Das divergências do último e do primeiro Wittgenstein acerca da linguagem.
É comum um pensador ter rupturas ou
divergências no cômputo geral de sua obra. Esse é o caso de Wittgenstein que,
de acordo com Cavassane[i], tem uma abordagem
diametralmente oposta a respeito da linguagem entre o Tractatus e as Investigações
Filosóficas. Ao fim do Tractatus, redigido sob a influência de Russell e que
aborda a natureza da proposição e da linguagem, Wittgenstein acreditou ter
solucionado os problemas de filosofia [então suscitados por Russell]. Porém,
após algum tempo afastado da filosofia, ele percebe que estava orientado a uma
perspectiva da tradição filosófica pela via de Russell e que ali os problemas
não estavam postos de maneira correta, portanto, decide criticar seu velho modo
de pensar [e a tradição], agora nas Investigações.
O Tractatus Logico-Philosophicus. De acordo com Cavassane, a teoria da figuração é a que receberá a crítica mais contundente, posteriormente. Nela, Wittgenstein busca responder “Como é possível falar sobre o mundo?”. A teoria da figuração é uma teoria do significado linguístico, e Wittgenstein postula que é possível porque linguagem e mundo compartilham uma mesma estrutura lógica [a priori].
Ou seja, a linguagem afigura os fatos
compartilhando a forma lógica, que é a forma do pensamento. Porém as frases da
linguagem ordinária podem conter erros e, da análise lógica de uma frase, pode
se extrair o pensamento nela contido. Daí surge a tese do indizível: somente
podemos expressar fatos do mundo (sejam possíveis ou reais), conteúdos
objetivos. Isso não vale para o subjetivo (ética, religião) nem formal (lógica,
matemática), considerados místicos por Wittgenstein que crava: “Sobre aquilo de
que não se pode falar, deve-se calar”.
A crítica ao Tractatus nas Investigações
Filosóficas. Segundo Cavassane, Wittgenstein abrirá
mão de dois pontos principais de sua teoria da figuração: o referencialismo para
o qual uma palavra possui significado se ela corresponde a um objeto e o
perfeccionismo lógico, trazendo a crença de que a linguagem representa o mundo
fielmente e nisso consiste a verdade. Wittgenstein vai criticar o
referencialismo argumentando que não é possível reduzir todas as palavras a
nomes. Sobre o perfeccionismo lógico, o uso no Tractatus se se dá por palavras
simples se referindo a objetos e isso traz a univocidade do significado que
garante certa imutabilidade e evitando a perda de referência. Porém,
Wittgenstein vai rever essa posição nas Investigações considerando a exatidão
absoluta do significado um ideal inalcançável, já que dependente do contexto. E
é essa impossibilidade de exatidão que implode a lógica como estrutura do
pensamento, do mundo e da linguagem, colocando abaixo a teoria da figuração do
Tractatus Logico-Philosophicus.
Wittgenstein localiza a correspondência entre
objetos e palavras em Platão, que no Teeteto cita que nos referimos a
elementos primitivos por seus nomes e que ela forçaria o isomorfismo. Ainda, a correspondência
se da a partir dos substantivos, parte pequena das palavras. Mais além, a ideia
do objeto simples parece ser criada a priori para se encontrar por conseguinte a
proposição e sua análise.
Considerações finais.
Ao se perguntar sobre como é possível falar sobre o mundo, Wittgenstein responde
com a teoria da figuração, onde as palavras afiguram objetos e há um
isomorfismo lógico entre frases e fatos. Porém, posteriormente, Wittgenstein
percebe o viés orientativo da teoria da figuração baseado na tradição e que sua resolução não contribuiu para a verdadeira compreensão dos fenômenos da
linguagem, então ele faz a crítica do pensamento inicial. Agora, não há uma exatidão entre
mundo e linguagem e isso implode a possibilidade de mapeamento lógico. Deste
modo, o que constitui a ruptura entre o primeiro e o segundo Wittgenstein é uma
mudança de método: “O método puramente apriorístico do Tractatus é submetido a
crítica e agora recomenda (em certo sentido) o método a posteriori de
investigar os fenômenos reais da linguagem.”. Se afastando
de Platão e da tradição, o segundo Wittgenstein se afasta de conceito e se
aproxima do uso cotidiano.
[i] O que se segue é conforme A crítica de Wittgenstein ao seu Tractatus nas Investigações Filosóficas, acessado em 07/09/2020 no link: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/ric/article/view/337. Artigo de Ricardo Peraça Cavassane.
ver post véio: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/02/como-resolver-problemas-filosoficos.html
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