitando as diferenças. Mas defendemos, em outro momento, o conhecimento pelo verbo: conhecimento instintivo e, talvez, o mais importante. Porque na hora da situação adversa um consenso acordado será desrespeitado pela via da necessidade e sobrevivência.

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O que se apresenta do caminho trilhado por Mauthner é a evolução de nossa espécie se adaptando às impressões impostas pelo mundo (darwinismo). Porque são os acidentes que se impõem a nós. Nesse sentido que a memória ganha importância, enquanto termômetro de sensações. A psicologia caminha paralelamente com esse contato com o mundo e é quando a evolução se fixa na busca do melhor caminho. Mas, parece que o melhor caminho é aquele irrefletido - sem juízo de valor.

Esse rastro de complexos sensuais e sensoriais cria uma herança humana que se baseia na memória e se expressa pela linguagem. Deslizemos nossa existência nos desviando de fenômenos indevidos.

Hannah: autoridade e conservação.

Na sua análise da crise da educação (1960), Hannah procura legitimar a autoridade daquele que ensina. A criança que vem ao mundo é uma vida nova no mundo (velho) e uma vida em formação.
Mas, que mundo é esse? Um mundo que a criança não conhece. Um mundo que a ela precisa ser apresentado, mas um mundo “perigoso”. A proteção é a casa, a propriedade (até para os adultos).

Nesse sentido, a criança precisa ser preservada do mundo. Dentro de casa, a vida em formação pode se desenvolver e se conservar (não perecer). Mas é o adulto que traz a novidade do mundo lá de fora para a criança. Hannah argumenta que a crise da educação advém de uma mudança no comportamento da sociedade, quando a autoridade passa a ser desconstruída e desconsiderada. Se foi a autoridade que sempre orientou e guiou, ao relevá-la, se releva a sua responsabilidade perante o mundo a ser por ela pilotado. Mas, ao abrir mão dessa autoridade, a sociedade não a pegou para si – o homem não se responsabiliza pelo mundo que está aí. E, como ficam nossas crianças? Sem a autoridade, quem se responsabiliza pelo mundo?

A escola tem esse papel: ponte para o mundo. É o professor quem apresenta o mundo para a criança. É a sua autoridade que pode guiar os passos da criança, que, só assim, protegida, se conserva e se desenvolve.

Mas a autoridade vale somente para a educação e para a criança !!! Entre adultos, autoridade é coerção, porque aí estamos no campo da política. A criança precisa ser resguardada da política porque não tem elementos cognitivos suficientes para tal. O homem deve enfrentar a situação política, livre da autoridade.


Autoridade: responsabilidade pela criança; coerção entre adultos.
Educação: conciliando o velho e o novo - o homem sempre é velho no mundo velho; a criança é nova no mundo novo-para-ela, velho-para-o-homem, precisa ser conservada para se desenvolver.

Fale Hannah:


• A educação não pode desempenhar papel na política, porque na política lidamos com os que já estão educados. Educar adultos é coerção.
• O que quer que o mundo adulto proponha de novo às crianças é mais velho do que elas mesmas. Cada geração se transforma no antigo: preparar uma nova geração para um mundo novo equivale a arrancar-lhes a oportunidade face ao novo.
• Velho mundo: admirável, mas não encontrou a solução.

sábado, 11 de outubro de 2014

Engatinhando na linguagem, filosoficamente

Mala: não existe a mala, existe uma mala que estou vendo agora. O nome se refere à coisa, mas não uma coisa específica, o nome se refere a uma coisa conceitual que, se existe, existe como uma forma em nosso pensamento.

Aquela mala, o que ela é? Eu não a conheço, eu a vejo porque ela aparece para mim como uma forma. Não conheço o seu conteúdo, a sua constituição. Ela é uma forma retangular e vermelha, ela ocupa um espaço. Mas consigo determinar que coisa é ela? E, sei também, que ela não é inexorável e que um dia vai se tornar alguma outra coisa qualquer.

Então, o que dizer dela? Uma coisa muito prática, para que ela serve, que pode ser muitas coisas e coisas diferentes para diferentes pessoas.

Substantivo, substância: no dicionário está cheio. Mas na realidade, cada coisa é uma coisa singular e desconhecida. O substantivo só é uma forma que eu crio para me relacionar com o mundo, ele só existe quando penso nele ou me lembro dele. Ou quando escrevo no papel. É uma representação vazia.

Adjetivo, qualidade: está em algo, caracteriza algo. Mas o vermelho da mala, aquela constituição pigmentada, não é sozinha: só é na mala ou em outra coisa. É uma pseudo substância, uma substância de nível inferior.

Verbo, ação: utilidade prática. A mala serve para guardar alguma coisa, para transportar coisas, para escorar a porta que pode bater com o vento. A mala não é uma coisa em si, ela é um composto de qualidades que aparecem em determinados momentos de uma determinada forma, de tal maneira que eu consigo identificá-la. Mas a mala só é mala pelo que se presta a ser e enquanto pode ser aquilo que se presta.

Ficaremos tateando na linguagem: o substantivo vazio, o adjetivo que neles aparece e o verbo que pragmaticamente faz. Parece melhor me orientar pela linguagem do verbo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Few words about marxism

With the capitalism, the job's kind has changed.

Men work in places that are not their places and where they are not familiar. Men produce objects that they don't know what they are.

When you see a factory's production line, it reminds you a Charles Chaplin film. A man participates in a little part of the whole and he doesn't see the totality. This is the alienation. The alienation of the job. The alienation of the job's result.

But, what's the job's result? It's the product, i.e., goods. A product is a strange object because it has a value. We can exchange it, exchange it by any other.

This value seems to be natural, but it isn't. This product with value is known as fetichism. But its value is produced by whom? It's produced by the labor of the man: the abstract labor... And everything can (and need to) be sold. Even our labor!!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Marx para jovens.

Qual seria o tema para uma boa aula introdutória de filosofia para o Ensino Médio? Poderíamos abordar os gregos, onde tudo começou? Tem assunto: os mais famosos Aristóteles, Platão (com diálogos bem interessantes e proveitosos) e Sócrates ou os marcantes: Parmênides e Heráclito e seus aforismos, dentre tantos outros. Ali ainda havia uma visão de mundo, digamos, mais romantizada. Damos um salto e poderíamos abordar em linhas gerais um dos dois expoentes da Igreja: Santo Agostinho ou São Tomás. O último, tarefa difícil. Isso sem falar no ceticismo que por aí perpassa, com Ockham, entre outros (assunto bem específico).

Mas eis que surge o modernismo e o método de Descartes, a utilidade de Bacon, a revolução copernicana, a monadologia leibziniana, o empirismo de Hume e.... Kant !! Que chega em Hegel !! Por aí há muitos... Há o iluminismo, Rousseau e seus discursos, a política de Hobbes. Tarefa interessante, mas difícil, seria falar um pouco da fenomenologia de Husserl e a crise das ciências, ou falar do positivismo, o círculo de Viena, o pragmatismo de Peirce. Do século passado, poderíamos abordar muita coisa: a teoria crítica, o existencialismo de Sartre, a filosofia da linguagem, etc.

As possibilidades são vastas e meu conhecimento escasso e superficial. Mas precisamos preparar uma aula para os jovens. E o que falar para eles? Como primeiro contato na filó, creio não ser interessante algo muito abstrato, teórico ou complexo demais. Nem específico e detalhado. Uma boa visão geral seria importante, mas também ideias que possam ser aplicadas, porque o jovem faz, por natureza. Ele é ativo. E o jovem contesta, também. Nesse sentido, por que não educar? Instruir e formar...

Daí Marx, porque questiona o sistema dado. Todo filósofo reflete sobre a realidade e propõe uma teoria. Mas Marx é mais concreto. E o sistema que ele questionou se perpetua até hoje e, vamos lá: cada vez mais forte. Nossa proposta é sentar junto com o jovem e aprender. Nossa proposta é estudar
Marx e o entender, entender o que for possível de sua filosofia (embora existam certas teses de que ele rejeita a filosofia). O materialismo histórico, a luta de classes, a ideologia de dominação, a alienação e a segunda natureza do trabalho, o fetichismo da mercadoria, as relações de produção e forças produtivas. Quanta coisa !!!

Vale a pena, para uma primeira tarefa, tratar da alienação: situação que ilude o sujeito de tal maneira e a tal ponto de transformá-lo em objeto do sistema. Sistema de mercadorias dotadas de valor, e o homem coisificado. Creio que promete...