Claudio Costa trata do que ele chama mesmidade, que é o conceito de
identidade pessoal que faz com que uma pessoa seja a mesma ao longo do tempo, ou
seja, sua identidade numérica. Isso definido, Costa busca critérios para essa
identidade pessoal, que são abordados por teorias físicas e psicológicas, as
primeiras se atendo à continuidade corporal ou cerebral, as segundas na
manutenção de traços de caráter, recordações pessoais, etc.
Critérios
físicos. Costa coloca em dúvida a permanência corporal, já
que um corpo morto não é mais uma pessoa. Sobre a permanência do cérebro[ii], Costa
se pergunta se seria um critério mais decisivo que o corpo. Não necessariamente, pois se pensarmos em um
cérebro mantido em formol ou o de alguém em coma, não se pode considerar que a
continuidade do cérebro é exatamente o critério para identidade pessoal.
Teletransporte.
Um experimento mental citado por Costa é o de Derek Parfit que trata do teletransporte
de uma pessoa da Terra para Marte, em que não haveria continuidade corporal, mas que
o filósofo considera ser a mesma pessoa. Peter Unger pensa diferente, dizendo
que a pessoa original não existe mais, restando apenas uma réplica. Se, talvez a
continuidade física substantiva não
seja imprescindível, Costa mostra que ao menos uma conexão física causal deve ser necessária para relacionar a pessoa,
o que seria verdadeiro no caso do teletransporte. Porém, se o teletransporte
produzisse 5 cópias, por exemplo, não seria possível dizer que se trata da mesma
pessoa (como no caso da ameba: 1 vira 2 que vira 4, etc.). Enfim, citando Robert Nozick, Costa conclui que
”a identidade é possível quando a continuidade física substantiva ou causal é unilinear”.
Critérios
psicológicos. O ponto crucial, que Costa atribui a
Locke, é o da memória pessoal, ou seja, sei que sou eu até onde vão minhas
lembranças sobre mim. Contudo, Costa ressalta que o caso de alguém que perca
sua memória, porém guarde traços psicológicos pode facilmente mostrar ser a
mesma pessoa. E ilustra com o caso do motorista de Lady Di que perdeu a memória
no acidente, embora saibamos que se trata dele mesmo e podemos até informa-lo
disso. Assim como o critério da continuidade corporal [objetiva], a permanência
da memória pessoal [subjetiva] não é critério suficiente para a identidade
pessoal.
Por fim, Costa cita alguns casos onde a memória
pessoal não seria relevante, quando, por exemplo, em um teletransporte a
memória de Arafat fosse trocada com a de Sharon, isso não os faria perder sua
identidade pessoal, porém provavelmente causaria algum desconforto. Muito embora,
acrescenta Costa, a memória pessoal deveria ser confirmada por outra pessoa para que de fato pudéssemos comprovar que se trata da mesma pessoa, ou seja,
ela seria um pressuposto epistêmico.
Critérios
mistos. Costa então propõe uma regra P baseada nos dois
grupos anteriores: A e B. Define-se:
Grupo A (critérios físicos):
1. Continuidade
física substantiva
2. Conexão
física causal
Grupo B (critérios mentais):
1. Persistência
da personalidade e caráter
2. Persistência
da memória proposicional e de habilidades
E a Regra P: uma pessoa pode ser considerada
a mesma quando ao menos um critério de cada grupo estiver sendo suficientemente
satisfeito.
A regra é maximizada quando temos todos
os critérios aceitos e se degrada aos casos que quase não sabemos decidir. Ou seja,
conclui ele, não há uma condição objetiva para analisar a questão da identidade
pessoal.
[i] COSTA, CLAUDIO. Filosofia da Mente, p. 38 e ss. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. (Passo-a-passo; 52)
[ii] Que teria prioridade sobre o
corpo, conforme o exemplo de Sydney Shoemaker da pessoa chamada Brownson.