domingo, 3 de novembro de 2024

Alma feliz

Aborda aspectos da alma aristotélica[i]

Uma metafísica é uma teoria que visa explicar a totalidade das coisas ou do que o mundo é feito, a chamada mobília do mundo. Para Aristóteles, a realidade é composta de dois princípios: ato e potência, que são responsáveis pelo movimento, seja o deslocamento ou movimento qualitativo como, por exemplo, envelhecer. Algo é em ato (atualmente) ou em potência, pelo fato de poder vir a ser algo, sendo que a mudança é a passagem do ato para potência e vice-versa.

Agrega-se que há quatro causas para a realidade: o que a gerou (eficiente), seu aspecto material, sua definição (formal) e propósito (final, teleológica). Em sua nomenclatura taxonômica, Aristóteles define o ser racional como composto de matéria (corpo) e forma, sendo esta última a alma, mas forma no sentido de definição: “atualidade de um corpo vivo orgânico”. Ocorre que, se por um lado a alma “informa” o corpo atual, ela também poderia ser a forma de um corpo em potência e, nesse sentido, independente dele, separada.

Vitor caracteriza a alma como o código que informa como um corpo funciona, a que aquela coisa se destina. Como se a alma fosse o software e o corpo o hardware, trazendo para uma nomenclatura tecnológica que é usada contemporaneamente. Nesse sentido, não é sobrenatural, mas o que faz com que o corpo funcione. Se o corpo é a causa material, a alma é nossa forma, o modo, no sentido de motor, e final ao nos orientar[ii].

Para Aristóteles, há uma alma vegetativa, cuja forma é fazer com que planta se nutra e reproduza. Além dela, nos animais há uma alma sensitiva que os permite sentir dor e prazer. Por fim, há a alma racional responsável pelo pensamento. Sendo três faculdades nos seres humanos, é a mente (nous) que designa a parte racional e mais elevada da alma, assim como o era para Platão. É nossa capacidade de emitir juízos universais, que são conceitos, ao passo que os particulares são emitidos pela sensibilidade, que se refere a indivíduos.[iii] Ainda, há uma razão prática que lida com assuntos humanos, deliberando e uma razão teórica que visa verdades eternas.[iv]

 Vitor também ressalta que há uma hierarquia entre o que é melhor, mais autônomo e o que é pior, menos independente, sendo que a última é a parte da alma que se destina aos sentidos, e a mais autônoma se destina às Ideias, atividade contemplativa que geraria uma felicidade perfeita. Mas lembremos que é uma atividade para poucos.

Essa reflexão e a anterior visam então tratar as diferenças de abordagem da relação corpo-alma em Platão e Aristóteles.[v]

Fechemos com as considerações que Vitor traz dos helenistas. Para eles (epicuristas e estoicos) a realidade é material e eles são considerados materialistas. Assim, a alma só pode ser corpórea, senão seria um mero nada. Já Lucrécio considerou que a parte da alma que comanda está localizada no peito e a outra parte está subordinada à mente e espelhada pelo corpo, algo que seria similar ao nosso sistema nervoso. Ética e existencialmente falando, como a alma é corpórea, não devemos temer a morte, pois ela é o vazio, e não há dor nem prazer. Já os estoicos também consideravam a alma algo material, mas tratando a realidade como divina. Na morte a alma material se junta na alma divina, desintegrando-se e reintegrando-se ao todo. Para Cicero, o espírito se dividia em pensamento e vontade. A vontade, no nível racional, ainda pode deliberar, estando acima do desejo, algo fora de nosso controle.



[i] Esse texto é um resumo da aula de Vitor Lima no Youtube https://youtu.be/dl9EpFG5rLw, acesso em 2 de novembro de 2024. Filosofia da Mente: a alma na Filosofia Antiga (Parte 2). Ele perpassa as obras De Anima e Ética a Nicômaco.

[ii] A alma é como algo impresso no corpo, assim como a cera com um selo impresso, trazendo exemplo Aristotélico e que são concebidos integrados.

[iii] Assim, contrapõem-se uma garrafa e a garrafa, como exemplifica Vitor.

[iv] Logistikon – possível e epistemonikon – necessário. 

[v] https://chatgpt.com/share/6726a36d-d618-800a-b7fd-d8eba2d9dd09.

Nenhum comentário:

Postar um comentário