Ayer é o iminente filósofo britânico condensador das ideias do positivismo lógico, oriundas do Tractatus e do Círculo de Viena. Seu livro, Language, Truth and Logic (1936) já se inicia com a tarefa reconhecida dos positivas de eliminação da metafisica com a frase “As disputas tradicionais dos filósofos são, em sua maior parte, tão injustificadas quanto infrutíferas”.
Como principal crítica, os positivos
consideravam as proposições metafisicas como desprovidas de significado, sem
conteúdo cognitivo. A base do ataque era lógica e se fundava no critério de
verificabilidade da significação, para o qual proposições devem ser
[francamente] verificáveis [em princípio] para poderem ter significado, como o
são as da matemática e lógica e não as da metafísica.
Schwartz lista sete princípios do programa
do positivismo lógico:
2. A
causa da perplexidade da metafisica é a gramática superficial da língua; sua cura
é a análise lógica.
3. A
lógica e a matemática não consistem em nada além de tautologias. Estas são
verdades formais que não têm conteúdo referencial.
4. Todas
as proposições que são necessárias ou a priori são sintéticas. Todas as
proposições que são contingentes ou a posteriori são tautologias.
a. Analiticamente
verdadeiro = tautológico = a priori = necessário.
b. Sintético
= a posteriori = contingente.
5. Toda
a ciência consiste num único sistema unificado com um único conjunto de leis
naturais e fatos. Não há métodos ou sistemas separados nas ciências
psicológicas ou sociais.
6. A
máxima suprema no filosofar científico é esta: Sempre que possível, entidades
inferidas devem ser substituídas por construções lógicas.
7.
Enunciados éticos não têm conteúdo
cognitvo, mas exprimem atitudes e emoções.
A metafísica tão requisitada se daria por
uma ilusão de linguagem a ser resolvida pela análise lógica e mesmo números
poderiam ser entidades metafísicas suspeitas, até que Wittgenstein postula esse
discurso como tautologias formais sem qualquer peso ontológico ou referencial.
É o caso da substantivação de adjetivos,
por exemplo, a rapidez. No discurso da linguagem a rapidez deveria se referir a
algo, mas a que? Daí que rapidez se torna um universal sujeito a controvérsias
mesmo por Russell, até que Wittgenstein os elimina na lógica simbólica. Discursos
metafísicos intermináveis sobre a existência são eliminados com a lógica
simbólica: “Zebras existem” passa a ser ∃xZx:
Existe um x tal que x é uma zebra.
Sobre o sexto princípio, trata-se do
reducionismo de Russell, como no caso do discurso físico sobre objetos se
transformarem em discurso sobre “dados dos sentidos”, mesmo que essa redução
ainda fosse um ideal de difícil aplicação. Essa tradução é o fenomenalismo que
foi abordado por Carnap como um discurso remetendo ao dado, reconstruído o
conhecimento com base na experiência imediata (empirismo positivista).
O Fenomenalismo foi reduzido por Ayer a
conteúdos sensoriais, dizer algo sobre “mesa” é dizer sobre um símbolo e em
última instância sobre um conteúdo sensorial. O conteúdo sensorial é, então,
uma construção lógica, uma proposição linguística e não parte da coisa
material. Essa linguagem fenomenalista seria a linguagem da ciência unificada.
Uma contraposição ao fenomenalismo dentro
do próprio Círculo de Viena veio do fisicalismo de Neurath que, com uma posição
marxista, tratava da linguagem comum de objetos físicos. O fisicalismo
substituía os conteúdos sensoriais por processos neurofisiológicos e
comportamento.
Por fim, do sétimo se extrai o emotivismo
e a proposta de que a ética não é normativa e não resulta em juízos de valor
verificáveis, apenas justificáveis, e que por trás do discurso ético ainda
poderia haver um ideal utilitarista ou de felicidade.
[i] Uma breve história da filosofia analítica de Russell a Rawls. Schwartz, Stephen P. São Paulo: Edições Loyola, 2017, p. 75 e ss.
[ii] Esses temas estão fortemente presentes no projeto husserliano, mas lá é voltado a vivências subjetivas e não a conteúdos sensoriais. Tema a ser melhor explorado: o fenomenalismo de Carnap e a fenomenologia de Husserl.