Tem uma discussão antiga em Filosofia (ou moderna,
mas não há porque precisar agora) que opõe idealismo e realismo, que vamos explorar
um pouco nesse texto. Esse debate tem um pano de fundo epistemológico, ou seja,
se refere à teoria do conhecimento ou ao que conhecemos e como conhecemos. Para
os idealistas, o conhecimento provém das ideias e aí há muitas interpretações,
mas, simplificando, temos um conhecimento inato, ou seja, que nos pertence desde que
nascemos e que é mandatário para nossa vivência. Para os realistas, a realidade
tem precedência sobre as ideias e, nesse sentido, há um enfraquecimento do idealismo,
pois ele poderia ter, digamos, menos concretude. O idealismo projeta nossas
ideias sobre a realidade e a torna irrelevante, desprezível, a força das ideias
cria o mundo, as pessoas, tudo. Já para o realismo, talvez as ideias não sejam
realmente tão importantes. É importante salientar como podemos conceber o mundo
pelas ideias, pela nossa ideia: nós sempre nos impomos e atuamos como senhores
desse mundo fabricado pelas ideias. Do que surge a pergunta: há realidade (objetividade)
sem ideia (subjetividade)? De que serve uma objetividade em si, sem uma
subjetividade para explorá-la? Do mesmo modo, uma subjetividade sem
objetividade é vazia: esse é um velho debate!!!
Mas idealismo também significa que temos ideais:
que imaginamos coisas que podem se dar na realidade, que podem superar a
realidade. Um ideal é uma tentativa de superar uma realidade que é só real,
mais nada. “Bem, o ideal é fazer assim, mas como não tem jeito, façamos assado”.
Ideal: assim, realidade: assado. É muito
difícil mudar a realidade e isso só pode acontecer se houver uma idealidade que
a supere. Mas também, ninguém vive somente de idealidades. Uma coisa importante
a se ressaltar é: às vezes o pragmatismo da realidade nos impede de escaparmos
para a utopia da idealidade. Em situações de crise (e nós sempre estamos em
situação de crise porque somos seres humanos erráticos e falíveis) tendemos a
nos agarrar à realidade porque ela é objetiva, está aí, está lá, é palpável. Já
o idealismo, nesse sentido, é um desafio que nos inquieta: dizem que o ideal
não é possível. Porém, por mais que o ideal não seja possível, realisticamente
falando, ainda assim ele é possível para uma subjetividade e viver de
fantasias pode ser nosso último porto seguro.