Nesse
último capítulo, Russel verificará qual o valor da filosofia e por que
estudá-la. Ele inicia com a constatação de que, se há utilidade no
estudo das ciências físicas, isso não ocorre no caso da filosofia já que seu valor
diz respeito não somente ao estudo de coisas materiais, mas para os benefícios
que traz para a mente.
Para Russell, a filosofia é um tipo de conhecimento que dá unidade ao
todo das ciências examinando criticamente as bases de nossas convicções,
preconceitos e crenças. Porém, diferentemente dos resultados obtidos pelas
outras ciências, a filosofia não costuma apresentar resultados positivos,
até porque quando um conhecimento, antes filosófico, se estabelece, ele passa
para outra ciência, como no caso da astronomia, filosofia natural ou
psicologia. Ficam, então, com a filosofia, questões sem resposta definitiva.
Por outro lado, Russell ressalta que a filosofia investiga questões
especulativas não demonstráveis e controversas, mas de grande importância,
como a natureza e finalidade do universo, mente e consciência, questões morais,
etc. Embora filósofos sustentassem respostas e demonstrações para crenças
religiosas, o estudo promovido por Russell nessas investigações
demonstrou que não há provas filosóficas contundentes em tal conhecimento e não
está aí o valor da filosofia.
Russell define o valor da filosofia na
incerteza. O homem que
desconhece a filosofia fica preso em seus preconceitos e nas verdades do seu
tempo, acreditando que o mundo é definido e fechado. Então, o estudo filosófico levanta dúvidas nas questões mais banais
nos lançando nas mais variadas possibilidades de como as coisas podem ou
poderiam ser. Principalmente, a
filosofia faz com que nos libertemos de nosso mundo de interesses privados e
vontades instintivas em direção a um mundo maior e mais livre, escapando
de nossa prisão cotidiana.
Para Russell, a contemplação filosófica (que nos permite escapar..) traz um alargamento do
ser, do eu, para além do maniqueísmo e se baseando puramente em um conhecimento
livre de amarras. Daí que não devemos nos prender em filosofias que tratam do universo
para o homem, definindo-o como a medida das coisas e do conhecimento uma criação de e
para nossa mente. Russell apregoa que é preciso romper nosso círculo doméstico de preconceitos em
busca do não eu pois um intelecto livre se deixa levar pela verdadeira contemplação
filosófica que busca um conhecimento abstrato e universal, superando a barreira
do corpo, do eu, do aqui, agora.
Russell conclui ressaltando que uma mente que se eleva à contemplação filosófica é livre e
imparcial e tal comportamento reflete em nossas ações e sentimentos como um
propósito do todo. A mente que deseja a verdade, segundo ele, é a ação
que deseja justiça e o sentimento do amor universal e não uma que parte de nosso
julgamento e utilidade. Só assim nos tornamos cidadãos do universo. Finalizando o livro, vem sua citação:
Thus, to sum up our discussion of the value of philosophy; Philosophy is
to be studied, not for the sake of any definite answers to its questions since
no definite answers can, as a rule, be known to be true, but rather for the
sake of the questions themselves; because these questions enlarge our
conception of what is possible, enrich our intellectual imagination and
diminish the dogmatic assurance which closes the mind against speculation; but
above all because, through the greatness of the universe which philosophy
contemplates, the mind also is rendered great, and becomes capable of that
union with the universe which constitutes its highest good.
* Bertrand Russell, Problems of Philosophy. THE VALUE OF PHILOSOPHY. Acessado em 15/8/2019: http://www.ditext.com/russell/rus15.html.
Ver o seguinte fichamento e os anteriores:.https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/09/criticismo-filosofico-i.html.