terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A questão não é que o real seja impossível, mas que o impossível é real*

  Por que é tão difícil realizar certas coisas? Vivemos de projetos e promessas que nos movem, nos absorvem, mas que, às vezes, não se realizam. A realidade assusta e dificilmente conseguimos encará-la. Porque, para encarar a realidade, precisamos romper com o discurso. E o discurso é tão bom...

  Vivemos de inventar projetos e não de realizar projetos porque o mundo é muito grande e impossível de se abarcar. Quando, por ventura, um projeto de alguma forma se concretiza, ele se soma ao mundo e nos é subtraído. Nesse momento, esse projeto não é mais nosso: é do mundo. Entretanto,  Žižek nos diz que o real não é impossível, mas o impossível é real. Ou seja, o impossível é um subconjunto do real. De que tamanho?

  Como saber que não estamos pisando no terreno impossível do real? Não há como saber por causa dessa dicotomia entre eles. Mas, isso não significa uma inação, significa que mais do que nunca é preciso lutar para superar o desafio da realização.

  Porque, conforme Žižek, o real PODE acontecer, e isso deve nos manter firmes na luta, no sentido de uma emancipação.

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* Arriscar o Impossível - Conversas com Zizek - Col. Dialética, pg 89

sábado, 20 de dezembro de 2014

Elasticidade

  O nosso corpo, por si só, somente pode se mover em pequenos espaços. O corpo se atrita com outros corpos o tempo todo.

  A mente voa. A mente é livre para levar o corpo para onde ela quiser.

  Mas o corpo não pode ir. O corpo é passado, sempre. O corpo é experiência acumulada.

  A mente é futuro, quase sempre. A mente, refletindo sobre o passado, visa o futuro. Esse visar sobrecarrega o corpo porque a mente pensa muito, propõe muito para o corpo.

  A força de cada pensamento é fisiológica. E aí, nessas reviravoltas mentais, muito se perde - há um desgaste.

  É preciso relaxar a mente, distender. Distensionar!!!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Arte popular

Arte popular é expressão viva da cultura. Arte popular manifesta o sentimento que anda por aí a baila de qualquer processo formal.

Arte popular é o sorriso autêntico, o olhar cativante e a boca cantante. O gingado da arte popular vem do corpo treinado em vivência e sobrevivência. A vestimenta da arte popular é colorida e denuncia o folclore arraigado no sangue do povo que faz arte para a alegria.

O traço da arte popular não é planejado, é emotivo. Porque a arte popular louva a terra e perpetua a simplicidade. De tão ingênua e espontânea, a arte popular se sofistica.

A arte popular não quer os salões e museus, a arte popular quer a rua e a praça: quer viver. Faz viver. A arte popular contagia, joga pra cima. A arte popular espanta a tristeza porque traz a magia pura que enfeitiça os corações e a alma.

Arte popular: remédio que cura e expurga qualquer tentativa de se pensar em algo irrelevante e sem sentido. Quando possível, viva a arte popular!

- Trio Virgulino passou no Metrópolis (TV Cultura, 17/12/2014) e plantou em meu coração uma semente cheia de vida e cativante.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A filosofia e os professores sob o olhar de Adorno

    O texto que dá nome a essa reflexão trata do exame que seleciona os futuros professores de ciências e filosofia. A crítica de Adorno é severa, mas reflete uma Alemanha que passou pela nazismo e, nesse sentido, podemos entender a sua gravidade. Se, por um lado, há por parte dos examinados sérias deficiências, por outro lado, a falta de exigência premia a consciência reificada e sua subordinação a qualquer autoridade, mesmo que seja o regime nazista.

    Sobre a avaliação, os examinados preferem questões específicas que versem sobre a história da filosofia, mesmo que tenham grandes dificuldades de articulação quando ser trata do desenvolvimento de pensamento de um filósofo em relação a outro, e não só no interior de cada filosofia. Entretanto, Adorno sugere o uso de questões temáticas, que faça vínculos com a arte e a cultura de cada época e sublinha o contraponto entre o espírito filosófico e o científico, que, reificado, se vale de valores científicos para fazer a mediação com a experiência viva. Ante estudantes que não querem correr riscos no exame, o que precisa ser abordado é o potencial intelectual, a capacidade de reflexão sobre a atividade e o meio social.

    Assim, a consciência dos candidatos está reificada e repousa sobre "conformações formais do pensamento". Sem reflexão, cria-se o apolítico, que é facilmente subordinado. Mas, aonde estaria a causa do problema? Segundo Adorno na falta de formação cultural, que exige o empenho de cada um, que é espontânea, para que se crie o espírito crítico que se abre a novas possibilidades. Mas o que o resultado dos exames mostra é exatamente o contrário: fica evidente o fracasso da formação cultural, que não é alimentada por experiencias prévias oriundas da condição social de cada indivíduo.

    É grande o peso que Adorno coloca nos ombros do professor: ele deve ter o conhecimento específico e histórico da filosofia, mas também se relacionar com as outras ciências e com as artes e experiências em geral, refletir sobre sua atividade e sobre o social. É esse indivíduo que, com uma formação cultural adequada, pode possuir o espírito filosófico que supera a consciência reificada, é capaz de fazer a autocrítica e ensinar.