“Faça isso.” Tic-tac-tic-tac. “Não fez? Vê
se não esquece!” Tic-tac-tic-tac. “Fez? Ah, não é desse jeito! Está errado!”
Pedido – esquecimento – novo pedido –
execução – culpa.
Esse tipo de cenário é corriqueiro em
nossas vidas e exatamente a quantidade de esquecimentos entre os pedidos pode
variar bastante. Há situações, falemos de duas.
Situação banal de esquecimento: com a quantidade
atual de informações que nos atingem e com a diversidade de atividades que
fazemos concomitantemente, há dificuldade em se prestar atenção. A origem aqui pode
ser a ausência de concentração ou dificuldade de priorização.
Situação distinta de esquecimento: idosos
esquecem, ponto. Não há o que fazer, está dado e pode haver inúmeras causas
oriundas de uma vida inteira e de uma situação atual. Idosos não são culpados
por esquecer e, pensando inversamente, a criança é culpada por esquecer? “Obedeça!”
Bem, deixemos esse assunto para outra ocasião.
Dito isto, repetição é a palavra do
momento. Mas qual o problema em repetir? E por que a não execução indica culpa?
Ora, ora, vida corrida, vida ingrata, vida dispersa.
O problema não deveria ser o esquecimento,
mas em se tratar como problema a repetição. Ouvi de um professor longevo que o
que mais fez na vida foi repetir! Cantores repetem as mesmas músicas por anos a
fio.
Se olharmos atentamente, a repetição não é
ato simples: a repetição é do mesmo? Quando vamos ao banheiro fazer xixi, obviamente
fazemos xixi, mas é sempre o mesmo xixi? Repetição de palavras, de ideias,
repetição de sons, de ações. Repetições que se repetem sem se repetirem. Podemos
considerar que uma repetição não é simplesmente uma repetição porque nunca é a
mesma coisa, senão não seria repetição, seria a mesma coisa.
Então, a repetição de duas coisas apresenta
uma diferença e é exatamente essa diferença que se sobressai para que possamos
entender a constituição do processo da repetição. Por que ela ocorre e qual sua
meta? No caso da repetição de um pedido ou ordem, qual ênfase que é dada em
determinadas palavras? Qual o tom de voz ou a abordagem que suscita a diferença
entre duas repetições de um pedido malfadado? A ordem envolve quem manda e quem
obedece e nesse jogo ambos os atores devem se empenharem para que haja um
resultado satisfatório.
Já para Nietzsche, a repetição é conceito central
e o eterno retorno fundante para o sentido da vida. Ou seja, o telos não é algo
adiante, mas algo que voltará. Não deveríamos viver a vida esperando uma
recompensa futura já que vamos voltar do mesmo, cometendo os mesmos erros e
sentindo as mesmas culpas. Importa viver aqui e agora. Sendo assim, o tic-tac-tic-tac
não é de espera, ansioso por um novo pedido ou pela repetição do pedido anterior.
Nada disso, clamemos por um tic-tac-tic-tac demorado, que permita reflexão e
elaboração. Ou, de modo diverso, se não vamos escapar do céu ou do purgatório,
como diria Juca Teles, vamos pular o carnaval!
Voltando ao que cochichou o professor, depois
de tratarmos da repetição em sua ontologia ou ética, voltemos à repetição
pedagógica que ele a nós assoprou remetendo a Paulo Freire. Ela vai no sentido
que dizíamos, de que a repetição é um processo de formação de consciência e não
repetição mecânica. Repetição com diálogo e aprofundamento, com entendimento da
situação prática dos envolvidos e que nos leve a melhores interações e uma vida
melhor.
Post Script: esse texto contou com um
pouco de filosofia de botequim, um pouco de referências pessoas e muita ajuda
do conhecimento sintetizado no deusgpt.
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Você disse: resuma
brevemente o livro diferença e repetição de deleuze. O ChatGPT disse:
Diferença e
Repetição (1968) de Gilles Deleuze é uma obra central da filosofia
contemporânea que critica a tradição metafísica ocidental, onde predominam as
ideias de identidade e representação. Em vez disso, Deleuze explora a diferença
em si, separada de uma referência a um "mesmo" ou a uma identidade
fixa.
O livro propõe que
a filosofia, a ciência e a arte devem se concentrar mais na diferenciação e na
repetição como processos criativos e produtivos. Ele argumenta que a repetição
não é simplesmente a repetição do mesmo, mas uma expressão de diferença, e que
as estruturas da realidade, da natureza à sociedade, emergem de forças que se
diferenciam continuamente.
Essa obra complexa
e abstrata abre caminho para uma filosofia do devir e influencia muitos campos,
incluindo a teoria crítica, a psicanálise e os estudos culturais. Deleuze
questiona a necessidade de pensar o mundo em termos de unidades idênticas e
propõe uma abordagem mais fluida e diversa para o pensamento e a existência.
Você disse: qual
o sentido da repetição para Nietzsche? O ChatGPT disse:
Para Nietzsche, a
repetição é abordada principalmente através do conceito do "eterno
retorno" (ewige Wiederkehr), que é uma das ideias centrais em sua
filosofia. Esse conceito sugere a hipótese de que tudo na existência se repete
infinitamente, em um ciclo eterno. No entanto, Nietzsche não entende essa ideia
de forma meramente literal, mas como um experimento de pensamento e um desafio
existencial.
O eterno retorno
serve como uma espécie de teste ético e existencial. A ideia é perguntar a si
mesmo: "Se minha vida, com todas as suas dores, alegrias, erros e acertos,
se repetisse eternamente, eu a desejaria mesmo assim?" A repetição, assim,
é uma prova de amor à vida, um convite para viver plenamente e afirmar a
existência tal como ela é, sem arrependimentos. Nietzsche chama essa postura de
amor fati (amor ao destino): aceitar a vida em sua totalidade, com suas
inevitáveis dificuldades, como algo que se escolheria infinitamente.
Esse conceito da
repetição desafia a visão cristã e platônica de uma vida linear com um
propósito ou redenção final. Em vez disso, Nietzsche usa a repetição para
promover uma filosofia do aqui e agora, em que o valor da vida se encontra em
vivê-la intensamente e de forma afirmativa.
Você disse: qual
o sentido da repetição para paulo freire. O ChatGPT disse:
Para Paulo Freire,
a repetição tem um papel transformador no processo educacional e no
desenvolvimento da consciência crítica. Ao contrário de uma repetição mecânica,
que reforça a memorização sem compreensão, Freire defende uma repetição
dialógica e reflexiva, em que os alunos revisitam conceitos para aprofundar o
entendimento e conectar o aprendizado à sua realidade.
No método
pedagógico de Freire, a repetição é parte de uma prática crítica que leva à
conscientização (conscientização), em que os educandos repetem processos de
reflexão, discussão e ação. Esse tipo de repetição estimula a criação de
sentido, ajudando os alunos a questionar e transformar suas condições de vida.
Freire acredita que a verdadeira educação deve ser um processo contínuo de
transformação, em que o conhecimento é construído coletivamente e criticamente.
Em resumo, para
Paulo Freire, a repetição, quando usada como uma ferramenta de diálogo e
reflexão, é essencial para consolidar a aprendizagem crítica, permitindo que o
estudante avance em seu processo de emancipação e transformação social.
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