O
Brasil é Neymar e Neymar é o Brasil. Se já éramos o país do futebol [de Pelé] então
continuamos a ser o país do futebol [de Pelé e Neymar e tantos outros], assim
como os Estados Unidos são o país do time dos sonhos do basquete e Cuba o país
do boxe. É copa do mundo de futebol e os
especialistas no assunto olham para as seleções dos países participantes, mas
tanto se fala de Neymar. Para o bem e para o mal, reforçando nosso sempre
desgastado julgamento maniqueísta. E seguimos sendo o país do futebol.
É
marcante como o futebol do Brasil inspira sentimentos por todo o globo e tal
fato não é ocasional já que somos um dos melhores, senão o melhor. Ao longo da
história, já tivemos muitos times que encantam, já ganhamos muitos campeonatos
e exibimos um futebol alegre, envolvente e, às vezes, pragmático. A camisa
amarela, que por um momento foi usada como símbolo de protesto para a derrubada
de nossa presidenta, é a camisa usada por muitos, é uma camisa que conquista. E
Neymar é o Brasil.
Neymar
é o Brasil com sua ginga, improvisação e criatividade. O “jeitinho” brasileiro
não é, necessariamente, a transgressão, mas um modo de ser, uma possibilidade
de vitória. Neymar pensa rápido e é ligeiro e nosso jeitinho pode e deve ser
responsável e ético, dentro das regras do jogo. Somos assim, fazemos samba como
ninguém, jogamos capoeira, driblamos os problemas do dia a dia com ousadia.
Neymar
é o Brasil da foto, o Brasil que se mostra. Somos grandes consumidores de
mídias sociais, gostamos de compartilhar vídeos, mensagens, piadinhas. Neymar é
um camaleão, de cabelo amarelo, cabelo raspado, todo tatuado. O jogador famoso
que namora a atriz famosa, o rico amado pelos pobres e pela classe média, o
rico odiado pelos pobres e pela classe média.
Neymar
é a nata. Nesse país desigual, poucos têm muito e muito tem poucos. País de
funk ostentação. Neymar tem muito, seu talento lhe deu isso é uma herança. O
Brasil é o país da herança, da tradição que passa de pai para filho, das
famílias abastadas. País da seletividade e de uma meritocracia utópica, já que
só há mérito em iguais condições de possibilidade.
Neymar
é o Brasil autoritário e conservador. Nossas autoridades e instituições ainda se
destacam pela truculência, por imposições à sociedade. Neymar acossa juízes de dedo
em riste, xinga os adversários, passa por cima. No Brasil o coronelato persiste
forte, minorias são desrespeitadas, ativistas são assassinados. Cala-se o
outro.
Neymar
é o jogador do futuro. Os maiores são Messi e Cristiano Ronaldo, mas Neymar
está ali, na sombra, quase chegando. O Brasil é o país do futuro, às vezes
parece que vai, avança, mas de repente tem uma recaída e como retrocede! O que
falta a Neymar? O que falta ao Brasil? O que queremos afinal? Ser um time que
brilha um jogador que brilha? Ser um país que brilha ou uma elite que brilha?
Queremos jogar bonito e dentro da lei? Queremos um povo educado e solidário,
queremos um país justo?
Não
importa isso agora, hoje é o Brasil em campo, a pátria de chuteiras, tudo para,
todos veremos. Veremos Neymar entre a cruz e a espada, Neymar tentando vencer
seus medos, suas fraquezas e o adversário. Ele pode e é capaz, do jeito certo.
Porém, amanhã, seremos o país da eleição, que precisa decidir o caminho a
seguir. A história de nossa democracia de 30 anos nos mostra muita coisa,
saibamos aprender.
Vai
Neymar!! Vai Brasil!!