sábado, 21 de maio de 2022

Valor Cognitivo (by Frege)

Coloca o problema da diferença de valor cognitivo entre nomes diferentes para o mesmo objeto[i]

De acordo com Frege[ii], há uma diferença cognitiva oriunda da troca de um nome por outro nome que se refere (significa) o mesmo objeto. E Ruffino explica que o teste de verificação é se perguntar se alguém racional pode acreditar em uma dessas sentenças e não na outra, como é o caso ilustrativo de Lois Lane que sabe que o "Super-Homem é super-herói", mas não sabe que "Clark Kent é super-herói". Mas não é caso evidente de uma troca entre 2, ii ou II, que seria reconhecido por todos.

Da perspectiva epistêmica de Lois Lane, que não é contraditória, trocar o nome Super-Homem por CK, em uma sentença, produz diferença cognitiva. Dito isso, como explicar a diferença cognitiva entre as sentenças, dado que se referem ao mesmo objeto e somente há uma troca de nomes, coisa que é corriqueira na vida de qualquer um de nós? Tal fato ilustra que há atitudes epistêmicas diferentes, isto é, acreditamos em uma expressão, mas não na outra.

Essa questão, informa Ruffino, passa a ser conhecida como o problema de Frege: “diferenças cognitivas em enunciados que resultam apenas da troca de um nome por outro nome que tem a mesma referência”. É assim que começa SSR[iii], particularizado na identidade entre objetos do tipo “a = b”. O caso de Super-Homem e super-herói, embora não sendo de identidade de objetos, mas de predicação, é um aonde ocorre essa diferença de valor cognitivo. A solução de SSR é que, além da referência, o nome carrega uma forma de apresentação que tem papel fundamental nas crenças. LL olha CK segundo um sentido e LL olha para SH segundo um outro sentido. Ou seja, o nome tem dois tipos de significado.

Voltando à questão da identidade, que em si é uma questão e que já vimos, Frege se pergunta entre o que é a relação de identidade, se entre nomes (uma expressão linguística) ou entre objetos, as coisas significadas. Há um plano ontológico da linguagem (símbolos) e outro do mundo (do que se fala)[iv]. O enunciado de identidade maximiza o problema de Frege, já que se “a = b”, ‘b’ pode ser uma informação inteiramente nova. Há o enunciado trivial que diz que a estrela da manhã é a estrela da manhã, mas há uma descoberta astronômica que diz que a estrela da manhã é a estrela da tarde. E os enunciados de identidade são inúmeros, como pi sendo a razão entre a circunferência e o diâmetro de um círculo, ou calor é a energia transmitida entre corpos. Assim como a polícia está sempre tentando achar a identidade de um assassino. E nós seguindo nos passos de Frege.


[i] Um resumo, quase transcrição de https://www.youtube.com/watch?v=7VLtDA_yxLI, “Filosofia da Linguagem - Ep. 3: O valor cognitivo das identidades”.

[iii] Sobre Sentido e Referência.

[iv] Conforme exemplo de Ruffino, ‘neve’ tem quatro letras e “neve é gelada”, mas a palavra ‘neve’ não é gelada.

terça-feira, 17 de maio de 2022

O problema de Frege

Coloca o problema da diferença de valor cognitivo entre nomes diferentes para o mesmo objeto[i]

SSR[ii] começa com a questão da identidade, com enunciados do tipo x = y (é). Héspero é Fósforo.  Nome (verbo) nome. Nesse caso, se igual, se trata do mesmo objeto, o que pode não ser o caso quando, por exemplo, Pelé = Maradona. Ruffino chama a atenção para a tradução do termo alemão entre identidade e igualdade no português, que ele prefere pelo primeiro, já que a identidade, estritamente falando, é do objeto com ele mesmo.

Depois de tratar da natureza da identidade, Ruffino aborda a forma da identidade, que separa dois nomes pelo símbolo da identidade (=) ou o verbo ser na terceira pessoa do singular, conforme dito acima. O “é” significa duas coisas dos ponto de vista lógico, uma é a identidade e outra é subsunção ou instanciação de uma categoria por um objeto. Por exemplo, a estrela é vermelha, quer dizer que a estrela instancia a propriedade de ser vermelha, qual seja, vermelho predica a estrela. No outro caso, a relação é do objeto com ele mesmo.

Portanto, “a é b”, pode ser “a tem uma propriedade b”, de categorias diferentes, um particular e um universal, já a identidade se dá entre coisas do mesmo nível, por exemplo, Pelé é Edson Arantes do Nascimento. Bem, essa é uma certa confusão do verbo ser, dada pela linguagem e o que, inclusive, levou Frege a tentar deixar mais claras tais relações, como no desenvolvimento da linguagem formal, tratando cada relação com símbolos diferentes.

A partir da discussão da identidade, Frege chega na questão do sentido, além da referência, que é um caso particular de um problema mais geral no qual, aonde ocorre um nome dentro de uma expressão linguística, ao trocar o nome por outro do mesmo objeto, haverá uma diferença de valor cognitivo entre as duas expressões. “O rei Pelé jogou no Santos” e “Edson Arantes jogou no Santos” são duas sentenças com nomes diferentes para a mesma entidade, mas que, para um estrangeiro, será uma informação nova. Termina Ruffino: como explicar essa diferença cognitiva se estamos falando do mesmo objeto o tempo todo?



[i] Um resumo, quase transcrição de https://www.youtube.com/watch?v=kcFTJBF_gS0, “Filosofia da Linguagem - Ep. 2: O problema de Frege”.

[ii] Sobre Sentido e Referência.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Além da referência, o sentido

Sobre o objeto da filosofia da linguagem em uma introdução às ideias de Frege [i]

Se a semântica estuda significados, a filosofia da linguagem é um estudo geral do significado e, nesse sentido, não empírico, isto é, não é um levantamento do significado que as pessoas atribuem a cada palavra ao longo do tempo, etc. Logo, a semântica filosófica vai olhar o tipo do significado de acordo com categorias linguísticas como, por exemplo, os advérbios, adjetivos, nomes próprios, etc.

Dentre essas categorias, os nomes próprios possuem um tipo de significado peculiar porque versam sobre apenas um indivíduo, embora caiba ressaltar que nem todo sujeito gramatical é um nome próprio[ii]. De todo modo, há indivíduos particulares como George Bush, Edson Arantes ou Caçapava, que se ligam a objetos. Já a expressão “amarelo” é um adjetivo, qual seja, uma propriedade de uma multiplicidade de objetos. Também "caneta" se refere a todos os objetos com a propriedade de ser caneta. Mesmo os algarismos são nomes, do ponto de vista semântico. Por exemplo, 10, um número dez, um objeto. Do que se conclui, do que foi dito, que um nome próprio designa um objeto particular, por oposição aos universais, relações, etc.

Então, Ruffino retoma questão de Kripke[iii]: que tipo de significado os nomes próprios têm e por quê? Bem, esta é uma reflexão antiga, mas que fica sistemática a partir de Frege (XIX): a problemática dos nomes próprios e sua contribuição semântica em uma proposição[iv]. Mas Kripke rompe com a tradição inaugurada por Frege, que se interessava pela natureza da aritmética e por sua fundamentação epistêmica. Ora, em que é baseada uma ciência que trata de operações sobres números? Desde Platão, a aritmética é paradigma de uma ciência conhecida à priori. Se a matemática pode ser aprendida contando-se objetos, sua justificação é dada de maneira inata. Não está na experiência, mas na razão, ideias, formas, etc. Mas, para Frege, qual a fonte?

A aritmética, conforme Kant chamou a atenção, tem aplicabilidade universal. Frege, para entender as fontes da aritmética, procurou representar as etapas do raciocínio aritmético para verificar se havia elemento empírico ou a intuição pura kantiana, daí uma ciência sintética a priori. Frege, por seu lado, acreditava ser analítica.

Em1879, ele trata da escrita conceitual pela proposta de uma linguagem formal para modelar raciocínios matemáticos. Considerado o pai da lógica contemporânea, traz uma teoria geral dos significados que compunham essa linguagem [simbólica]. Linguagem artificial que representa os raciocínios lógicos e introdução dos quantificadores. Dada a época, havia uma pressão pelo rigor matemático, e de raciocínios clarificantes que podiam se dar nessa linguagem formal.

Já em1892, Sobre o sentido e a referência apresenta a referência como significado: “isso significa aquilo”. Ele investiga a conotação semântica: que tipo de significado linguístico as expressões têm. E mostra que os nomes próprios não tem um único significado, conforme falamos acima, mas dois: um é a coisa no mundo que a palavra designa, um indivíduo, referência, entidade no mundo. Entretanto, além da referência, o sentido (sínn), é uma caraterística objetiva das palavras. Ruffino explica que, para cada pessoa, um nome pode conter um significado com conotação subjetiva, mas há um sentido objetivo que é [quase] o mesmo para todos.

Por exemplo, há duas designações de Vênus: a estrela da tarde e a estrela da manhã, Héspero e Fósforo. Mas o nome próprio designa um objeto particular e, nesse caso, há duas expressões que apontam para Vênus. Isto é, há duas perspectivas ou modos de apresentação para uma mesma referência. Há um segundo conteúdo cognitivo diferente e que é o mesmo para todo mundo. Sem saber que se tratava da mesma referência, havia os dois sentidos diferentes de Vênus. Assim como o número sete, que pode ter diversos sentidos objetivos, como os dias da semana, o número da sorte ou o número de gols da Alemanha. São perspectivas diferentes, diferentes formas de apresentação.

Enfim, há aqui um pontapé na problemática que Frege desenvolve em SSR e que trataremos, com a ajuda de Ruffino, com mais detalhes adiante.


[i] Um resumo, quase transcrição de https://www.youtube.com/watch?v=KwIcKdLdVs0, “Filosofia da Linguagem - Ep. 1: Introdução à Semântica Fregeana” e https://www.youtube.com/watch?v=kcFTJBF_gS0.

[ii] Aqui Ruffino lembra dos quantificadores: nenhum, todo, etc.

[iii] Que é mote do curso.

[iv] Proposição: sentença com significado.