segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Maiêutica

Esse texto visa localizar o método socrático[i]

A maiêutica é o método socrático pelo qual há parturição do conhecimento. No Teeteto, Euclides conta a Terpsion que fez anotações da conversa entre Sócrates e Teeteto e que as revisou algumas vezes com o primeiro para que pudesse ter um texto acabado. Depois dessa introdução, ele pede a um “pequeno escravo” que o leia.

O diálogo começa com Teodoro apresentando Teeteto a Sócrates, falando sobre sua “procedência” e qualidades e, inclusive, Teodoro destaca a semelhança física entre Sócrates e Teeteto, ambos feios no seu ponto de vista e por quem não se apaixonaria. Daí em diante, entra-se na discussão técnica, e Sócrates passa a falar com o Teeteto questionando-o a respeito do que é o conhecimento. Teeteto elenca coisas que seriam conhecimento, como a geometria (ensinada por Teodoro) e a sapataria, ambos tipos de arte. Porém, Sócrates rechaça essa abordagem porque Teeteto falava sobre algo a que o conhecimento pertence e pela resposta ser cheia de rodeios.

Uma outra abordagem de Teeteto é tratar de termos para nomear coisas matemáticas, mas para o conhecimento ele tem dificuldades, do que solicita Sócrates: “empenha-te em designar as múltiplas formas do conhecimento por meio de uma única definição” (p. 65). É nesse ponto que Teeteto cita sua preocupação em responder as questões levantadas por Sócrates e quando ele compara as preocupações de Teeteto com as dores do parto. Sócrates alude a Fenarete – robusta parteira, dizendo-se filho dela e que pratica a mesma arte das parteiras, que normalmente são mulheres velhas que já tiveram a experiência do parto, mas não podem mais ter filhos pela idade avançada. Tal costume teria sido herdado de Ártemis, deusa estéril, por vê-las em situação semelhante.

Ressaltando a importância das parteiras, Sócrates faz a seguinte ressalva:

“Contudo, o trabalho delas é menos importante do que o meu, pois as mulheres não dão à luz, numa oportunidade crianças reais e, em outra, meras imagens que são difíceis de distinguir do real, como meus pacientes.” (p. 68)

Notemos que Sócrates busca 1.) pela definição e 2.) pela verdade. Mas Sócrates diz-se estéril em matéria de conhecimento, como um parteiro que nunca deu  à luz. Entretanto, do mesmo jeito que faz as dores aparecem também as fazem cessar, por seu método maiêutico. Ora, Teeteto está grávido e o diálogo agora deverá buscar uma forma de parir o conhecimento. Mas isso são cenas dos próximos capítulos.



[i] Notas sobre o diálogo Teeteto (ou do Conhecimento). PLATÃO. Diálogos I – Teeteto, Sofista, Protágoras. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2007. 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

De Kant a Schopenhauer: a fundação da moral passa da razão ao caráter

Parte superior do formulário

Documento de Briefing: Análise Comparativa da Moral Kantiana e Schopenhaueriana[i]

Introdução

Este documento tem como objetivo apresentar uma análise comparativa das filosofias morais de Immanuel Kant e Arthur Schopenhauer, baseada no texto "De Kant a Schopenhauer: a fundação da moral passa da razão ao caráter". O artigo explora a crítica de Schopenhauer à ética kantiana, mostrando a transição da fundamentação da moral da razão para o caráter.

A Moral Kantiana. Uma Fundamentação Racional e Autônoma

Razão como Fundamento. Kant estabelece uma moral baseada na razão, anterior a qualquer experiência sensível. Essa moral é autônoma, livre e se manifesta através do imperativo categórico.

Vontade Boa. A ação moral, para Kant, deve ser guiada por uma "vontade boa" que é um fim em si mesmo e não busca a felicidade como objetivo primário. A felicidade é uma consequência da ação moral, não sua motivação.

Imperativo Categórico. A moral kantiana é regida pelo imperativo categórico, uma lei prática incondicional que ordena a vontade e que tem validade universal. "A representação de um princípio objetivo, enquanto obrigante para uma vontade, chama-se um mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se Imperativo." (Fundamentação, p. 48)

Liberdade Transcendental e Prática. Kant distingue entre liberdade transcendental (conceito especulativo) e liberdade prática (independência da coerção sensível). A liberdade prática é fundamentada pela liberdade transcendental que permite a autonomia moral.

Reino dos Fins. A ideia de um "reino dos fins" representa um estado ideal onde seres racionais, legisladores e governantes, agem de acordo com o princípio da autonomia da vontade.

Sumo Bem. Conceito da Segunda Crítica que liga virtude e felicidade, onde a virtude é a dignidade de ser feliz.

A Crítica de Schopenhauer à Moral Kantiana. Egoísmo e Caráter.

Rejeição da Razão Pura como Fundamento. Schopenhauer critica a ideia de uma moral racional a priori, argumentando que a ação humana é motivada por uma vontade egoísta, determinada pelo nosso caráter.

Imperativo Categórico como Construção Vazia. Schopenhauer considera o imperativo categórico kantiano uma "proposição vazia", sem sustentação real, e o vê como um processo de pensamento puramente lógico e não um princípio moral.

Crítica ao Conceito de Dever. Schopenhauer questiona a noção de "dever" kantiano, argumentando que, sem a expectativa de recompensa ou punição, o dever seria um conceito vazio. Assim, o dever é uma contradictio in adjecto porque só faria sentido sustentado por uma recompensa ou ameaçado por um castigo.

Prioridade do Egoísmo. Para Schopenhauer, o egoísmo é a principal força motivadora da ação humana, e a moral kantiana, ao ignorar essa realidade, não tem base empírica. Mais do que isso, em detrimento da racionalidade da lei, é o egoísmo que impera em nossas ações.

O Caráter como Base da Moral. Schopenhauer afirma que nossas ações são fruto do nosso caráter, que só se revela pela experiência, e não de leis ou princípios racionais.

Vontade como Núcleo Metafísico[ii]. Schopenhauer recupera o a priori para fundamentar a vontade como a base da moral, como sendo a própria coisa em si.

Razão Secundária. Schopenhauer considera a razão secundária em relação à vontade. A razão serve para a comunicação entre seres racionais, mas a vontade é o núcleo da ação.

Comparação e Contraste

Aspecto

Kant

 Schopenhauer

Fundamento da Moral

Razão pura, a priori, imperativo categórico

Vontade, caráter, egoísmo, motivos empíricos

Liberdade

Transcendental (especulativa) e prática (autonomia da vontade)

Livre-arbítrio é uma ilusão; a ação é determinada pelo caráter

Dever

Essencial, incondicionado, agir por respeito à lei moral

Conceito vazio sem recompensa ou punição; ligado a coerção

Motivação

Razão, lei universal, respeito à lei moral

Egoísmo, motivos empíricos, busca pelo bem-estar

Papel da Razão

Primária, legisladora, orienta a ação moral

Secundária, serve para comunicação e compreensão do mundo, não para determinar a ação moral

Natureza Humana

Seres racionais capazes de agir de acordo com a lei moral; dualidade sensível e inteligível

Determinados por sua vontade egoísta e caráter; razão como ferramenta de comunicação e não guia moral

Metodologia

Parte do saber comum, passa pelo campo filosófico para construir a razão prática

Parte da crítica à moral Kantiana para fundamentar sua própria moral

 

Conclusão

O artigo demonstra como Schopenhauer radicalmente se opõe à moral kantiana. Enquanto Kant busca uma fundamentação racional, universal e autônoma da moral, Schopenhauer aterrissa essa discussão na realidade concreta do egoísmo e da vontade que, para ele, são as forças motrizes da ação humana. A ética de Schopenhauer não é racional, mas sim baseada na experiência e no caráter individual. Essa crítica de Schopenhauer à filosofia de Kant marca uma mudança significativa na história do pensamento ético, deslocando o foco da razão para a vontade e o caráter como elementos centrais da ação moral. 



[i] Resumo fornecido pelo NotebookLM da dissertação final da disciplina de FILOSOFIA GERAL IV, relativo ao 1º Semestre de 2016 e ministrada pelo Prof. Eduardo Brandão. NotebookLM (Google NotebookLM) is a research and note-taking online tool developed by Google Labs that uses artificial intelligence (AI), specifically Google Gemini, to assist users in interacting with their documents. It can generate summaries, explanations, and answers based on content uploaded by users. It also includes "Audio Overviews", which summarizes documents in a conversational, podcast-like format. The team building the product includes popular science author Steven Johnson and product manager Raiza Martin. (https://en.wikipedia.org/wiki/NotebookLM). Ementa: https://drive.google.com/file/d/111cO0WCz6DT8yvZMjQB-norPdu2y9Lln/view?usp=drive_link. Dissertação: https://drive.google.com/file/d/14UMwBCb_aQnx0_qE3F8eGHGQrjJFD5jh/view?usp=drive_link.

[ii] Aqui necessita aprofundamento. A vontade é a força motriz fundamental e metafísica da existência, um impulso cego e irracional que determina nossas ações e que o egoísmo, determinado pelo nosso caráter e não por leis morais racionais, é a principal lei de motivação. 

domingo, 1 de dezembro de 2024

O peso da consciência

 Procura mostrar como a consciência muda seu estatuto, na modernidade, de ontológico para lógico[i]

De um lado o racionalista Descartes, de outro o empirista Hume e sintetizando-os, Kant. Esse é um esquema bem conhecido e vejamos o recorte que faz Vitor Lima. O professor recapitula a sua abordagem da alma/mente: nos gregos e medievais, valorizava-se a racionalidade humana, como capacidade de nos diferenciar dos outros animais. Uma alma, tomando todos os seres, abrange instintos e desejos, mas quando a alma é vista sob o prisma racional do intelecto e vontade, ali no final da Idade Média, já estamos delimitando o que seria a mente.

Na modernidade, a mente passa desse aspecto racional para o aspecto introspectivo, isto é, vista a partir de uma perspectiva interna, da consciência. É a coisa pensante cartesiana. Isso mesmo, “res cogitans” com atributos que diferem da coisa material, “res extensa”. Para Descartes, somos seres pensantes.

Já Hume, via a questão por outro prisma. Para ele o nosso conhecimento vem dos sentidos, da experiência e não é algo inato. É uma abordagem baseada na percepção, seja pelo que nos vem de fora ou seja pelo que pode ser percebido internamente, um tipo de percepção particular oriunda do exterior, mas que se pode articular. Porém, diferentemente de um polo invisível que nos comanda, há uma mente com impressões e ideias, quais sejam, as percepções que não incluem aí um "eu". O “eu” não é observável, tampouco, internamente. As percepções são particulares, e o que as percepções percebem são só percepções, não há "eu" lá. Quando Hume olha para dentro ele não vê o eu cartesiano e ele o caracteriza como simplesmente um sensor interior, segundo caracterização. E o professor traz a seguinte citação: “Não há impressão do Eu e nenhuma ideia do Eu. Há apenas aglomerados de impressões e ideias.”[ii]

De um lado, impressões e ideias, de outro uma consciência acabada. Será, então, Kant que vai unir as duas concepções, e postular que o “eu penso” existe, mas não tem conteúdo, ele é a condição lógica para que haja pensamento. Kant conceitua a mente nas capacidades cognitivas, de sentir dor e prazer e a de desejar. O primeiro é analisado na Crítica da Razão Pura e dividido em entendimento, razão e juízo. Se a razão é livre (especulativa), o entendimento se guia pela experiência e forma conceitos dados pelas categorias. Ele une os itens da percepção na consciência, numa autoconsciência, conforme já postulava Descartes.

Segundo o professor Vitor, a câmera captura os dados dos sentidos, mas não é consciente de si. Para Kant as percepções que nos chegam pelo sentido, que são caóticas, se organizam pela apercepção, essa a priori. Empírico, de maneira direta e transcendental, esse “algo” que organiza, já que o mundo em si é desorganizado. Se o mundo é o mundo, cada ser percebe seus efeitos de determinada maneira. Em nosso caso é um algo lógico e a priori. Transcendental, mas não transcendente, dependente de outro mundo. A unidade da experiência se dá pela síntese das intuições, não percebida empiricamente.

A apercepção ressignifica o eu penso, não por observação direta que vê um algo, mas é um a priori que unifica e garante a percepção. Se existe um "eu mesmo" consciente e que pensa, nada podemos dizer do que ele é, embora saibamos que há necessidade de colocar a experiência nessa equação. Na psicologia empírica, argumenta Vitor, a alma é um objeto do sentido interior e na racionalista ela é o sujeito pensante. Ora, deve haver um "eu penso", uma autoconsciência que acompanha os pensamentos, mas a razão pura tem paralogismos também, isto é, falsos silogismos que permitiriam a inferência de um "eu" como coisa pensante. Embora a razão prática vá readmitir determinados conceitos que a sua epistemologia afastou e que trará diretrizes de como viver e agir.



[i] Seguindo o curso de Vitor Lima, esse é o fichamento de Filosofia da Mente: alma na Filosofia Moderna (Parte 2), que trata de Hume e Kant. Conforme https://youtu.be/xHH9yIpd6No, em 30/11/2024.

[ii] Minuto 26.

sábado, 30 de novembro de 2024

Os argumentos da princesa

Acerca da conceituação dualista e problemas[i]

O aristotélico Tomás de Aquino entendia a mente como algo que nos diferenciava dos animais, já que nos permitiria fazer abstrações e uso da vontade para controlar os apetites. Na modernidade, Descartes introduziu grande mudança na concepção de mente, pois passou a valorizar a introspecção, que já havia sido abordada por Agostinho, mil anos antes. Poderíamos olhar para dentro de nossa mente e enxergar visões, ter dores, prazeres, enfim, a experiência humana não seria reduzida nem ao material nem ao racional.

A sensação era tomada como algo da ordem do mental, um tipo de sensação autêntica além do corpo mecânico. Nos animais faltaria a consciência para, por exemplo, sentir uma dor consciente. O mundo, então, estimularia um corpo e ativaria estímulos interpretados pelo aparelho cognitivo animal ou por uma câmera de vídeo, conforme exemplo de Vitor Lima. Mas a câmera “sente”? Evidentemente não, então agrega-se uma consciência e passamos para uma sensação consciente nos humanos, mas não nos animais. Houve um deslocamento da racionalidade da mente para a consciência e esse aspecto continua em perspectiva até hoje, haja visto que é exatamente o que falta para a inteligência artificial. Contudo, resumindo o argumento, é a consciência que nos distingue dos animais, segundo Descartes[ii].

Relembremos, a partir da dúvida hiperbólica Descartes chega no "eu penso", mas o que é esse “eu” que existe, que pensa? Nesse sentido, retomando a anatomia da alma, o “eu” pensa, nega, quer, imagina e sente. Vitor ressalta que o pensamento cartesiano abrange intelecto, volição, sensação e emoção, quer dizer, tudo o que está dentro de nós (introspectivamente falando) e do que somos conscientes.

Lembremos que o intelecto de Aquino apreendia algo não complexo e que algo é ou não outra coisa, pela composição ou divisão. Em Descartes, tudo vira atos de pensamento, seja pela concepção de ideias, como um ato intelectual, pensar ideias claras e distintas, seja pela articulação de ideias como ato volitivo, que é compor ideias (“2 + 2 = 4 é verdadeiro”). Então, há o intelecto como faculdade de conhecer e a vontade como faculdade de escolher. É a vontade que trata com a realidade, no âmbito da ação, da omissão ou dúvida. Exceto percepções claras e distintas, das quais não se pode duvidar.

A ideia clara e distinta distintiva para Descartes é o “penso, existo”, que é uma resposta para o cético que duvida que se possa chegar ao conhecimento. Interessante notar o que Vitor reforça: quando Descartes duvida de tudo, mesmo que ele duvide do pensamento, essa dúvida reforça o pensamento, já que a dúvida é um pensamento. Aí a vontade precisa comprovar que isso é verdadeiro.

Sobre o dualismo, Vitor mostra que, uma que vez que compreendamos duas coisas, uma sem a outra, clara e distintamente, elas são separadas, mesmo que seja por Deus. Se concebemos corpo e mente como separados, então eles existem separadamente. Isso é dado na filosofia cartesiana que considera nossa essência uma coisa pensante, não corporal. No limite, nosso pensamento poderia ser transferido para algum outro lugar que não o cérebro. Seria possível conceber o nosso pensamento executando em uma máquina.

Como contingentemente somos compostos por mente e corpo, torna-se ponto vulnerável explicar como eles, com diferentes naturezas, se comunicam. Esse ponto é que será questionado pela princesa Elizabeth da Bohemia: como a alma, sendo pensante, pode determinar ações voluntarias? Movimento requer contato físico e extensão, coisas que a alma não é, se considerada imaterial.

Se há relação entre pensamento e cérebro, e isso pode ser comprovado pela neurociência atualmente, não é possível ver pensamentos no cérebro, só sinapses. Coisa material e coisa pensante tem atributos opostos, uma tem lugar no espaço e a outra não, se uma se divide, a outra é indivisível, para uma há leis físicas e para a outra há leis racionais e, por fim, uma se conhece pelos sentidos e a outra pela introspecção. Os pensamentos, como a ideia de beleza, existem mas não estão no cérebro, já diria Platão. O medo não pode ser tocado, mas é percebido. Uma mão se mexe por um impulso nervoso oriundo de alguma substância física, mas resta saber o que a originou, por outro lado.

Eis a pertinência da pergunta da princesa, como duas coisas quase opostas se relacionam? É o desafio do dualista, é o erro de categoria tratado por Ryle. Descartes propôs que a interação se daria pela glândula pineal que ainda está na esfera material, então a questão ficou sem resposta. Mas sua grande contribuição é a conceituação da consciência, que nos atinge até hoje.



[i] Conforme https://youtu.be/PBgONHORXZI, em 21/11/2024. Filosofia da Mente: alma na Filosofia Moderna (Parte 1), canal Isto não é Filosofia. Este curso explora o tema da mente, dividindo-se em três abordagens distintas: histórica, problemática e temática. O objetivo é fornecer uma visão aprofundada dos conceitos filosóficos que envolvem a mente, suas relações com o corpo, a inteligência artificial e o livre-arbítrio. O Módulo 1 aborda o desenvolvimento histórico da concepção de mente e alma, desde os filósofos antigos até o pensamento contemporâneo, destacando a evolução das ideias ao longo dos séculos. O Módulo 2 examina as questões problemáticas que surgem na relação entre mente e cérebro, explorando as diferentes teorias que tentam explicar essa relação, como o materialismo, o dualismo e o funcionalismo. Finalmente, no Módulo 3, o curso adota uma abordagem temática, dividindo-se em dois tópicos centrais: inteligência artificial e livre-arbítrio. Embora distintos, esses temas são fundamentais para compreender os desafios filosóficos atuais. A parte sobre inteligência artificial aborda as implicações da tecnologia no entendimento da mente, enquanto o tema do livre-arbítrio explora as discussões filosóficas sobre a autonomia humana. Ao todo, o curso conta com 23 aulas distribuídas ao longo de 6 meses, proporcionando uma análise profunda e abrangente dos debates filosóficos sobre a mente e suas implicações na era moderna.

[ii] Porém, esse âmbito do mental, isto é, da consciência, só é acessível individualmente, como já tratamos aqui no espaço do blog em outros textos, por exemplo em “Haveria independência entre a mente e o comportamento?*” https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/02/haveria-independencia-entre-mente-e-o.html. Assim, o acesso direto é só de primeira pessoa e não há garantia do acesso a outras mentes, levantando um problema epistemológico. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O vermelho não tem cor

O texto passa por conceitos de Tomás como intelecto, vontade e imortalidade da alma. Há, na sua doutrina, elementos que serão emprestados por Kant, Hume, Descartes.[i]

Assim como Aristóteles[ii], Aquino também identifica três tipos de alma, mas para ele o ser humano só tem a alma racional que abarca as outras duas. Ocorre que há uma hierarquia do intelecto e da vontade compondo nossa racionalidade e servindo de base para o conhecimento e a ética.

Vitor destaca que há uma concepção de alma sobrevivendo ao corpo, que permeia o discurso antigo, e Tomás acrescenta um traço de como nos relacionamos com o mundo e com nós mesmos. São os campos da epistemologia e da ética e a passagem mais clara do conceito de alma para o de mente. Não esquecendo a metafísica, já que há interesse em se classificar do que a alma é feita, que não é o material. Por fim, nos medievais a questão existencial passa da busca para a felicidade dos gregos para uma vida beata[iii] ou com Deus.

O professor traz um esquema sobre as partes da alma no período que vale a reprodução:

 

Dimensão cognitiva

Dimensão volitiva

Nível racional

Intelecto

Vontade

Nível animal

Sensação

Desejo

Segundo ele, Tomás entende que a alma pertente ao domínio racional somente e apresenta capacidades cognitivas, para coleta de informações e apetitivas, orientadas por uma meta.

A abordagem de Tomás distingue a mente, que se coaduna com uma alma racional, da consciência, que é tratada como percepção no nível animal. Parece ser uma primeira divisão entre mente e consciência. Então a mente apresenta pensamentos abstratos (cognição) e toma decisões racionais (vontade). Especificamente, se os animais pensam, o ser humano tem a intelecção que é articulada pela linguagem, seja de modo gramatical ou lógico. Inteligência para articular pensamentos linguisticamente, seja pela apreensão de coisas ou pela capacidade de composição e divisão. Por um lado, “isso é algo” (pensamento “de” algo), por outro, “isso não é aquilo” (pensamento “que” algo é ou não é).

De acordo com Vitor, o intelecto capta universais que estão além da sensibilidade e imaginação, dados da realidade. O universal pode ser classificado, por exemplo, como um conjunto de indivíduos com certas características. Se tomamos o vermelho, ele é tido como o conjunto dos indivíduos vermelhos, mas o vermelho universal não tem cor e não pode ser imaginado e nem sentido, somente inteligido. Sentidos e imaginação, sim, lidam com particulares.

Caracterizando mais o intelecto, seu objeto é a essência ou quididade[iv], aquilo que define o que é uma coisa, o que faz aquela coisa ser exatamente o que é e opera abstraindo a partir de representações imaginárias. Mas, como não é um empirista, para Tomás há um intelecto agente, próprio somente dos humanos, capaz de abstrair ideias universais, mas também não sendo racionalista, não acredita em ideias inatas. Para ele, temos um intelecto receptivo que recebe as ideias e crenças do intelecto ativo. Do mesmo modo, os universais em nosso intelecto se convertem em representações imaginárias para serem comunicadas aos outros[v].

Portanto, citemos passagem de Vitor Lima: “Tendo em vista que o intelecto opera por universais, é impossível haver conhecimento puramente intelectual de indivíduos. A matéria é o princípio de individuação”[vi]. Assim, nossa essência não diz nada do que somos individualmente, nossa essência é sermos um animal racional. Para conhecer individualmente temos que agregar os aspectos empíricos e mutáveis, assim não estamos mais no campo intelectual.

Sobre a vontade, conceito similar ao de razão prática em Aristóteles, há também a busca pela felicidade guiando nossas escolhas, assim como em Agostinho. Se o intelecto é cognitivo, a vontade é apetitiva e se direciona a orientar os desejos, mas ela trabalha em associação com o intelecto pois trata de uma carência oriunda dele que é a busca por felicidade. Ocorre que o nosso movimento se dá por impulsos no campo dos apetites, mas que são controlados ela vontade. Ela funciona por meio de atos diretos, que são decisões internas e atos comandados, pertencentes ao corpo, ações físicas. Nesse contexto surgem os atos voluntários como conclusão de raciocínios práticos que se guiam por uma coisa boa ou meio para se atingir algo.

Por fim, Tomás de Aquino acreditava que a alma era imaterial e imortal, princípio de operação do intelecto. Ela deveria ser diferente do corpo para poder conhecê-lo, pois se fossem da mesma natureza não o conheceria por inteiro. Isto é, o ser humano precisa da alma para poder conhecer, conhece por meio dela. Salienta-se, então, corpo e alma, o corpo conhece e intelige pela alma e ela não se confunde com a pessoa. Na morte, o “eu” não sobrevive, somente a alma.

Por fim, Vitor resume a anatomia da alma como se segue.

Intelecto

Vontade

Intelecto ativo (universais)

Atos eliciti (internos - mente)

Intelecto receptivo (particulares)

Atos imperati (externos - corpo)

 



[i] Conforme aula de Vitor Lima no YT - Filosofia da Mente: alma na Filosofia Medieval (Parte 2): https://youtu.be/G-je8XXgRwM. Filosofia da Mente (curso): aula de abertura: https://youtu.be/zHjo3whbSgs.

[iii] Uma forma de vida beata pode ser encontrada aqui: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/01/a-imanencia-uma-vida.html.

[iv] No longínquo 2014, falamos da Cavalidade que é um exemplo de quididade: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2014/02/cavalidade.html. Tratamos do cavalo novamente em 2024, entendendo que Berkeley não acreditava em uma ideia abstrata, um universal inexiste, não passa de uma palavra: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/01/breves-ideias-sobre-locke-berkeley.html. Nos idos de 2016 investigamos a quididade no contexto aristotélico, atribuindo uma identidade entre a substância e sua essência, imanente a ela: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/03/a-primeira-doutrina-da-substancia.html.

[v] Aqui Vitor traz uma analogia interessante: a filosofia trataria dos universais enquanto a literatura dos particulares, porém uma dependente da outra.

[vi] Esse é um tema que será trabalhado por Simondon, o processo de individuação.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Uma narrativa da mente

Traz aspectos de uma teoria funcionalista sobre a consciência que opera como narrativa da mente[i]

Teixeira inicia a abordagem da consciência em Dennett ressaltando que, embora a inteligência artificial (IA) tenha tido um grande avanço em seu desenvolvimento, ela não explica a consciência. Mesmo na ficção é possível assistir a grandes personagens que são máquinas conscientes, embora inteligência e consciência sejam coisas distintas. Por exemplo, o vírus HIV tem um comportamento que pode ser dito inteligente, mas não podemos dizer que é consciente. Mas a teoria da mente que mais se aproxima da IA é a funcionalista e se ela pudesse explicar a consciência haveria grande espaço para a chancela da IA como coisa consciente.

Para Dennett, então, a consciência é a narrativa do que ocorre na mente. Ele distingue um aspecto mais elementar de consciência que é a capacidade de deliberação, isto é, do controle do comportamento que significaria estar consciente para executar as ações. Porém, elaborar narrativas vai além disso: é ter a capacidade de realizar escolhas do que será feito a seguir. Nesse sentido, Dennett é signatário de Ryle[ii], ou seja, ambos não tratam a consciência como uma unidade, não pensam que possa haver uma mente una e indivisível se opondo a matéria infinita e divisível e seria utopia buscar por um lócus da consciência, embora parte da neurociência caminhe nessa direção.

Dennett entende que somos uma coleção difusa de vozes e fragmentos. Com uma postura deflacionária, a consciência é caracterizada com uma construção que atribuímos aos outros e não faz sentido buscarmos por seus correlatos neurais. Da mesma forma que Ryle, então, Dennett confronta o mito cartesiano de um coordenador central administrando nosso corpo e de um pano de fundo onde estariam inscritas as nossas experiências conscientes. Pleiteando um modelo descentralizado nos livramos do peso ontológico do “eu-penso” e do caminho que desemboca na figura do pai, do estado ou de deus.

A teoria dennettiana da consciência é empírica e toma por base o conceito de Pandemonium criado por Selfridge que permite reconhecer padrões mal definidos. Tal conceito será abordado a seguir.



[i] Começando o segundo capítulo de A mente segundo Dennett, de, João de Fernandes Teixeira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008.

[ii] Sobre Ryle: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/11/revisitando-o-mito-cartesiano.html. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Revisitando o mito cartesiano

Comentários sobre o mito cartesiano[i]

Descartes acreditava que nosso corpo é só uma máquina e tudo o que ocorre em termos de pensamentos, sentimentos e a consciência estariam em uma “casa” não física e inacessível aos outros (então, como a terapia funcionaria?).

O erro categorial é imaginar que um conceito, por exemplo, a universidade é uma coisa como se fosse os prédios, ruas, bibliotecas e praças que a compõem. Então, onde estaria “a universidade”? Ora, não há uma universidade materializada, ela é apenas um conceito. É um erro de princípio imaginar que o conceito e a coisa pertencem ao mesmo tipo de categoria.

É um erro tratar a mente como uma “coisa” separada do corpo, como se fosse um governador que controla o corpo. Não haveria, então, processos mentais separados do corpo, não haveria uma mente e um corpo. É uma falsa oposição, assim como não faz sentido opor idealismo e materialismo, a questão está mal colocada. Ou determinismo e livre-arbítrio. Ter que tomar parte é outro erro categorial.

Como não trata a mente como uma sala de controle dentro da máquina corporal, Ryle argumenta que não estados mentais privados, mas disposições corporais. Tomando como exemplo a generosidade, ela não é algo que está “dentro” de nós, mas uma disposição de agirmos com generosidade. Não é uma força interna misteriosa, algo que deveríamos procurar dentro de uma mente.

Da mesma forma, inteligência é resolver problemas ou a capacidade de aprender. Algo prático, portanto. Em se tratando de disposições, isso não significa que sejamos um autômato que não tem escolhas: volta-se ao erro de categoria do determinismo em oposição ao livre-arbítrio, já que esse não é um poder misterioso. Livre-arbítrio não passa de uma capacidade de agir conforme nossa razão ou nossos desejos determinem.

Nesse sentido, nossas decisões não partem de um controlador central já que a mente se mistura com o corpo e há múltiplos fatores competindo em nossas deliberações. Fatores baseados em nossas experiencias e escolhas já realizadas.

Não menos importante é o aviso de que um vocabulário de cunho mentalista traz termos que podem nos levar ao tratamento de complexidades desnecessárias. Nos leva a falsa escolhas entre idealismo e materialismo, corpo e mente, entre outras. Enfatiza-se que determinadas palavras podem nos confundir na análise dos nossos comportamentos e do funcionamento da mente. Há que se prestar atenção no uso da linguagem para evitar cairmos em erros categoriais. Vale uma reflexão entre a teoria filosófica e a vida ordinária.

Post-script: podemos especular que submeter a mente a leis próprias, do ponto de vista epistemológico, poderia leva-la ao determinismo, já que haveria ali leis fixas. Por outro lado, eticamente falando, desassocia-se a mente do mundo, como se ela não dependesse de nossa experiencia.

 

Mito cartesiano

https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2020/05/o-mito-de-descartes-doutrina-oficial.html

Doutrina Oficial

Corpo: publico

Mente: privado: conhecimento indubitável – suspensão do juízo

Exterior x interior: metáfora – estímulos longínquos – afeta um controle central

Transições: psicologia x fisiologia

Representação cartesiana??

Dois tipos de existência, tempos diferentes, diferentes objetos

Robson Crusoé

Objeção: Freud e o inconsciente

Observação da vida interior: não se pode falar da vida interior dos outros

Corolário

Alicerce para construção de teorias... Lugar da mente e sua natureza!

Absurda da Doutrina

Erro em princípio – erro de categoria

Espírito de equipe x ações = terceira coisa?

Erro teórico x erro de conceito: igualar corpo e mente

Portanto: fantasma

Origem do erro

Mecânica de Galileu: mente fora (cunho moral)

Hobbes: mundo mecânico

Problema gramatical: vocabulário invertido para a mente

Como explicar a causação

Determinismo x Libre Arbítrio

Criterios de primeira pessoa x de terceira pessoa

Exemplo Dickens

Conjugar processos mentais e físicos

Consequências: acabar com a crença dessa divisão infundada

Ryle: deflacionário

Nota histórica

            Influência de teorias teológicas sobre descartes



[i] Revisitando o mito com a ajuda de um vídeo criado por humano e um áudio criado por máquina. “Baby, oh, baby, Bem-vinda ao século XXI”. https://youtu.be/AzHlhuLAFY4  https://youtu.be/XUeAQXL_0jc 

sábado, 9 de novembro de 2024

Repetição e esquecimento

“Faça isso.” Tic-tac-tic-tac. “Não fez? Vê se não esquece!” Tic-tac-tic-tac. “Fez? Ah, não é desse jeito! Está errado!”

Pedido – esquecimento – novo pedido – execução – culpa.

Esse tipo de cenário é corriqueiro em nossas vidas e exatamente a quantidade de esquecimentos entre os pedidos pode variar bastante. Há situações, falemos de duas.

Situação banal de esquecimento: com a quantidade atual de informações que nos atingem e com a diversidade de atividades que fazemos concomitantemente, há dificuldade em se prestar atenção. A origem aqui pode ser a ausência de concentração ou dificuldade de priorização.

Situação distinta de esquecimento: idosos esquecem, ponto. Não há o que fazer, está dado e pode haver inúmeras causas oriundas de uma vida inteira e de uma situação atual. Idosos não são culpados por esquecer e, pensando inversamente, a criança é culpada por esquecer? “Obedeça!” Bem, deixemos esse assunto para outra ocasião.

Dito isto, repetição é a palavra do momento. Mas qual o problema em repetir? E por que a não execução indica culpa? Ora, ora, vida corrida, vida ingrata, vida dispersa.

O problema não deveria ser o esquecimento, mas em se tratar como problema a repetição. Ouvi de um professor longevo que o que mais fez na vida foi repetir! Cantores repetem as mesmas músicas por anos a fio.

Se olharmos atentamente, a repetição não é ato simples: a repetição é do mesmo? Quando vamos ao banheiro fazer xixi, obviamente fazemos xixi, mas é sempre o mesmo xixi? Repetição de palavras, de ideias, repetição de sons, de ações. Repetições que se repetem sem se repetirem. Podemos considerar que uma repetição não é simplesmente uma repetição porque nunca é a mesma coisa, senão não seria repetição, seria a mesma coisa.

Então, a repetição de duas coisas apresenta uma diferença e é exatamente essa diferença que se sobressai para que possamos entender a constituição do processo da repetição. Por que ela ocorre e qual sua meta? No caso da repetição de um pedido ou ordem, qual ênfase que é dada em determinadas palavras? Qual o tom de voz ou a abordagem que suscita a diferença entre duas repetições de um pedido malfadado? A ordem envolve quem manda e quem obedece e nesse jogo ambos os atores devem se empenharem para que haja um resultado satisfatório.

Já para Nietzsche, a repetição é conceito central e o eterno retorno fundante para o sentido da vida. Ou seja, o telos não é algo adiante, mas algo que voltará. Não deveríamos viver a vida esperando uma recompensa futura já que vamos voltar do mesmo, cometendo os mesmos erros e sentindo as mesmas culpas. Importa viver aqui e agora. Sendo assim, o tic-tac-tic-tac não é de espera, ansioso por um novo pedido ou pela repetição do pedido anterior. Nada disso, clamemos por um tic-tac-tic-tac demorado, que permita reflexão e elaboração. Ou, de modo diverso, se não vamos escapar do céu ou do purgatório, como diria Juca Teles, vamos pular o carnaval!

Voltando ao que cochichou o professor, depois de tratarmos da repetição em sua ontologia ou ética, voltemos à repetição pedagógica que ele a nós assoprou remetendo a Paulo Freire. Ela vai no sentido que dizíamos, de que a repetição é um processo de formação de consciência e não repetição mecânica. Repetição com diálogo e aprofundamento, com entendimento da situação prática dos envolvidos e que nos leve a melhores interações e uma vida melhor.

Post Script: esse texto contou com um pouco de filosofia de botequim, um pouco de referências pessoas e muita ajuda do conhecimento sintetizado no deusgpt.

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Você disse: resuma brevemente o livro diferença e repetição de deleuze. O ChatGPT disse:

Diferença e Repetição (1968) de Gilles Deleuze é uma obra central da filosofia contemporânea que critica a tradição metafísica ocidental, onde predominam as ideias de identidade e representação. Em vez disso, Deleuze explora a diferença em si, separada de uma referência a um "mesmo" ou a uma identidade fixa.

O livro propõe que a filosofia, a ciência e a arte devem se concentrar mais na diferenciação e na repetição como processos criativos e produtivos. Ele argumenta que a repetição não é simplesmente a repetição do mesmo, mas uma expressão de diferença, e que as estruturas da realidade, da natureza à sociedade, emergem de forças que se diferenciam continuamente.

Essa obra complexa e abstrata abre caminho para uma filosofia do devir e influencia muitos campos, incluindo a teoria crítica, a psicanálise e os estudos culturais. Deleuze questiona a necessidade de pensar o mundo em termos de unidades idênticas e propõe uma abordagem mais fluida e diversa para o pensamento e a existência.

Você disse: qual o sentido da repetição para Nietzsche? O ChatGPT disse:

Para Nietzsche, a repetição é abordada principalmente através do conceito do "eterno retorno" (ewige Wiederkehr), que é uma das ideias centrais em sua filosofia. Esse conceito sugere a hipótese de que tudo na existência se repete infinitamente, em um ciclo eterno. No entanto, Nietzsche não entende essa ideia de forma meramente literal, mas como um experimento de pensamento e um desafio existencial.

O eterno retorno serve como uma espécie de teste ético e existencial. A ideia é perguntar a si mesmo: "Se minha vida, com todas as suas dores, alegrias, erros e acertos, se repetisse eternamente, eu a desejaria mesmo assim?" A repetição, assim, é uma prova de amor à vida, um convite para viver plenamente e afirmar a existência tal como ela é, sem arrependimentos. Nietzsche chama essa postura de amor fati (amor ao destino): aceitar a vida em sua totalidade, com suas inevitáveis dificuldades, como algo que se escolheria infinitamente.

Esse conceito da repetição desafia a visão cristã e platônica de uma vida linear com um propósito ou redenção final. Em vez disso, Nietzsche usa a repetição para promover uma filosofia do aqui e agora, em que o valor da vida se encontra em vivê-la intensamente e de forma afirmativa.

Você disse: qual o sentido da repetição para paulo freire. O ChatGPT disse:

Para Paulo Freire, a repetição tem um papel transformador no processo educacional e no desenvolvimento da consciência crítica. Ao contrário de uma repetição mecânica, que reforça a memorização sem compreensão, Freire defende uma repetição dialógica e reflexiva, em que os alunos revisitam conceitos para aprofundar o entendimento e conectar o aprendizado à sua realidade.

No método pedagógico de Freire, a repetição é parte de uma prática crítica que leva à conscientização (conscientização), em que os educandos repetem processos de reflexão, discussão e ação. Esse tipo de repetição estimula a criação de sentido, ajudando os alunos a questionar e transformar suas condições de vida. Freire acredita que a verdadeira educação deve ser um processo contínuo de transformação, em que o conhecimento é construído coletivamente e criticamente.

Em resumo, para Paulo Freire, a repetição, quando usada como uma ferramenta de diálogo e reflexão, é essencial para consolidar a aprendizagem crítica, permitindo que o estudante avance em seu processo de emancipação e transformação social.