sábado, 21 de novembro de 2015

Nossos valores

Semana passada o Estado Islâmico andou barbarizando na França. Mataram gente em casa de shows e restaurantes finos. Na TV Globo, a manchete foi que nossos valores foram atingidos. O presidente francês também falou de valores (liberdade, igualdade e fraternidade) e tantos outros. Mas, quais são nossos valores?
O que eles estavam querendo dizer é que há uma ideia de que o ocidente compartilha valores e que eles deveriam ser defendidos e cultivados. Haveria esse caldo de cultura que abrange principalmente Américas e Europa. Haveria a ideia de que devemos nos confraternizar, festejar a vida, sorrir. Deveríamos ser felizes e usar nosso tempo em atividades culturais que nos educam, em uma boa gastronomia, em atividades prazerosas de lazer. E, que mal há nisso? Nada de mais em aproveitar um pouco. Mas quantos aproveitam? Quantos podem aproveitar? Há sempre alguém nos servindo. Esse caldo de cultura se mantém as expensas de outrem. E assim é a cadeia alimentícia, manda quem pode, obedece quem tem juízo. E quem desfruta?
Aparentemente, todos podem desfrutar guardadas suas proporções, guardadas as diferentes realidades e condições financeiras, principalmente. Talvez possamos desfrutar com menos dinheiro, talvez a qualidade não esteja necessariamente atrelada ao luxo, bonança, fartura, enfim. O ser humano enquanto tal deseja confraternizar ou, senão, aprende isso. Devemos gozar. Valores a parte, então, deveríamos valorizar os nossos e tolerar o dos outros, pelo menos. E prezar para que todos tenham. 
Mas, não é o que se verifica. Há um liberalismo muito arraigado contemporaneamente. Eu trabalho, eu ralo, eu ganho o meu e devo defender o meu. É sagrado para mim e pauto a minha vida por isso. O social vale enquanto bem sintonizado com meus valores. Felicidades aos meus, e proteção. Quero os meus felizes e sorrindo, quero minha segurança e andar em paz. Valores... Valores. Nossos valores são individuais, nossos valores valem para os nossos. Por trás do sorriso gostoso há uma guerra sendo travada para assegurar que o sorriso gostoso esteja garantido. Essa guerra é tácita e silenciosa, essa guerra é pelos nossos valores, doa a quem doer.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Considerações sobre esse blog

Estamos adentrando o ano III do blog, mas não é por isso que ele é o assunto dessa reflexão. É importante revisitar, revisitar não é retroceder, mas rever, talvez retomar um sentido. Recordar é viver.  Esse blog começou lá nos idos de 2013 como forma de organizar os escritos digitalmente. Sempre há um papel aqui e acolá, sempre há um papel perdido. No digital, teoricamente, nada se perde... Assim, o pensamento disposto segue sua lógica [ou a falta dela], o pensamento flui e exprime o que se vê, o que se sente, o que pede passagem.
"Reflexões do Filósofo (de rua)" não são reflexões filosóficas, embora possam porventura ser porque se tratam de reflexões de um projeto de filósofo (ainda estudante, embora o diploma ou não nada signifique quanto a ser ou não filósofo). "De rua" é só por uma não pretensão acadêmica. "De rua" é para estar livre de regras e normas (embora sempre procurando citar as fontes, a não ser em um uso inconsciente ou ignorante). "De rua", então, é porque não há um compromisso com o fazer acadêmico formal e nem mesmo com seu conteúdo. A filosofia acadêmica é uma ciência e, como tal, exige. Há a necessidade de uma base, um repertório, o domínio dos procedimentos, das correntes, da história, etc. Não é esse o caso aqui...
De fato, sempre interessou a esse blogueiro textualizar. Começou com as redações de escola, passou por poesias até chegar a reflexões. Sempre textos curtos porque a preguiça é amiga da pena, nesse caso. A redação era sempre uma dissertação ou narração sobre um tema dado - normalmente algo real ou que revertesse à realidade. Mas a redação visa àquela estrutura início, meio e fim. A poesia extrapolou para o outro lado, sempre tendo um mote e uma rima, ou uma forma. Até que apareceram as reflexões. Elas eram amuletos, eram reclamações, punições, confissões, mas, mais do que tudo, eram emanações sentimentais. Do que se passa a esse blog feito de reflexões que de certa forma remetem a algum conceito, uma dedução qualquer ou mesmo a tentativa de vasculhar os aspectos técnicos da filosofia, de forma livre. Há resenhas, sim, às vezes fala-se do mundo, reclama-se e há espaço para a retórica, enfim. Mas, porque escrever?
Uma pergunta é uma das coisas mais incompletas desse mundo porque nunca há uma reposta única e certa. Por que escrever? Talvez não haja um por que. Tem que ter? Vê-se que a reposta se transformou em pergunta... Estamos nesse mundo de passagem, sem bem saber o porquê e procurando ou não um sentido. Explicação nunca se terá todas. Enquanto eu estiver aqui vivo sempre faltarão respostas. É acreditar em algo, ter uma fé, buscar algo, simplesmente viver. Arrumar problemas e problemas para não pensarmos nas explicações. Dar contribuições para a sociedade ou não. Mendigar, viver na rua - burlar a lei, torcer a lei, negar a lei. Tem tanta coisa para fazer, não??? Tem escrever. Não sei se tem utilidade ou se deve ser útil, mas sabemos pouco. Não há um sentido declarado, é necessário viver, de alguma forma, da forma que for possível.