Primeira
Lição (estudos sobre a histeria): Parece um quadro grave
fatal, mas é histeria, desde os gregos. E, na época de Freud, o médico não sabe
como tratar e despreza o histérico. Há o uso da hipnose para
reproduzir estados de ausência. A paciente de Breuer tinha sede e não bebia
água e ele descobriu que os sintomas se originavam de experiências emocionais,
traumas psíquicos a partir de um tratamento reconstituindo cenas.
Os histéricos sofrem de reminiscências. São símbolos traumáticos, como os
símbolos de uma cidade, que fazem com que neuróticos e histéricos se prendam ao
passado não vivenciando o presente e a realidade. Há então que se considerar o elemento de subjugar fortes emoções que são descarregadas na cura (tem que ser
assim). Conversão histérica é a inibição
somática como sintoma físico do caso. Expressão
das emoções é a parte da excitação psíquica que vai para inervação
somática. Além disso, o doente tem vários estados mentais que podem ser agrupados e
separados ou trazidos pela hipnose (ex. normal, confusão, alteração de
caráter), agrupamentos independentes, e a consciência oscila entre consciente e
inconsciente. Inconsciente (da hipnose) pode influenciar no consciente... A teoria dos estados hipnoides de Breuer
onde aparecem sintomas histéricos já é uma teoria abandonada em 1909.
Segunda
lição (psicanálise): Se, por um lado, a primeira doente
de Breuer foi curada pelo tratamento catártico a partir dos mecanismos
psíquicos dos fenômenos histéricos, na França concebia-se que a dissociação psíquica era resultado da
incapacidade de síntese mental do doente. Freud via de outra forma a
dissociação histérica e,
a despeito da hipnose que ele passa a considerar processo enfadonho e difícil de
ser obtido, senão mítico, busca o procedimento catártico independente dela, com
o doente em estado normal. Freud incitava o doente a revelar a cena patogênica originária que estaria
relacionada ao sintoma, colocando a mão na fronte dele. Se a lembrança não
havia se perdido, havia uma força que a mantinha no estado inconsciente. O processo de repressão se baseia em forças de resistência que agem tanto
para expulsar da consciência o acidente patogênico como para não permitir que
ele volte à consciência. O que causava essa repressão era o surgimento de um
desejo violento incompatível com a ética do sujeito e, do conflito entre ego e
ideia, essa era expulsa da consciência por essas forças repressoras que
evitavam o desprazer de tal desejo. O desejo reprimido no inconsciente procura
um substituto, ou sintoma, que tenta voltar à consciência e é protegido pelo
ego para evitar o desprazer, causando grande sofrimento. Reprime-se o desejo e colocam-se resistências
para que o incômodo não se repita, ou seja, a psique joga para o inconsciente o
problema, ocorrendo a divisão psíquica com a consciência e o conflito dessas
forças mentais contrárias. O eu se esforça para se defender de recordações
penosas.
Caberia ao médico, na terapia psicanalítica da neurose, acomodar aquele desejo
no quadro consciente do paciente restituindo o que fora reprimido pela quebra
das resistências, resolvendo-se o conflito psíquico que era protegido pela
repressão. No final das contas, ou se aceita o desejo ou o controla.
Terceira
Lição (recursos técnicos): Nem sempre é certo que o primeiro
pensamento traz a inadvertida lembrança, apareciam pensamentos inexatos e
lamento do abandono do hipnotismo. Pelo conflito do doente em trazer o
esquecido e a resistência, a ideia trazida por ele era um sintoma, substituição
da ideia procurada e poderia seguir-se por ela. Situação análoga é o chiste, a
pilhéria. Ela também é uma alusão, substituto do que está no íntimo, algo o
impede de dizer francamente. Produz uma ideia de substituição distorcida.
Escola de Zurique, Bleuler, Jung, conceito de complexo: elementos ideacionais
interdependentes, associações livres por onde se pode buscar o complexo
reprimido. Processo fastidioso de descobrir o elemento reprimido. Esperar
ideias livres aparecerem. Pedir ao paciente para expor tudo. O doente rejeita o material
como insignificante por causa da resistência, experiência da associação usada
por Jung. Além da divagação, há dois outros recursos técnicos para sondar o
inconsciente: a interpretação dos sonhos e o estudo dos atos e lapsos causais. A
interpretação dos sonhos é a estrada real para o conhecimento do inconsciente,
base da psicanálise. Parece alienação, mas é compatível com a mais perfeita
saúde. Psiquiatras contra o método. Desprezamos os sonhos como o doente
despreza as ideias soltas despertas pelo psicanalista. Nas criancinhas e nos
adultos os sonhos visam realizar os desejos não satisfeitos no dia do sonho.
Embora os sonhos pareçam ininteligíveis pelas forças de resistência de defesa
do ego, há neles um conteúdo latente existente no inconsciente. Não reconhecemos
o sentido dos sonhos como o histérico não reconhece a correlação dos seus
sintomas. A investigação busca o nexo entre o conteúdo latente e o
manifesto, que visa à realização dos desejos não satisfeitos. A elaboração
onírica é o processo que permite estudar os dois processos psíquicos que se
passam no sonho, consciente e inconsciente, divisão semelhante à deformação que
transforma em sintomas os complexos cuja repressão fracassou. No sonho do
adulto também se esconde a criança, trazendo suas diferentes disposições. Pela
análise dos sonhos também se descobre a representação de complexos sexuais pelo
inconsciente por trás de nossos mitos e lendas. Mesmo os pesadelos podem ser
explicados como uma reação do ego contra desejos reprimidos violentamente, a
ansiedade. O terceiro recurso técnico é a interpretação de atos falhos, lapsos e
atrapalhações corriqueiras que exprimem impulsos e intenções que deveriam ficar
ocultos à consciência e testemunham a existência da repressão e da substituição
dos desejos inconscientes. Por meio dessas técnicas, então, é possível fazer
com que a consciência chegue ao material psíquico patogênico que causa os
padecimentos da produção de sintomas de substituição.
Quarta
Lição (sexualidade infantil): a psicanálise revela uma
estreita associação entre os sintomas mórbidos e a vida erótica do doente que
influencia nos fenômenos de repressão e formação de substitutivos ressaltando a
importância da etiologia sexual no tratamento. Se há dificuldades para manifestação
da intimidade sexual, o paciente deve estar a vontade para formar juízo do
problema. O exame psicanalítico mostra que é preciso retroceder até a infância para
trazer de volta a consciência os desejos reprimidos que expliquem os
traumatismos atuais, como no caso dos sonhos, revelando que há, sim, instintos
e atividade sexual infantil. Não é na adolescência, as crianças já sentem emoções
intensas e se enamoram na tenra idade dos três anos, instintos complexos desmembrados
em componentes de origem diversa. A criança se vale de um autoerotismo e busca sensações agradáveis em partes do corpo excitáveis,
as zonas erógenas, se utiliza da masturbação
que pode carregar pela vida e não associa o sexo à procriação, como os adultos.
Revela-se na criança, também,
componentes da libido que pressupõe objeto ou pessoa estranha e podem ser
instintos ativos (será a sede de saber) e passivos (será arte e teatro) como os
relacionados ao sofrimento: o sadismo e o masoquismo. Mas, se na criança a conquista
do gozo se dá de maneira desordenada por impulsos independentes, ela vai se
condensar na zona genital como preparação para o ato sexual de propagação da espécie
e repelindo o autoerotismo pela satisfação na pessoa amada, formando o caráter sexual
definitivo ao final da puberdade. Porém, nesse processo, instintos são reprimidos
na vida sexual pela educação ou a moral, como os prazeres coprófilos.
E o desenvolvimento da função sexual pode apresentar incidentes e gerar distúrbios:
impulsos parciais que não se submetem à soberania da zona genital são transformados
em perversão que substitui a vida sexual normal; o autoerotismo pode não ser
superado; pode conservar-se a equivalência primitiva dos sexos levando à
homossexualidade. Como as perversões mantêm os complexos e formam os sintomas,
as neuroses, por outro lado, firmam-se no inconsciente apesar da repressão. Então, a perversão se liga à neurose e a vida
sexual somática da criança, mas também psíquica. A primitiva escolha da criança
pelo objeto de desejos eróticos dirige-se primeiramente aos genitores que,
nesse sentido, estimulam as crianças: se a mãe tem preferência pelo filho e o
pai pela filha, aquele reage desejando o lugar do pai, assim como a menina,
gerando sentimentos de hostilidade que serão reprimidos, mas continuarão a agir
no inconsciente como complexo nuclear de cada neurose. Antes
do complexo ser reprimido a criança ainda formula diversas teorias sexuais
infantis que não se acabam por falta de conhecimento e podem interferir na formação
do caráter da criança e na neurose. O modelo usado na primeira escolha amorosa
se referindo aos pais será usado para pessoas estranhas na escolha definitiva
por isso a criança deve se desprender dos pais e cumprir sua função social.
Livre da repressão que seleciona os impulsos parciais da vida sexual e da repressão
dos pais, deve-se priorizar o trabalho educativo que pode ser realizado pelo
tratamento psicanalítico para vencer os resíduos infantis.
Quinta
Lição (a cura): Sendo os componentes eróticos instintivos os
sintomas das neuroses, nota-se que os indivíduos se refugiam na moléstia pela
falta de satisfação sexual na realidade, buscando satisfação substitutiva. A
cura passa por retirar do ego do doente a repressão e verificar se a realidade
oferece satisfação melhor que o estado patológico que traz o prazer imediato
que remonta a satisfação causada na infância, seja temporalmente a libido
retornando ao passado e formalmente usando os meios psíquicos de outrora. Se a
vida pressiona e reprime e a realidade é insatisfatória, busca-se a fantasia
para realização dos desejos e obtenção do gozo. A neurose passa por essa regressão
à vida infantil para reavivar os desejos, embora pessoas com dotes artísticos transformem
sintomas em criações artísticas que podem reatar a ligação com a realidade. Os
mesmos conteúdos psíquicos dos neuróticos encontram-se nos sãos, porém em
quantidade ou proporção diferentes. Mas é no processo de transferência, que o paciente estabelece com o médico e
que provém das fantasias tornadas inconscientes, que o doente se dá conta dos
sentimentos sexuais que aí se elevam e se transformam em outros produtos psíquicos.
Opondo-se a psicanálise, teme-se que os instintos sexuais reprimidos ao serem
trazidos à consciência possam entrar em conflito com a moral do sujeito e causar
mais sofrimentos, porém a destruição do caráter civilizado pelos impulsos liberados
da repressão é impossível, já que era inconscientemente que eles se
manifestavam com mais força. Tais desejos se tornam inofensivos à vida do
indivíduo seja pela ação mental de sentimentos contrários dominando o que lhe é
hostil; seja fazendo utilização conveniente dos impulsos inconscientes no
processo de sublimação, permutando os
fins sexuais por outros de maior valor social; seja satisfazendo parte dos
desejos libidinais reprimidos já que a civilização não pode negar a felicidade
individual e nem nos fazer desviar o instinto sexual de sua finalidade própria.