Aborda aspectos da alma aristotélica[i]
Uma metafísica é uma teoria que visa
explicar a totalidade das coisas ou do que o mundo é feito, a chamada mobília
do mundo. Para Aristóteles, a realidade é composta de dois princípios: ato e
potência, que são responsáveis pelo movimento, seja o deslocamento ou movimento
qualitativo como, por exemplo, envelhecer. Algo é em ato (atualmente) ou em potência,
pelo fato de poder vir a ser algo, sendo que a mudança é a passagem do ato para
potência e vice-versa.
Agrega-se que há quatro causas para a
realidade: o que a gerou (eficiente), seu aspecto material, sua definição (formal)
e propósito (final, teleológica). Em sua nomenclatura taxonômica, Aristóteles
define o ser racional como composto de matéria (corpo) e forma, sendo esta
última a alma, mas forma no sentido de definição: “atualidade de um corpo vivo orgânico”.
Ocorre que, se por um lado a alma “informa” o corpo atual, ela também poderia
ser a forma de um corpo em potência e, nesse sentido, independente dele,
separada.
Vitor caracteriza a alma como o código que
informa como um corpo funciona, a que aquela coisa se destina. Como se a alma
fosse o software e o corpo o hardware, trazendo para uma nomenclatura tecnológica
que é usada contemporaneamente. Nesse sentido, não é sobrenatural, mas o que
faz com que o corpo funcione. Se o corpo é a causa material, a alma é nossa
forma, o modo, no sentido de motor, e final ao nos orientar[ii].
Para Aristóteles, há uma alma vegetativa,
cuja forma é fazer com que planta se nutra e reproduza. Além dela, nos animais
há uma alma sensitiva que os permite sentir dor e prazer. Por fim, há a alma
racional responsável pelo pensamento. Sendo três faculdades nos seres humanos, é
a mente (nous) que designa a parte racional e mais elevada da alma, assim como
o era para Platão. É nossa capacidade de emitir juízos universais, que são conceitos,
ao passo que os particulares são emitidos pela sensibilidade, que se refere a indivíduos.[iii] Ainda, há uma razão prática
que lida com assuntos humanos, deliberando e uma razão teórica que visa verdades
eternas.[iv]
Vitor
também ressalta que há uma hierarquia entre o que é melhor, mais autônomo e o
que é pior, menos independente, sendo que a última é a parte da alma que se
destina aos sentidos, e a mais autônoma se destina às Ideias, atividade
contemplativa que geraria uma felicidade perfeita. Mas lembremos que é uma
atividade para poucos.
Essa reflexão e a anterior visam então tratar as diferenças de abordagem da relação corpo-alma em Platão e Aristóteles.[v]
Fechemos com as considerações que Vitor
traz dos helenistas. Para eles (epicuristas e estoicos) a realidade é material
e eles são considerados materialistas. Assim, a alma só pode ser corpórea,
senão seria um mero nada. Já Lucrécio considerou que a parte da alma que
comanda está localizada no peito e a outra parte está subordinada à mente e
espelhada pelo corpo, algo que seria similar ao nosso sistema nervoso. Ética e
existencialmente falando, como a alma é corpórea, não devemos temer a morte,
pois ela é o vazio, e não há dor nem prazer. Já os estoicos também consideravam
a alma algo material, mas tratando a realidade como divina. Na morte a alma
material se junta na alma divina, desintegrando-se e reintegrando-se ao todo. Para
Cicero, o espírito se dividia em pensamento e vontade. A vontade, no nível
racional, ainda pode deliberar, estando acima do desejo, algo fora de nosso
controle.
[i] Esse texto é um resumo da aula de
Vitor Lima no Youtube https://youtu.be/dl9EpFG5rLw,
acesso em 2 de novembro de 2024. Filosofia da Mente: a alma na Filosofia
Antiga (Parte 2). Ele perpassa as obras De Anima e Ética a Nicômaco.
[ii] A alma é como algo impresso no
corpo, assim como a cera com um selo impresso, trazendo exemplo Aristotélico e
que são concebidos integrados.
[iii] Assim, contrapõem-se uma garrafa e
a garrafa, como exemplifica Vitor.
[iv] Logistikon – possível e epistemonikon – necessário.
[v] https://chatgpt.com/share/6726a36d-d618-800a-b7fd-d8eba2d9dd09.
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