Como
Russell nos mostrou até agora[i],
o conhecimento das coisas existentes e que adquirimos pela nossa experiência
nos limita e ampliar esse conhecimento passa pela inferência (p.ex. sabermos
que o barulho do trovão é sempre precedido por um raio, etc.). A respeito do sol
que nasce todo dia, Russell se pergunta se confiar que ele nascerá novamente
amanhã é um resultado cego do que vemos diariamente ou poderia ser uma crença
razoável.
Ele
argumenta que é plausível supor que o sol nasça amanhã porque nasce todos os
dias (resultado cego), mas podemos inferir essa crença das leis do movimento da terra, dos astros,
etc., leis essas em que confiamos porque sempre aconteceram (crença razoável). Ou seja e ainda assim, a
probabilidade do sol nascer amanhã se basearia nas nossas observações diárias e,
por isso, coisas que ocorrem
frequentemente seriam a causa para que acreditemos que continuem ocorrendo
frequentemente, embora possam ser enganosas, às vezes. Nesse sentido,
Russell cita o inusitado caso do frango que sempre foi alimentado diariamente
por seu dono até que teve seu pescoço torcido. Então, não estaríamos na mesma
posição desse frango? Que certeza nós teríamos para esperar que tais eventos
ocorram?
A
pergunta se volta se podemos crer nessa uniformidade
da natureza, onde há leis gerais como as leis do movimento e a lei da
gravidade que são usadas pela ciência e tomadas como “sem exceção”. Elas se mostram válidas
até agora, mas podemos crer que o que houve no passado continuará a ocorrer, por
alguma razão específica? Haveria uma lei garantidora do futuro que não o
próprio passado (que já foi futuro...)? Há garantias de que duas coisas que
normalmente estão associadas continuarão a estar? A partir dessas perguntas, Russell diz: “On our answer
to this question must depend the validity of the whole of our expectations as
to the future, the whole of the results obtained by induction, and in
fact practically all the beliefs upon which our daily life is based.”
Logo, estamos no terreno da probabilidade que, se pode sempre aumentar, nunca é certa já que o último exemplo pode ser
uma falha (lembremos do frango!!). Russell, então, define o princípio da indução
baseado na frequência da associação em que, se elevando a probabilidade, pode
chegar à certeza. E do particular ele formula a regra geral:
“(a) The greater the number
of cases in which a thing the sort A has been found associated with a thing the
sort B, the more probable it is (if no cases of failure of association are
known) that A is always associated with B;
(b) Under the same
circumstances, a sufficient number of cases of the association of A with B will
make it nearly certain that A is always associated with B, and will make this
general law approach certainty without limit.”
Essa probabilidade, conclui Russell, se assenta em um conjunto de dados verificados e novos dados não a invalidam, mas criam um novo quadro. Apesar disso, se o princípio da indução não é garantidor
do futuro, ele é um grande aliado nas convicções diárias pois as leis gerais, a
despeito das inúmeras evidências, por si só nada dizem sobre o futuro, se não se assentarem
em tal princípio.
* Bertrand Russell, Problems of Philosophy. ON INDUCTION. Acessado em 28/05/2019:
http://www.ditext.com/russell/rus6.html.