Sobre o objeto da filosofia da linguagem em uma
introdução às ideias de Frege [i]
Se a semântica estuda significados, a
filosofia da linguagem é um estudo geral do significado e, nesse sentido, não
empírico, isto é, não é um levantamento do significado que as pessoas atribuem a
cada palavra ao longo do tempo, etc. Logo, a semântica filosófica vai olhar o
tipo do significado de acordo com categorias linguísticas como, por exemplo, os
advérbios, adjetivos, nomes próprios, etc.
Dentre essas categorias, os nomes próprios
possuem um tipo de significado peculiar porque versam sobre apenas um indivíduo,
embora caiba ressaltar que nem todo sujeito gramatical é um nome próprio[ii]. De todo modo, há
indivíduos particulares como George Bush, Edson Arantes ou Caçapava, que se
ligam a objetos. Já a expressão “amarelo” é um adjetivo, qual seja, uma
propriedade de uma multiplicidade de objetos. Também "caneta" se refere
a todos os objetos com a propriedade de ser caneta. Mesmo os algarismos são
nomes, do ponto de vista semântico. Por exemplo, 10, um número dez, um objeto. Do
que se conclui, do que foi dito, que um nome próprio designa um objeto
particular, por oposição aos universais, relações, etc.
Então, Ruffino retoma questão de Kripke[iii]: que tipo de significado
os nomes próprios têm e por quê? Bem, esta é uma reflexão antiga, mas que fica
sistemática a partir de Frege (XIX): a problemática dos nomes próprios e sua contribuição
semântica em uma proposição[iv]. Mas Kripke rompe com a
tradição inaugurada por Frege, que se interessava pela natureza da aritmética e
por sua fundamentação epistêmica. Ora, em que é baseada uma ciência que trata
de operações sobres números? Desde Platão, a aritmética é paradigma de uma
ciência conhecida à priori. Se a matemática pode ser aprendida contando-se
objetos, sua justificação é dada de maneira inata. Não está na experiência, mas
na razão, ideias, formas, etc. Mas, para Frege, qual a fonte?
A aritmética, conforme Kant chamou a
atenção, tem aplicabilidade universal. Frege, para entender as fontes da
aritmética, procurou representar as etapas do raciocínio aritmético para
verificar se havia elemento empírico ou a intuição pura kantiana, daí uma
ciência sintética a priori. Frege, por seu lado, acreditava ser analítica.
Em1879, ele trata da escrita conceitual
pela proposta de uma linguagem formal para modelar raciocínios matemáticos. Considerado
o pai da lógica contemporânea, traz uma teoria geral dos significados que
compunham essa linguagem [simbólica]. Linguagem artificial que representa os
raciocínios lógicos e introdução dos quantificadores. Dada a época, havia uma
pressão pelo rigor matemático, e de raciocínios clarificantes que podiam se dar
nessa linguagem formal.
Já em1892, Sobre o sentido e a
referência apresenta a referência como significado: “isso significa aquilo”.
Ele investiga a conotação semântica: que tipo de significado linguístico as
expressões têm. E mostra que os nomes próprios não tem um único significado,
conforme falamos acima, mas dois: um é a coisa no mundo que a
palavra designa, um indivíduo, referência, entidade no mundo. Entretanto, além
da referência, o sentido (sínn), é uma caraterística objetiva das palavras.
Ruffino explica que, para cada pessoa, um nome pode conter um significado com
conotação subjetiva, mas há um sentido objetivo que é [quase] o mesmo para todos.
Por exemplo, há duas designações de Vênus:
a estrela da tarde e a estrela da manhã, Héspero e Fósforo. Mas o nome próprio
designa um objeto particular e, nesse caso, há duas expressões que apontam para
Vênus. Isto é, há duas perspectivas ou modos de apresentação para uma mesma
referência. Há um segundo conteúdo cognitivo diferente e que é o mesmo para
todo mundo. Sem saber que se tratava da mesma referência, havia os dois
sentidos diferentes de Vênus. Assim como o número sete, que pode ter diversos
sentidos objetivos, como os dias da semana, o número da sorte ou o número de
gols da Alemanha. São perspectivas diferentes, diferentes formas de
apresentação.
Enfim, há aqui um pontapé na problemática que Frege desenvolve em SSR e que trataremos, com a ajuda de Ruffino, com mais detalhes adiante.
[i] Um resumo, quase transcrição de https://www.youtube.com/watch?v=KwIcKdLdVs0,
“Filosofia da Linguagem - Ep. 1: Introdução à Semântica Fregeana” e https://www.youtube.com/watch?v=kcFTJBF_gS0.
[ii] Aqui Ruffino lembra dos
quantificadores: nenhum, todo, etc.
[iii] Que é mote do curso.
[iv] Proposição: sentença com significado.
Conforme Ruffino e o texto tenta transparecer, a noção de sentido parece muito natural, a partir de cada perspectiva ou propriedade.
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