sábado, 31 de dezembro de 2016

Feliz 2017*

É uma linha muito tênue a que separa o estar no mundo ou não. Tal como nos é possível conhecer, esse nosso corpo é finito e, com ele, nossa vida. Só há mundo para uma consciência, portanto, só podemos ter certeza que só há mundo para o homem. O mundo, tal como o conhecemos, só existe para nós, humanos. Seja como uma palavra, seja como um conceito abstrato, de qualquer forma, há uma formulação humana que nos afasta do “mundo da vida” concreto, real, de fato. Essa mesma consciência que não conhece o mundo real cria para si um mundo imaginário, mas também se estabelece na intersubjetividade: ela é a nossa marca. Então, o mundo é diverso para cada um, mas é o mesmo para uma consciência.
Se já lá como for, a consciência constitui o mundo e dá um significado a ele. Mais do que isso, a consciência se aplica um projeto porque ela é reflexiva. Percebendo-se, a consciência realiza o presente a partir de uma fresta do passado e se lança no futuro. Esse movimento faz dela e, consequentemente, do corpo, de nós, um projeto e se nos impõe uma finalidade artificial. A consciência que não conhece o mundo real se move por finalidades artificiais: isso somos. Enquanto consciência desperta, agimos e interagimos. Enquanto consciência desperta e reflexiva nos lançamos no nosso mundo que tem como pano de fundo o “mundo da vida”, inacessível, mas ao qual pertencemos.
Do mesmo modo, só há tempo para uma consciência e ela, temporalizando-se e refletindo, estabelece pequenas finalidades artificiais face há uma finalidade maior que é base para todas elas: o estar-vivendo. Jamais poderemos negar o estar vivendo porque, negando-o, não estaremos vivendo e não haverá consciência e nem corpo, mundo e tempo. Estar-vivendo como finalidade maior permite a intersubjetividade, o projeto e as pequenas finalidades do dia a dia. O tempo que a consciência cria mede-se em ciclos e um está por terminar: o ano de 2016 d.C., conforme a contagem adotada por aqui no Brasil. Para o “mundo da vida”, concreto e real, isso não faz a menor diferença, mas para o nosso mundo novas finalidades advêm: feliz 2017!



* De uma perspectiva fenomenológico-existencialista. 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Movimento filosófico

A questão do movimento ou da mudança é um problema antigo que preocupa a filosofia desde os pré-socráticos. Heráclito acreditava que a natureza era mudança: do quente ao frio, do duro ao mole, etc. No mesmo rio banhamos e não banhamos... É ou não é o mesmo rio? Não é a mesma água ou será que a água do rio um dia volta a passar nele novamente? A passos largos nos movemos na história da filosofia e o Filósofo postulou uma ciência da mudança (a física), mas, se mesmo a sua ontologia abrangia os seres móveis, tudo era "atraído" pelo primeiro motor, imóvel!!
De fato, a modernidade se fechou no cogito e na racionalidade pela linha de Kant e mesmo os empiristas ingleses se apoiaram em ideias que não pareciam tão susceptíveis ao movimento... Mas é Husserl que correlaciona a alteridade da experiência com a subjetividade. Visando ir além do mundo como um dado objetivo explorado nas suas dimensões espaço temporais pela matemática, o visar é o mundo da vida como polo inesgotável da experiência. Mas não é essa a tarefa do fenomenólogo, mas a de, pela epoché, tomar esse mundo pré-dado como mero fenômeno, nos seus modos de doação para uma consciência subjetiva.
A subjetividade se move na percepção do mundo, constituindo-o. Se o ego é um agora da percepção, esse agora abrange um passado como a intencionalidade daquele momento e um futuro que se abre para a vivência que acompanha o fenômeno. Cada vivência subjetiva delimita o objeto e o mundo e o ego passa e fica, como o outro polo. Esse encontro da subjetividade com o mundo fenomenológico é um aprofundamento para além das formas da sensibilidade, mas é contrário à psicologia. A fenomenologia é a descrição de tais modos de doação e tentaremos verificar como se pode assumir tal tarefa.