sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A Biblioteca de Babel

Leitura 1

Se a biblioteca encerra todos os livros passíveis de serem escritos, lá estão todas as respostas. Mas qualquer empreitada humana jamais será capaz de desvendar todos os segredos, por mais que seja essa a última (no sentido de finalidade) e única tarefa humana, uma tarefa que seja coordenada para durar todo o tempo que seja necessário e que envolva todos os homens.

Tão perto e tão longe. O que se poderia buscar em tal biblioteca? O livro que conta a história do que procura, ou da amada do que procura? O livro que conta a história da família do que procura ou o livro que virou o filme que estrelou semana passada? Tudo e nada. Buscar qualquer história é buscar uma história e todas as histórias. E toda a história. A biblioteca encerra todos os livros e contá-los não seria tarefa humana.

Organizá-los ou dispô-los em alguma ordem minimamente arbitrária não é possível. Não há lógica em sua distribuição... (somente em sentido cosmológico, como veremos abaixo).

Segunda leitura

Qual o sentido da biblioteca total? O sentido é não fazer sentido. O sentido é não procurar o sentido porque acha-se a loucura ou a morte, mas não se acha o sentido. As histórias já estão todas contadas, é muito melhor viver uma história contada sem saber o seu roteiro, do que, ao saber o roteiro, querer dele fugir, ou querer alterá-lo. O sentido é viver e só.

Mas, o que está por trás da solução do problema da Biblioteca Total? Dois axiomas: 1) que o tempo é eterno e 2) que o número de símbolos é limitado; axiomas que nos aparecem como similares ao Eterno Retorno, de Nietzsche: "...o número de situações, alterações é também determinado e não infinito." e "O tempo, sim, ... é infinito." Moral da história Nietzschiana: repetição. E que moral essa de fazer e refazer... A solução de Borges: "A Biblioteca é ilimitada e periódica". Uma solução cosmológica e muito longe da nossa capacidade (portanto não tem a ver com a moral), por que a ordem viria da repetição das desordens cíclicas.

Nesse conto, Borges contou uma história de repetição. Mas, na filosofia e na lógica, Borges conta uma história de repetição? Não é o que parece, vide o problema da identidade: o que se repete é o mesmo ou é outro? A repetição tem o tempo no meio, tempo que impede a identidade (as refutações Borges mesmo cita: Mauthner, Russell, etc.). Mas, na literatura pode (na de Borges, porque a de Nietzsche se pretende doutrinal), porque a identidade é identidade da situação, do complexo de sensações, é por aí que anda a identidade do sujeito: o que escreve sente o mesmo do que lê. O que traduz atinge o mesmo do original. Como tal identidade é possível? Sem o tempo humiano/kantiano, o da estética transcendental, o tempo que seria a identidade: tempo do espaço-tempo com tempo do pensar (consciência). Se uma cosmologia cíclica é válida, o que volta? Não EU e VOCÊ, mas os complexos de sensações sentidos e percebidos - as experiências (essas questões são teóricas e totalmente fora de contexto aqui, voltaremos a elas em outra oportunidade).


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Um

...Mas, alguma coisa some, desaparece? O que morre degrada e vira outro. Se algo desmancha e vira ar, aí está: o ar! O ar é coisa. o ar é. Não há o que não é. Nada acaba - tudo se transforma. Até quando? Qual o limite de tudo isso? Um dia vai explodir ou implodir. Da mesma forma, tudo reverbera: é o efeito borboleta.

Centenas de milhares de causas e efeitos guiando centenas e milhares de seres vivos ao longo de centenas e milhares de anos. O que vive, morre. Mas, o que é morrer? O que é nascer? São dois estalos? O corpo não nasce de um estalo, o corpo é uma coisa existente antes de ser, fruto de reprodução. O corpo não morre, ele se decompõe e se transforma.

Do que é composto meu corpo? Células compostas de células de meu pai e minha mãe, que são compostos de células de meus avós: aí vai se remontando.

O que nos move - a alma - morre?
O que acontece com esse fluxo, essa chama? Vai para outro? A alma é reciclável? Nada some!!! Minhas alma é a alma de outro que era de outro e será de outro. Minha alma é a alma do mundo. Uma só. Nada morre...

sábado, 15 de novembro de 2014

Uma reflexão sobre a educação: a dicotomia do papel da escola*

  Em nosso país, a escola é obrigatória perante a lei e a sociedade (e deveria ser pública e gratuita, em regime totalitário). Mas, com os avanços da tecnologia, na sociedade informatizada e globalizada, como avança a escola? Qual é o seu papel, atualmente, quando as crianças entendem mais de tecnologia que os adultos?

  Vamos pautar a nossa abordagem em dois aspectos: o papel ideológico da educação e a sua importância na economia. Chamaremos de INSTRUÇÃO o saber técnico que se aprende na escola e de FORMAÇÃO aquela relativa ao como viver, tais designações já caracterizadas por Montaigne, nos idos da Renascença, quando a sociedade "renasce" da "idade das trevas" e o nobre deve abandonar sua vida de luta empunhando a espada para se converter em nobre no castelo, vivendo "em sociedade" (aristocrática). Montaigne propõe um saber que não é aquele escolar, mas que prepara para a vida, "que lhe proponham (ao jovem) essa diversidade de julgamento e ele escolherá, se puder, do contrário, permanecerá na dúvida". Lá, é mais importante ensinar o comportamento - o como viver, para o cavalheiro, o bruto.

  Mas, INSTRUÇÃO significa conhecimento de habilidades visando o mercado de trabalho, a formação profissional. Partindo do pressuposto da evolução tecnológica que guia a sociedade contemporânea, em constante transformação, o jovem deve estar apto a acompanhar as inovações e dar resultado. O mundo competitivo exige isso, exige que saíamos do outro lado. Tempo é dinheiro, não é mais o processo que é importante, é o produto, como se faz não importa: "se vira nos trinta!!!". Aqui abre-se espaço para a ascendência econômica que monopoliza o ensino, na medida em que o empresário que investe em educação investe buscando um profissional capaz de resolver suas demandas, profissional pré moldado. Por outro lado, a tecnologia invade a educação e solicita uma fatia do bolo: ensino à distância, conteúdos curriculares em aplicativos para computadores de mão. Mais máquina, menos homem: a velha fórmula marxiana. E a velha educação não serve mais.

  FORMAÇÃO é quando a instituição de ensino pauta pela educação inserida na sociedade, tendo como pano de fundo as relações dos indivíduos, a divisão de classes, o patrimônio cultural do povo. É na escola onde as primeiras relações sociais são ensaiadas, relações verticais e horizontais. É aqui que Hannah Arendt põe a escola entre a casa e o mundo, é aqui que a autoridade do professor é testada num jogo de imposição e arrefecimento, na miscelânea que compõe a sala de aula e a escola.

  Os dois aspectos que comentamos remontam ao surgimento da escola moderna. Se, por um lado, a reforma protestante colocou o cristão em contato com Deus, por outro, o cidadão francês, fruto da revolução, tinha o direito à educação. A INSTRUÇÃO era necessária para o indivíduo ler a Bíblia, a conduta vinha da palavra e o acerto de contas com Deus seria feito depois da morte. A Alemanha, que perdia guerras para Napoleão, encontrou a causa do problema: soldados não escolarizados não estavam aptos para as modernas técnicas de guerra. Mas, na França, Condorcet editava um código de leis e diretrizes para a educação que valorizasse a cultura e as artes, um projeto universal e igualitário, educação iluminista e de soberania individual baseada no progresso do homem, projeto liberal (embora, 20 anos antes, os projetos de educação de Rousseau tenham ido muito mais na linha da formação ética e política do homem, dentro de sua crítica ao progresso da ciências e das artes, porém, ambas as propostas, de Rousseau e Condorcet, tratando educação como política de Estado e direito do homem). Não haveria mais apelo a uma entidade superior, era a declaração dos direitos do homem.

  Outro ponto importante e que merece um aprofundamento nesse debate é que uma sociedade muito tecnológica não pode se pautar somente pelo progresso, somente por soluções tecnológicos porque fica reificada e presa em tal concepção. É preciso formar para se valorizar a cultura local e pesar as consequências do jogo global. Alternativas são necessárias e devem ser incentivadas.


  Então, que escola queremos? Uma que INSTRUA ou que FORME? Ou ambas? A escola instrui para o mercado e forma para a sociedade. Ou será que é a sociedade que impõe a sua forma/conteúdo ao processo pedagógico? No século passado, Bourdieu, em sua sociologia reprodutivista, atesta que a escola termina a tarefa iniciada pela família. O habitus social ganha corpo na escola e ela reproduz a sociedade. De tal maneira, que faz um trabalho alicerçado na ideologia de dominação: a educação vem de berço e deve ser continuada, os ideais burgueses preservados.

  Que escola queremos? Seria uma de convergência das exigências? Formar um profissional que saiba pensar? Instruir um cidadão a resolver os problemas burocráticas que haverá de enfrentar na ciranda do mercado de trabalho? Menos escola, mais escola ou não escola? Escola de reprodução social ou escola liberal e democrática? Com o pano de fundo da constante mudança da base técnica, apoiado em um sistema econômico e financeiro persistente, não podemos apelar para teorias utópicas e extravagantes. O homem, que vive, deve, necessariamente, trabalhar e produzir, e por isso não podemos nos esquivar da discussão. E quem pode apontar para uma luz no fim do túnel é Mészáros. Falaremos sobre ele brevemente...

* resenha aula de POEB 13/11/2014 - professor Romualdo (com pinceladas apreendidas das questões do ensino de filosofia da FFLCH - Maria das Graças).

Mídia

Mídia remelenta, fétida, suja, baixa, mesquinha, hipócrita, elitista, interesseira, marrom, covarde, sanguinárea, inescrupulosa, anacrônica, irrefletida, esteriotipada, propagandista, autoritária, vexatória, preconceituosa, tendenciosa, daninha, odiosa, policialesca, maliciosa, mau caráter, maléfica, corrompida, corrompidora, reproducionista, oportunista, desconstrutivista, raivosa, mentirosa, impetuosa, falaciosa, mequetrefe, superficial, corruptora, arrogante, sensacionalista, capitalista, enganadora, usurpadora, totalitária, inconsequente, ardilosa, manipuladora, asqueirosa, golpista, tenebrosa, chocante, hilariante, cômica, retrógrada, conservadora, sentenciosa, juiza, obscurantista, perniciosa, indecente, mau intencionada, marqueteira, poderosa, inconteste, avassaladora, desgraçada, demagoga, ideológica, subserviente, fatídica, fatalista, rancorosa, disfarçada, gananciosa, filha da puta.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Corrupção


    Tem se ouvido muito ultimamente, principalmente associado aos governos Lula e Dilma, um discurso contra a corrupção, discurso esse que atinge níveis elevados de indignação e intolerância. Mas, o que é a corrupção?

    Uma busca rápida do significado esclarece que é o ato ou efeito de se corromper, levar vantagem em negociatas prejudicando outrem. Trocando em miúdos, é o que você, eu, todos nós fazemos ao longo de nossa vida algumas vezes, em qualquer fofoca ou conversa de bastidor, seja no trabalho ou em casa. Qualquer uso do discurso ou tentativa de convencimento baseados em segundas intenções, visando deturpar a realidade dos fatos a partir de pontos de vista subjetivos. Tentativas de burlar o fisco, infração consciente de lei trânsito, aquisição de produtos piratas, etc., em quaisquer dessas práticas nos corrompemos e aumentamos a massa corrompida. Alterar o valor do recibo de reembolso da empresa, comprar ingresso de meia entrada ilegalmente, etc. são práticas corruptíveis, em que nos beneficiamos e adquirimos algum tipo de vantagem, mas são práticas comuns na sociedade.

    Apesar de prática corriqueira, o discurso oposicionista contra a corrupção impera e sobressai. Obviamente, a corrupção, principalmente na coisa pública, não é aceitável, deve ser combatida, denunciada e investigada. Mas esse não deve ser um tema maior, quando relacionado a temas como saúde, educação, programas sociais, parcerias comerciais do país, dentre tantos outros. O discurso contra a corrupção é conservador porque é negativo e não visa o diálogo, porque não visa agregar ideias novas; é um discurso combativo, mas estático. Mas o que estaria por trás desse discurso?

    A corrupção é um tema que aparece, que expressa um sentimento escondido. Essa expressão visa apelar para a moral de cada um, mas esse discurso é antiético em sua base e fundamento, porque 1) quem julga também é criminoso, ou seja, corrompe e é corrompido; 2) a grande queixa é: o que estão fazendo com o meu dinheiro? A corrupção incomoda moralmente mas, mais e principalmente financeiramente, na medida em que se questiona o desvio de dinheiro pago por cada cidadão. Em última análise é o dinheiro que está por detrás do discurso. O valor manifesto por uma palavra de ordem chamada corrupção esconde uma causa que potencializa a luta de classes.

    Em um país onde boa parte da população vive na linha de pobreza e não sabe o que é trabalho, salário e imposto, tal discurso é vazio. E é isso que esse discurso esconde: a indignação de parte (rica e mesquinha, e honesta??) da população, que na verdade está muito mais preocupada com o seu capital e propriedade; ao invés de um confronto de ideias prefere o conforto ideal. Tal discurso visa responsabilizar o atual governo como único responsável por tal comportamento distorcido e é usado como bandeira política, discurso usado mesmo por quem sabe muito bem que a corrupção afeta todos os partidos e toda a sociedade. Ele é um mantra: achamos um culpado e nos isentamos; repetindo a palavra de ordem, nele acreditamos. A elite, e boa parte da classe média candidata a rica, se escondem por trás desse discurso de fachada, evitando o diálogo e se tornando subserviente à ideologia de dominação; cada vez mais distante da reflexão. Não mexa no meu dinheiro, fora Dilma, fora PT!!