sábado, 9 de novembro de 2024

Repetição e esquecimento

“Faça isso.” Tic-tac-tic-tac. “Não fez? Vê se não esquece!” Tic-tac-tic-tac. “Fez? Ah, não é desse jeito! Está errado!”

Pedido – esquecimento – novo pedido – execução – culpa.

Esse tipo de cenário é corriqueiro em nossas vidas e exatamente a quantidade de esquecimentos entre os pedidos pode variar bastante. Há situações, falemos de duas.

Situação banal de esquecimento: com a quantidade atual de informações que nos atingem e com a diversidade de atividades que fazemos concomitantemente, há dificuldade em se prestar atenção. A origem aqui pode ser a ausência de concentração ou dificuldade de priorização.

Situação distinta de esquecimento: idosos esquecem, ponto. Não há o que fazer, está dado e pode haver inúmeras causas oriundas de uma vida inteira e de uma situação atual. Idosos não são culpados por esquecer e, pensando inversamente, a criança é culpada por esquecer? “Obedeça!” Bem, deixemos esse assunto para outra ocasião.

Dito isto, repetição é a palavra do momento. Mas qual o problema em repetir? E por que a não execução indica culpa? Ora, ora, vida corrida, vida ingrata, vida dispersa.

O problema não deveria ser o esquecimento, mas em se tratar como problema a repetição. Ouvi de um professor longevo que o que mais fez na vida foi repetir! Cantores repetem as mesmas músicas por anos a fio.

Se olharmos atentamente, a repetição não é ato simples: a repetição é do mesmo? Quando vamos ao banheiro fazer xixi, obviamente fazemos xixi, mas é sempre o mesmo xixi? Repetição de palavras, de ideias, repetição de sons, de ações. Repetições que se repetem sem se repetirem. Podemos considerar que uma repetição não é simplesmente uma repetição porque nunca é a mesma coisa, senão não seria repetição, seria a mesma coisa.

Então, a repetição de duas coisas apresenta uma diferença e é exatamente essa diferença que se sobressai para que possamos entender a constituição do processo da repetição. Por que ela ocorre e qual sua meta? No caso da repetição de um pedido ou ordem, qual ênfase que é dada em determinadas palavras? Qual o tom de voz ou a abordagem que suscita a diferença entre duas repetições de um pedido malfadado? A ordem envolve quem manda e quem obedece e nesse jogo ambos os atores devem se empenharem para que haja um resultado satisfatório.

Já para Nietzsche, a repetição é conceito central e o eterno retorno fundante para o sentido da vida. Ou seja, o telos não é algo adiante, mas algo que voltará. Não deveríamos viver a vida esperando uma recompensa futura já que vamos voltar do mesmo, cometendo os mesmos erros e sentindo as mesmas culpas. Importa viver aqui e agora. Sendo assim, o tic-tac-tic-tac não é de espera, ansioso por um novo pedido ou pela repetição do pedido anterior. Nada disso, clamemos por um tic-tac-tic-tac demorado, que permita reflexão e elaboração. Ou, de modo diverso, se não vamos escapar do céu ou do purgatório, como diria Juca Teles, vamos pular o carnaval!

Voltando ao que cochichou o professor, depois de tratarmos da repetição em sua ontologia ou ética, voltemos à repetição pedagógica que ele a nós assoprou remetendo a Paulo Freire. Ela vai no sentido que dizíamos, de que a repetição é um processo de formação de consciência e não repetição mecânica. Repetição com diálogo e aprofundamento, com entendimento da situação prática dos envolvidos e que nos leve a melhores interações e uma vida melhor.

Post Script: esse texto contou com um pouco de filosofia de botequim, um pouco de referências pessoas e muita ajuda do conhecimento sintetizado no deusgpt.

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Você disse: resuma brevemente o livro diferença e repetição de deleuze. O ChatGPT disse:

Diferença e Repetição (1968) de Gilles Deleuze é uma obra central da filosofia contemporânea que critica a tradição metafísica ocidental, onde predominam as ideias de identidade e representação. Em vez disso, Deleuze explora a diferença em si, separada de uma referência a um "mesmo" ou a uma identidade fixa.

O livro propõe que a filosofia, a ciência e a arte devem se concentrar mais na diferenciação e na repetição como processos criativos e produtivos. Ele argumenta que a repetição não é simplesmente a repetição do mesmo, mas uma expressão de diferença, e que as estruturas da realidade, da natureza à sociedade, emergem de forças que se diferenciam continuamente.

Essa obra complexa e abstrata abre caminho para uma filosofia do devir e influencia muitos campos, incluindo a teoria crítica, a psicanálise e os estudos culturais. Deleuze questiona a necessidade de pensar o mundo em termos de unidades idênticas e propõe uma abordagem mais fluida e diversa para o pensamento e a existência.

Você disse: qual o sentido da repetição para Nietzsche? O ChatGPT disse:

Para Nietzsche, a repetição é abordada principalmente através do conceito do "eterno retorno" (ewige Wiederkehr), que é uma das ideias centrais em sua filosofia. Esse conceito sugere a hipótese de que tudo na existência se repete infinitamente, em um ciclo eterno. No entanto, Nietzsche não entende essa ideia de forma meramente literal, mas como um experimento de pensamento e um desafio existencial.

O eterno retorno serve como uma espécie de teste ético e existencial. A ideia é perguntar a si mesmo: "Se minha vida, com todas as suas dores, alegrias, erros e acertos, se repetisse eternamente, eu a desejaria mesmo assim?" A repetição, assim, é uma prova de amor à vida, um convite para viver plenamente e afirmar a existência tal como ela é, sem arrependimentos. Nietzsche chama essa postura de amor fati (amor ao destino): aceitar a vida em sua totalidade, com suas inevitáveis dificuldades, como algo que se escolheria infinitamente.

Esse conceito da repetição desafia a visão cristã e platônica de uma vida linear com um propósito ou redenção final. Em vez disso, Nietzsche usa a repetição para promover uma filosofia do aqui e agora, em que o valor da vida se encontra em vivê-la intensamente e de forma afirmativa.

Você disse: qual o sentido da repetição para paulo freire. O ChatGPT disse:

Para Paulo Freire, a repetição tem um papel transformador no processo educacional e no desenvolvimento da consciência crítica. Ao contrário de uma repetição mecânica, que reforça a memorização sem compreensão, Freire defende uma repetição dialógica e reflexiva, em que os alunos revisitam conceitos para aprofundar o entendimento e conectar o aprendizado à sua realidade.

No método pedagógico de Freire, a repetição é parte de uma prática crítica que leva à conscientização (conscientização), em que os educandos repetem processos de reflexão, discussão e ação. Esse tipo de repetição estimula a criação de sentido, ajudando os alunos a questionar e transformar suas condições de vida. Freire acredita que a verdadeira educação deve ser um processo contínuo de transformação, em que o conhecimento é construído coletivamente e criticamente.

Em resumo, para Paulo Freire, a repetição, quando usada como uma ferramenta de diálogo e reflexão, é essencial para consolidar a aprendizagem crítica, permitindo que o estudante avance em seu processo de emancipação e transformação social.


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