domingo, 28 de fevereiro de 2016

Haveria independência entre a mente e o comportamento?*

Você me belisca, esse estímulo sobe ao cérebro, lá ocorre algo e eu grito. Lá pode ter havido duas situações: a produção de um estado mental associado ao beliscão ou simplesmente um comando de volta de gritar. Aparentemente, imaginamos que houve um estado mental consciente organizando o recebimento e a devolução dos estímulos, mas Searle argumenta que não necessariamente. Estamos no campo das relações causais entre processos cerebrais, processos mentais e comportamento exterior. Por outro lado, alguém poderia me beliscar, muito forte, e eu não gritar, mas estar consciente, como ocorre em algumas síndromes de paralisia, o que mostraria certa independência entre comportamento e mente perfeitamente factível. A capacidade do cérebro causar consciência é diferente da capacidade do cérebro causar comportamento. E mais: os fenômenos mentais são subjetivos e somente atestados pela primeira pessoa; alguém de fora (uma terceira pessoa) não conseguiria comprovar minha consciência em alguns casos pela observação empírica. Através de experimentos de pensamento, Searle argumenta que o comportamento exterior pode ser semelhante no caso de possíveis robôs que tenham consciência, ou seja, inconscientes. E, no que tange à ontologia da consciência, o comportamento é irrelevante.
Mas, então, haveria certos fenômenos que não seriam observados pelo método empírico? Antes de tudo, há que se diferenciar um sentido ontológico que significa fatos reais no mundo e um epistêmico, que é da ordem da lógica ou da matemática. Do ponto de vista ontológico, os fenômenos podem ser verificados somente por uma primeira pessoa e não pela terceira pessoa. Por exemplo, ao examinarmos um cão, percebemos que sua fisiologia e fisionomia são semelhantes às nossas, que um beliscão causa um grunhido e podemos supor que eles possam ter uma consciência parecida com a nossa, embora o caráter qualitativo, subjetivo, não seja acessível a padrões ou métodos em terceira pessoa, mas por métodos indiretos (de causação) obtemos o mesmo resultado empírico. Contudo, pela neurofisiologia poderíamos chegar a alguns experimentos que indicassem que certos fenômenos neurofisiológicos indicam uma presença ou não de consciência ou de um tipo dela, o que permitiria uma explicação empírica para algo subjetivo por um método objetivo indireto. Assim, um fenômeno neurofisiológico x poderia indicar certo estado mental. Isso conseguido pelo método: mesma causa, mesmo efeito. A solução funciona logicamente, mas isso seria suficiente? Afinal não seria o comportamento o que determinaria a existência de consciência em outros seres, mas uma correlação com a nossa conexão causal. Obviamente, nesse caso, a ontologia não serviria para nada. 
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(*) SEARLE, J. R. Rompendo o domínio: cérebros de silício, robôs conscientes e outras mentes. In: A redescoberta da mente. Trad. E. P. Ferreira. São Paulo, Martins Fontes, 1997.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Pontuando a moral kantiana*

Haveria na moral grega um recado do universo, uma moral cosmológica: fazer-se-ia de acordo com as suas propensões, seus atributos. Agir-se-ia de acordo com sua virtude. Porque no universo tudo teria um por que, uma finalidade. O vento refresca, a vaca dá leite, o desenhista desenha. De acordo com Sócrates: conhece-te a ti mesmo. Observe suas qualidades e faça de acordo com elas, esse seria o mandamento cósmico, a moral seria fazer de acordo com a sua constituição. Kant não entenderia dessa forma: agir-se-ia de acordo com a vontade. Tenho virtudes, mas depois disso, tenho uma vontade que direciona essa virtude. As virtudes em si não teriam valor, o que teria valor seria o que faço com elas, como eu as usaria e como elas teriam efeitos nos outros. Para os gregos não existiria os outros, existiria uma necessidade cosmológica.
Se os gregos se orientavam pelas virtudes, seria quem tem mais virtudes que se destacaria, os que teriam menos virtudes serviriam aos que tem mais. Haveria uma diferença aí (de natureza), haveria um privilégio, uma seleção, haveria uma moral aristocrática. Para Kant não, decidir-se-ia pela vontade, pelo uso da razão e esta seria acessível a todos. Nesse momento, haveria uma igualdade como que a nivelar certa diferença de natureza e, a partir daí, seguir-se-ia como se pode. Até aqui dois rompimentos.
A terceira ruptura viria da moral cristã. Nela, seguiríamos as leis de Deus ou porque seríamos tementes a Deus - teríamos medo da não obediência e de um castigo eterno, ou porque quereríamos uma bem temperança eterna, quereríamos garantir um futuro promissor à nossa alma. Agir-se-ia movido por um causa exterior. Mas Kant teria pregado uma moral descompromissada, ao agir não pensaríamos nas consequências benéficas para nós, agiríamos livres de influência exterior e em prol do outro.
Estamos no campo prático, mas e o campo teórico?** A razão teórica busca o conhecer e há limites nesse conhecer. A razão teórica fica no limite do fenômeno e da coisa-em-si e se perde em antinomias. Haveria liberdade ou seríamos totalmente determinados? Como se dão as séries, há umas sem causa, com uma causa em si?*** A razão teórica não se decide, mas a solução viria pela razão prática. Parece que seria a própria razão a responsável por nossa ação, no campo prático (conforme vimos acima, conforme estamos supondo). O sujeito da razão prática seria autônomo em relação ao objeto, haveria uma vontade autônoma. Parece que esse é o caminho que deveremos tentar desvendar, caminho que será enfatizado pelo idealismo alemão (com o primado da razão prática), mas com Schopenhauer varrendo esse caminho para debaixo do tapete e apontando para uma heteronomia, com a vontade determinada.

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* De um vídeo aula do professor Clóvis Barros Filho.
** A partir de agora se argumenta conforme 1ª  aula de Filosofia Geral IV, prof. Eduardo Brandão, 22/02/2016.
*** Precisamos tirar a poeira desses conceitos kantianos, relembrá-los, reforçá-los...

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Tênue Razão*

O homem se viu racional e concluiu que pela razão não haveria dúvidas, que por ela encontraria a verdade. De posse da razão, o homem cindiu sua relação com a natureza porque a razão nega o movimento do mundo [real] buscando o seu movimento [ideal] (ou estatismo, como se queira). O homem utilizaria a razão, então, para forjar um acordo coletivo, um meio universal de coletividade que, abarcando a todos, suprime a todos. O homem racional cria um Deus racional, à sua imagem e semelhança, porém com todos os atributos infinitamente perfeitos. Assim, o homem racional se vê como resultado de um erro e, fazendo da terra um Vale de Lágrimas, se conforma, se conforta. No movimento cindido, o homem se resigna. Resignado, não realiza a dialética trágica, o conflito vida-mundo, homem-natureza, ser-não ser. A vida positiva é um movimento contraditório e um conflito do homem com o mundo, mas ele fica sufocado pelos limites da razão que tudo poderia saber. O homem é conflito e ação e não enganação recalcada. O homem é uma vontade interior, individual. Vontade de potência que supera a vida uniforme do rebanho, vida domesticada pelo racionalismo. O homem criou valores que ocultam suas paixões, mas, não se tocou que a força viria da busca da verdade que está escondida no interior de cada um e provavelmente não se realizará. O verdadeiro conflito é buscar negando-se, negar fazendo.
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* Reflexões a partir de uma primeira leitura não estruturada do prólogo de Vontade de Potência, Friedrich Nietzsche.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Projeto Capitalismo e Esquizofrenia*


Tudo culminava para uma revolução, mas maio de 1968 marcou uma paralisação, um não acontecimento e um apressamento em se esquecer do que poderia ter havido. Mas por que não aconteceu? A pergunta é um dos motes do projeto de Deleuze e Guattari, projeto que uniu psiquiatria com marxismo no sentido de que a vida psíquica do sujeito estaria na base de sua vida social e essa vida estaria atrelada a uma subjetividade hegemônica que paralisaria a ação**; a vida psíquica se orientaria pelo desejo que teria aderido ao sistema econômico (e mesmo ao fascismo). Então, para transformar o modo de produção social [capitalista] seria preciso transformar o modo do desejo e substituir o trabalho (conceito central marxista). Assim, o projeto de Deleuze e Guattari uniu economia política e crítica social, sem deixar de lado uma linha evolutiva da metafísica ocidental oriunda de Platão, opondo a ele Nietzsche e Espinosa e também a possibilidade de outra abordagem clínica.
Três recusas
Deleuze vinha de uma crítica do conceito de imagem*** proveniente do platonismo (identidade modelo-Ideia) e também de uma crítica à representação da diferença como oposição; já Guattari praticava uma clínica ligada à psicose. Eles se unem no pós-maio de 68 para tratar de estruturalismo, marxismo e psicanálise no contexto francês daquela época. Se, por um lado, afastam-se do estruturalismo antropológico de Lévi-Strauss (em direção ao perspectivismo) e da linguística diferencial de Saussure, por outro, afastam-se também da incapacidade da proposta política marxista. Da psicanálise, questionam o aprisionamento do desejo no seio familiar pelo complexo de Édipo e a cultura psicanalítica que molda o sujeito no quadro do capitalismo contemporâneo. A proposta, então, seria de uma psicologia dos afetos que aproximaria passional e social. Deleuze e Guattari recusam a psicanálise por compreendê-la como o fundamento dos processos de reprodução social e de miséria afetiva no capitalismo. Combatendo o desejo hegeliano marcado pela negatividade, eles fundam a esquizo-análise.
A conjunção entre Capitalismo e Esquizofrenia
O capitalismo é o sistema de livre-mercado que extrapola a forma mercadoria para todas as esferas, permitindo o cálculo e a intercambialidade (como já reforçara Lukács). Ele se vale de um sistema de relações que submete a diferença à identidade abstrata do equivalente geral (o dinheiro). No capitalismo, haveria um modo de ser do desejo porque ele elevaria a identidade abstrata a uma condição axiomática, que faria com que as estruturas sociais desejantes impactassem a vida subjetiva (relação social-psíquica). Na sociedade capitalista, o desejo se submeteria a uma busca pelo idêntico, desejaria-se o mesmo e haveria um afastamento do que não é idêntico, ou seja, haveria um limite interno (o sujeito) e externo (o sistema), semelhante ao que ocorre na esquizofrenia - bloqueio interno e repressão externa (o doente reprimido...).
Se a socialização consiste em adequação de conduta, para Freud existiria um corpo libidinal antes do eu que seria reprimido pelo processo de socialização. Para Deleuze e Guattari, ele seria o corpo sem órgãos e nossa posição inicial existencial, a esquizofrenia. Esquizofrenia que é a divisão das faculdades mentais que não se sintetizam em um Eu. Com o sujeito fazendo associações livres, o desejo não consegue produzir um objeto coerente e se articular no tempo e no espaço. No fundo, a falta de unidade da esquizofrenia estaria ligada ao corpo libidinal e, aí, o desejo não se inscreveria mais no modo de determinação social hegemônico da sociedade capitalista (esta é a saída!!!). Por um lado, então, o capitalismo encontraria um limite na esquizofrenia, mas por outro, ele produziria um sujeito esquizo, ao modo de Marx: a burguesia que revoluciona os meios de produção: "tudo o que é sólido desmancha no ar". Como uma ação contraditória que destrói tudo o que a gere...
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* Aula 1 de Capitalismo e Esquizofrenia, prof. Vladimir Safatle, curso de Teoria das Ciência Humanas III, alguns conceitos. 2015.

** A própria linguagem de Anti-Édipo uma linguagem esquizofrênica.
*** Sobre a crítica ao modelo de Platão.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Minuto de silêncio

O progresso tecnológico nos colocou em contato com o mundo e o mundo nos oferece muito. Há tantas mensagens que nos chegam, notícias, informações, vídeos, fotos, histórias e estórias. Nesse turbilhão estamos, nesse turbilhão ficamos. Hoje chegam facilmente até nós, basta um clique, um toque e, assim, gera-se uma interferência alheia. Sempre é tempo de ver um algo mais, curtir uma novidade. Há um bombardeio externo e, como que se quiséssemos nos defender, ou nos precaver, nos resignamos a ele e participamos dele. O bombardeio mistura: pessoal, profissional, político, cultural, religioso, ético. Mistura lazer, estudo, diversão, família, cachorro, gato e papagaio. Mistura problemas e soluções. Mistura pensar e fazer ou calar e dormir. Mistura tanta coisa...
Tudo isso junto e misturado, o que nos resta? Há sempre um som chamando a nossa atenção, há sempre um passo a ser dado. Mas para onde? Sem dúvida, hoje nos informamos mais do que nunca (e não consideramos aqui o valor ou qualidade desta informação), sem dúvida muito produzimos. E muito consumimos. Há uma troca intensa, um constante ir e vir nos movendo. Mais ou menos tentamos conduzir o processo, mas muito mais estamos por ele determinados e muito menos dele discordamos. Não há tempo para pensar. Se for assim, o que fazer? Como lutar contra tudo e contra todos?
Na maioria das vezes tentamos: ou não nos atrever a uma atitude contrária tamanha a dificuldade e maior ainda a preguiça dela oriunda ou nos punir, colocar a culpa em nós mesmos ou achar um culpado. É difícil achar uma luz no fim do túnel porque estamos sufocados: sem tempo, sem energia, sem criatividade. E assim vamos sobrevivendo, empurrando os dias, fazendo o que dá, como dá.
Mas não pode ser só isso, não deve ser só isso. É preciso um algo mais. Mais de si para si. Mais de mim para mim. Reflete-se? Computam-se perdas e ganhos? Eu aqui, agora. O que fiz hoje? E ontem? O que comi, o que bebi? Onde fui, o que falei, onde errei? Onde acertei? O que eu mudaria agora em mim? E nos outros? E no mundo? Existe um problema agora? Existem muitos problemas? Existe alguma solução? O que buscamos? O que queremos? De onde viemos e para onde vamos? De fato eu preciso fazer? Ou não fazer algo é o melhor fazer? Eu preciso escrever algo? Para que? Para quem? Minha opinião vale algo para minha família ou para meus amigos? Alguém me escuta? Eu me escuto? É melhor eu me escutar ou alguém me escutar?
Talvez um minuto de silêncio traga algumas respostas. E novas perguntas. Por que não?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Imagem com semelhança e imagem sem semelhança: optaremos por qual?

Veremos como Deleuze propõe uma subversão do platonismo pela chave do simulacro em oposição ao modelo original-cópia.*

Duas ironias
Para reverter o platonismo é preciso mostrar sua motivação. Reverter o platonismo seria acabar com o mundo das ideias e o das aparências? O método de Platão é o de dividir, distinguir entre original e cópia, modelo e simulacro. Mas aí aparece a primeira ironia: não se trata de dividir o gênero em espécies, mas separar o puro do impuro, o autêntico do inautêntico a partir de uma dialética da rivalidade que distingue o verdadeiro pretendente dos falsos. Porém, nos textos em que Platão trata do método da divisão, quando se está quase atingido a seleção surge o mito como que suspendo esse processo. E esta é a segunda ironia: porque o mito será a fundação, o modelo pelo qual os pretendentes serão julgados. O mito, então, dá um critério de seleção e medida das pretensões, daí surgindo o modelo de participação eletiva, conforme se segue.


Nos textos sobre a divisão (Fedro, Político e Sofista**) o último define o simulacro: o não ser, o falso pretendente. Nessa busca Platão descobre que o simulacro não é só uma falsa cópia, mas que ele põe em questão até mesmo as noções de cópia e modelo, pois acaba-se por não se distinguir o método de Sócrates do método do sofista...

Cópia
Deleuze argumenta que a distinção entre cópia e simulacro não é equivalente, porque elas são duas espécies de imagens diferentes: a cópia é a semelhança, o simulacro a perversão. Podemos dizer que, em Platão, há um "triunfo das cópias", já que o verdadeiro motivo platônico seria o de selecionar os pretendentes entre cópias bem fundadas e simulacros feitos de dessemelhança. A semelhança entre Ideia e imagem é o critério concreto porque a imagem se assemelha interior e espiritualmente; a cópia é menos coisa do que imagem da coisa. Daí que ao simulacro resta pretender por debaixo do pano.

Simulacro
Mas há um outro modelo possível. Ao se degradar o simulacro, deixa-se escapar que há uma diferença de natureza entre cópia e simulacro. Se a cópia é imagem dotada de semelhança, o simulacro é imagem sem semelhança.O simulacro é um efeito de semelhança exterior, é produzido sobre uma disparidade, sobre uma diferença. Modelo dessemelhante diferente do Mesmo.


 Há um devir louco e subversivo no simulacro que se esquiva do Mesmo, o simulacro é mais e menos, nunca igual e, por isso, improdutivo. O objetivo do platonismo seria recalcar o simulacro, torná-lo semelhante. Assim, Platão funda o domínio da representação onde a cópia é intrínseca ao fundamento. Modelo do Mesmo: Justiça não é nada além de justa - aquilo que possui em primeiro lugar. A cópia é o semelhante: recebe em segundo lugar.***
Deleuze se utiliza de um recurso literário para caracterizar o simulacro: o de contar várias histórias em uma, o que cria séries divergentes, heterogêneas, constituindo um caos e uma ressonância interna própria ao simulacro. As séries heterogêneas se complicam no caos e a diferença se inclui nele, embora haja uma semelhança entre as séries. Seguem-se as duas fórmulas:
  •  "Só o que parece difere":
    • pensar a diferença a partir de uma similitude preliminar;
    • mundo das cópias e representações.
  • "Somente as diferenças se parecem":
    • pensar a similitude como produto de uma disparidade de fundo;
    • mundo dos simulacros.
Pela segunda fórmula não se prejulga a partir de uma identidade preliminar, a semelhança é produto de uma diferença interna. Reverter o platonismo é elevar o simulacro ao mundo da representação subvertendo-o, negando original, cópia, modelo e reprodução: não há mais hierarquia. Há semelhança no simulacro, mas exterior, a partir das séries divergentes interiorizadas. Sem hierarquia o falso pretendente triunfa, não em relação a um suposto modelo de verdade (do Mesmo, do Semelhante) e torna impossível a ordem das participações. Engolindo todo o fundamento o fio se perde e, aí, como distinguir Sócrates e o Sofista?

Eterno Retorno
Deleuze aproxima o simulacro do eterno retorno, onde se subverte o mundo representativo. Haveriam dois conteúdos do eterno retorno: um latente que bebe em fontes dionisíacas recalcadas pela platonismo e outro manifesto, conforme ao platonismo, um devir louco controlado [grego]. O conteúdo manifesto é, então, refutado por Zaratustra porque trata o eterno retorno como o Mesmo que faz voltar o Semelhante e não atingiria a profundidade devida do eterno retorno, que se situa mil pés abaixo, no conteúdo latente,
O eterno retorno é [potência de afirmar] o caos e não ordem, é sem começo nem fim. O que retorna são séries divergentes em diferença umas com as outras; é um simulacro de doutrina. O eterno retorno é o Mesmo e o Semelhante enquanto simulados. O simulacro é o único mesmo daquilo que difere, não faz retornar o que pretende ordenar o caos, ele inverte porque quando não são simulados, o Mesmo e o Semelhante se tornam ilusões.

Deleuze termina mostrando um momento do simulacro como crítica da modernidade: a Pop´Art que destrói modelo e cópia e instaura o simulacro capaz de destruir o platonismo.

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* Platão e o Simulacro, Deleuze. Um pouco de platonismo aqui.

** Fedro: distinção do delírio bem fundado, do verdadeiro amor; delírio que seria das almas que já viram a verdade. Político: o político é o pastor de homens; os homens da cidade participam desigualmente do seu modelo mítico.

*** Platão funda, Aristóteles especifica, cataloga gênero e espécies. Sob o cristianismo, a representação é extrapolada ao infinito e se mantém sob o Mesmo e o Semelhante relacionando pretendentes, excluindo os excêntricos e divergentes. Conforme Deleuze: como os mundos pretendentes de Leibniz ou a monocentragem da dialética da consciência hegeliana.