sexta-feira, 6 de julho de 2018

Nosso Neymar


O Brasil é Neymar e Neymar é o Brasil. Se já éramos o país do futebol [de Pelé] então continuamos a ser o país do futebol [de Pelé e Neymar e tantos outros], assim como os Estados Unidos são o país do time dos sonhos do basquete e Cuba o país do boxe.  É copa do mundo de futebol e os especialistas no assunto olham para as seleções dos países participantes, mas tanto se fala de Neymar. Para o bem e para o mal, reforçando nosso sempre desgastado julgamento maniqueísta. E seguimos sendo o país do futebol.
É marcante como o futebol do Brasil inspira sentimentos por todo o globo e tal fato não é ocasional já que somos um dos melhores, senão o melhor. Ao longo da história, já tivemos muitos times que encantam, já ganhamos muitos campeonatos e exibimos um futebol alegre, envolvente e, às vezes, pragmático. A camisa amarela, que por um momento foi usada como símbolo de protesto para a derrubada de nossa presidenta, é a camisa usada por muitos, é uma camisa que conquista. E Neymar é o Brasil.
Neymar é o Brasil com sua ginga, improvisação e criatividade. O “jeitinho” brasileiro não é, necessariamente, a transgressão, mas um modo de ser, uma possibilidade de vitória. Neymar pensa rápido e é ligeiro e nosso jeitinho pode e deve ser responsável e ético, dentro das regras do jogo. Somos assim, fazemos samba como ninguém, jogamos capoeira, driblamos os problemas do dia a dia com ousadia.
Neymar é o Brasil da foto, o Brasil que se mostra. Somos grandes consumidores de mídias sociais, gostamos de compartilhar vídeos, mensagens, piadinhas. Neymar é um camaleão, de cabelo amarelo, cabelo raspado, todo tatuado. O jogador famoso que namora a atriz famosa, o rico amado pelos pobres e pela classe média, o rico odiado pelos pobres e pela classe média.
Neymar é a nata. Nesse país desigual, poucos têm muito e muito tem poucos. País de funk ostentação. Neymar tem muito, seu talento lhe deu isso é uma herança. O Brasil é o país da herança, da tradição que passa de pai para filho, das famílias abastadas. País da seletividade e de uma meritocracia utópica, já que só há mérito em iguais condições de possibilidade.
Neymar é o Brasil autoritário e conservador. Nossas autoridades e instituições ainda se destacam pela truculência, por imposições à sociedade. Neymar acossa juízes de dedo em riste, xinga os adversários, passa por cima. No Brasil o coronelato persiste forte, minorias são desrespeitadas, ativistas são assassinados. Cala-se o outro.
Neymar é o jogador do futuro. Os maiores são Messi e Cristiano Ronaldo, mas Neymar está ali, na sombra, quase chegando. O Brasil é o país do futuro, às vezes parece que vai, avança, mas de repente tem uma recaída e como retrocede! O que falta a Neymar? O que falta ao Brasil? O que queremos afinal? Ser um time que brilha um jogador que brilha? Ser um país que brilha ou uma elite que brilha? Queremos jogar bonito e dentro da lei? Queremos um povo educado e solidário, queremos um país justo?
Não importa isso agora, hoje é o Brasil em campo, a pátria de chuteiras, tudo para, todos veremos. Veremos Neymar entre a cruz e a espada, Neymar tentando vencer seus medos, suas fraquezas e o adversário. Ele pode e é capaz, do jeito certo. Porém, amanhã, seremos o país da eleição, que precisa decidir o caminho a seguir. A história de nossa democracia de 30 anos nos mostra muita coisa, saibamos aprender.
Vai Neymar!! Vai Brasil!!