Russell tratará de verificar se conseguimos distinguir entre crenças
verdadeiras e falsas, iniciando com o que significa conhecer. Se parece que o
conhecimento é o resultado de uma crença verdadeira, pode às vezes acontecer de
uma crença verdadeira ser deduzida de uma crença falsa e isso não resulta em
conhecimento. Ou de um processo falacioso de raciocínio, até mesmo com
premissas e conclusão verdadeiras.
Segundo Russell, o conhecimento é algo deduzido de premissas conhecidas,
ou seja, um conhecimento derivativo de premissas conhecidas intuitivamente,
desde que assumida uma conexão lógica válida. Há, até mesmo, conhecimento que pode ser uma
inferência de uma notícia de jornal obtido pelos dados-dos-sentidos da leitura
da notícia que não é, de fato, uma inferência lógica, mas inferência psicológica.
Russell diz que não há uma definição precisa de conhecimento pois este pode ser
estender até a provável opinião. Se o conhecimento derivativo depende do
indutivo, o último não tem um critério certo de conhecimento ou erro[i].
Russell, então, compara o conhecimento de verdades, que corresponde ao
complexo dito no capítulo anterior, com o conhecimento por familiaridade e
situa o último como dependente da percepção e não suscetível ao julgamento que
pode acarretar em erro. Então ele distingue os dois tipos de autoevidência que
se seguem.
Conhecimento autoevidente de um fato particular fica privado a uma
pessoa: dados-dos-sentidos, um sentimento, já fatos relacionados a universais
não têm essa privacidade e podem ser conhecidos por muitas mentes por familiaridade.
Assim, uma garantia absolutamente de autoevidência é quando conhecemos por
familiaridade os termos e a relação envolvidos em um complexo, neste caso o
julgamento de que os termos estão relacionados deve ser verdadeiro.
Entretanto, passar da percepção de um fato complexo ao seu julgamento
não é um processo infalível porque pode terminar em não correspondência devido
a algum erro. Já o segundo caso de autoevidência apresenta graus, não por conta
dos dados-dos-sentidos, mas pelos julgamentos duvidosos sobre eles[ii]. Já nos conhecimentos
derivados, as últimas premissas devem ter alto grau de autoevidência, como
quando em matemática partimos de axiomas e devemos demonstrar os resultados.
Encerrando, Russell argumenta que se no que acreditamos é verdade,
tem-se conhecimento, seja intuitivo ou inferido, caso contrário se falso é erro
e, não sendo ambos, é uma opinião provável. Na base, há o conhecimento
intuitivo em proporção aos graus de autoevidência. A opinião provável pode se
valer do critério da coerência que é usado nas ciências e filosofia, mas que
por si só não se transforma em conhecimento indubitável.
* Bertrand Russell, Problems of Philosophy. KNOWLEDGE, ERROR, AND
PROBABLE OPINION. Acessado
em 12/7/2019: http://www.ditext.com/russell/rus13.html.
Ver o seguinte fichamento e os anteriores: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/07/a-unidade-complexa-de-russell.html.
[i] Conforme Russell: “all our knowledge of truths is infected with some
degree of doubt, and a theory which ignored this fact would be plainly wrong”.
[ii] Graus como ocorrem na afinação de
um instrumento, ele cita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário