sábado, 27 de junho de 2015

A Morte

Estejamos tranquilos: há sempre um novo saber, há sempre coisas a fazer. Não precisamos ter pressa, nem tanta calma... O dia a dia é um fazer enquanto seja possível (ou permitido). É um conhecer o que for possível. Esses atos, fazer e conhecer, são atos que acontecem agora, é sempre agora.

Por outro lado, há uma potência no futuro, mas uma potência totalmente desconhecida. Gostaríamos de delimitar um campo de ação que supere a morte. É possível? Um agora um pouquinho para a frente e um pouquinho trás. Viver em pequenos ciclos fechados, viver por bolas. Começa ali atrás, vai ascendendo e termina logo na frente, para começar de novo.

Sempre há um novo começo porque sempre há um novo saber e um novo conhecer. Estejamos tranquilos com o agora.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Filosofia como objeto

  Pobre Filosofia, colocada na balança dos homens, anjo caído. Não foi essa a filosofia que conheci. Eu conheci uma filosofia de libertação, de inversão. A filosofia que conheci invertia o real. Que bela!
  Me enamorei daquela filosofia porque ela não me cobrava nada. Conheci uma filosofia que me enfeitiçou e, tão enfeitiçado fiquei, que fui além, fui ver o que havia do outro lado. E qual não foi meu susto? Do outro lado havia gente, gente desamparada.
  Ah filosofia... Isto você não havia me dito! Ou eu que fui inocente? Você se entrega para poucos, mas me seduziu! Eu pensei que poderíamos ficar somente nós dois, vivendo um amor eterno. Imaginei que conseguiria me esconder do mundo, escondido atrás de ti.
  Mas, de tanto querê-la, dei mais um passo: passo fatal. Porque descobri que você me traia, me iludia. Ao não me deixar ver o mundo, você não me deixava que te mostrasse ao mundo. Mundo que poderia e vive sem você. Mas você vem desse mundo. Há uma boca que fala de você, há um fluxo que jorra você. Há uma mão de carne e osso que te escreve. E eu não queria ver tudo isso. Eu estava encoberto pelo véu de maia. Assim, fui indo, andando ao Deus dará, procurando... Doce filosofia, enfim, você me libertou. Porque você não é de ninguém, você é só de você mesma, você se acaba em si mesma. Você é redonda, não sabemos nem por onde começar a te conhecer, quanto mais se  um dia terminaremos.
  Quando o encanto se quebrou descobri um mundo ansioso, carente, potencialmente infinito. E triste, doloroso, injusto. A composição material, nossa e desse mundo, é muito falha. Cada corpo se perde num em si e clama um para si. Cada corpo é um polo objetivo incapaz. Ele atrai, mas não quer ser traído.
  Caminhando nas ruas esbarramos em corpos, trombamos com corpos, chutamos corpos. A rua é uma coleção de corpos mutilados, corpos que flanam ao sabor do vento. Aquele ventinho batendo na folha seca que resiste. A rua é um amontoado de tristeza incerta. Quanto sofrimento pelas ruas! Quanta desilusão. Não filosofia, você não é Deus, você não é santa, você vem dos homens. Mas você é o outro lado da locomotiva, é o lado de fora, é o verde das matas e dos morros, é o azul do céu, é o amarelo do sol. É o branco do meu olho cego. Aonde essa porta vai me levar? Posso abrir? Devo abrir?

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Aula conceito: Metafísica.*

            1.      Tema: A reflexão no dia a dia
Com o crescimento da tecnologia e dos meios de comunicação, nossa vida está cada dia mais corrida, cheia de regras e convenções. Tudo tem horário e tem que ser calculado, tudo tem que ter utilidade. Temos muitas obrigações e compromissos. Temos que trabalhar, temos que ir à escola, temos que ir para a faculdade, pegar ônibus, pagar as contas, cuidar dos filhos.
Nessa correria do dia a dia, não paramos muito para pensar na nossa vida e no mundo, só pensamos no que acontece à nossa volta, mas não refletimos sobre essas coisas. Assim, só percebemos a realidade aparentemente porque não temos tempo, nem disposição para entendermos o que está por trás das coisas.

2.      Problematização: Dá para ir além das aparências?
Mas, precisamos refletir sobre o que está por trás da realidade? Por quê?  Por que não basta apenas fazer as nossas atividades do dia a dia e que temos que fazer?
Refletir ajuda a pensar. Quanto mais pensamos, mais podemos descobrir novas coisas, podemos ir além.
Muitas vezes, nos deparamos com problemas que não sabemos como resolver. Se fizermos o básico e não refletirmos sobre o mais difícil, ficaremos sempre fazendo o básico. Quando tentamos buscar explicações, caímos em dificuldades, mas, se as dificuldades forem superadas, poderemos descobrir novas coisas. Podemos buscar explicações mais profundas e mais detalhadas.
Por exemplo, por que estamos aqui, agora, assistindo aula? Por que isso é necessário para conseguirmos passar de ano? Por que estamos interessados em aprender mais? Por que aprendendo mais podemos descobrir novas coisas? Qual a causa, o que está por trás disso?
Realizamos nossas atividades e ações porque somos motivados por determinadas causas, mas muitas vezes não paramos para pensar quais são essas causas. Não percebemos o que está por trás das coisas. Não buscamos explicações. Quando agimos dessa forma, somos pragmáticos. Daria para ser de outra forma?
De acordo com Aristóteles, sim. Podemos parar para pensar e refletir sobre o que está além da nossa vista e pensar porque na nossa vida os acontecimentos são de um jeito ou de outro.

3.      Investigação: A metafísica – Surgimento[1]
A filosofia grega elaborou conceitos para instrumentalizar a razão no esforço de compreensão do real. Entre as diversas e importantes contribuições do pensamento grego, destaca-se o caminho percorrido por Parmênides, Platão e Aristóteles na busca dos conceitos que explicassem o ser em geral e que hoje reconhecemos como sendo o assunto tratado pela parte da filosofia denominada metafísica.
O termo metafísica surgiu no século 1 a.C., quando Andronico de Rodes, ao classificar as obras de Aristóteles, colocou a Filosofia primeira depois das obras de Física, Meta Física, ou seja, "depois da Física". De qualquer forma, nada impediu que esse "depois", puramente espacial, fosse considerado "além", no sentido de tratar de assuntos que transcendem a física, que estão além dela porque ultrapassam as questões postas a partir do conhecimento do mundo sensível. A filosofia primeira não é primeira na ordem no conhecer, já que partimos do conhecimento sensível, mas a que busca as causas mais universais (e, portanto, as mais distantes dos sentidos) e que são as mais fundamentais na ordem real.
A metafísica trata da parte nuclear da filosofia, onde se estuda "o ser enquanto ser, isto é, o ser independentemente de suas determinações particulares”. É a metafísica que fornece a todas as outras ciências o fundamento comum, o objeto ao qual todas se referem e os princípios dos quais dependem. Ou seja, todas as ciências referem-se continuamente ao ser e aos diversos conceitos ligados diretamente a ele, tais como quantidade, oposição, diferença, gênero, espécie, todo, parte, perfeição, unidade, necessidade, possibilidade, realidade etc. Mas nenhuma ciência examina tais conceitos, portanto consideramos que o objeto da metafísica consiste em examinar o ser e suas propriedades.
Assim, o ser da matemática são os números, as figuras geométricas, etc., o ser da física são os fenômenos que ocorrem na natureza, o ser da medicina são os corpos humanos, o ser da biologia são os animais e os seres naturais e o ser da metafísica é o ser enquanto ser, o ser enquanto ser existente. Busca a essência do ser que existe, por exemplo, o que é o corpo humano, qual a sua essência? O número 5 existe na natureza? Qual a diferença do homem e do animal?[2]

4.      Questões e comentários
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Turma:

1.      De acordo com o texto, no surgimento do conceito da metafísica, quais das opções abaixo não seriam suas tarefas?
(a)    Buscar as causas mais universais e que são as mais fundamentais na ordem real.
(b)   Buscar as descrições particulares dos seres.
(c)    Buscar os conceitos que explicam o ser em geral.
(d)   Buscar a descrição do sensível, das características básicas dos serem que estão no mundo real.
(e)    Buscar os fundamentos comuns que seriam utilizados por todas as outras ciências que se referem os seres do mundo real.

2.      A metafísica inventada por Aristóteles busca ir além da física. A física explica os fenômenos que vemos na natureza, a metafísica busca explicações mais gerais sobre os seres, busca a reflexão. Você acha que refletindo podemos ir além das aparências? Você acha que buscando explicações podemos descobrir novas coisas?

3.      Qual o grau de dificuldade de 1 (fácil) até 5 (difícil) dessa atividade? Comente porque foi fácil ou difícil.

4.      O que você achou dessa atividade? Foi possível aprender o conceito de metafísica de Aristóteles e entender o que ela estuda diferente das outras ciências?




[1] O texto base da Metafísica foi extraído do livro: ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 1993.
[2] CHAUI, Marilena. Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2001.

* Regência da disciplina Metodologia de Ensino em Filosofia – Junho/2015. Procurar seguir orientações de Silvio Gallo da Oficina de Conceitos: Sensibilização, Problematização, Investigação e Conceituação.
- Essa proposta de aula com sensibilização só foi possível após orientações do prof. Paulo Henrique Fernandes Silveira.