Ao conclamar os filósofos para o
movimento fenomenológico, Husserl constatava o estado de imperfeição teórica
das ciências porque, apesar dos resultados técnicos por elas apresentados,
faltaria clareza acerca dos seus fundamentos, acerca dos fundamentos sobre os
quais a ciência operaria. Assim, seria preciso explicitar os pressupostos que
legitimariam os conhecimentos científicos fundamentados: quais seriam esses
pressupostos, seu alcance e sentido. Husserl, então, defenderia um projeto de
fundamentação das ciências como explicitação dos pressupostos teóricos que
garantiriam a cientificidade do conhecimento, de modo que fosse possível
evidenciá-los, clarificá-los, elucidá-los. De acordo com ele, haveriam dois
tipos de pressupostos, de condições que garantiriam a legitimidade do
conhecimento:
·
Condições objetivas:
seriam restrições conceituais, formas de inferência e sistematização de teses,
formas das teorias possíveis e estariam sob o domínio da lógica, domínio formal
de leis e princípios que visavam o respeito às regras e evitariam
contradições.
·
Condições subjetivas:
seriam as restrições ao conhecimento referentes às capacidades de atestação da
validade lógica, capacidades que permitiriam distinguir entre bons e maus
raciocínios e reconheceriam com evidência as condições formais válidas.
Nesse projeto haveria uma divisão
do trabalho entre matemáticos e filósofos. Com os primeiros ficaria a tarefa da
lógica pura, que visava fundamentar as ciências do ponto de vista objetivo,
tornando explícitos os pressupostos lógico-conceituais a que toda teoria
científica deveria se submeter. Com os segundos ficaria a tarefa da
fenomenologia, que visava fundamentar as ciências do ponto de vista subjetivo,
tornando explícitas as possibilidades e os limites do sujeito cognoscente.
As condições subjetivas que
deveriam ser investigadas pela fenomenologia não envolveriam circunstâncias
empíricas, factuais, de vida subjetiva, mas deveria ser investigada a
subjetividade em geral, o modo natural das essências. Interessaria explicitar
a essência da subjetividade, os aspectos estruturais que definem, a priori, o
que é uma subjetividade cognoscente em geral, distinguindo o noético: o geral,
a ideia, do psicológico: instâncias do noético, casos da ideia. A fenomenologia
até poderia partir de casos empíricos, mas através deles deveria buscar o
invariante, o que permanece, a essência. No plano psicológico, poderiam ser
observadas situações reais que o sujeito percebe, o caso singular seria o ponto
de partida no rumo do factual para o essencial. A essência seria a espécie, a
unidade de vários casos: de um lado estaria o ente ideal, idêntico e de outro o
real, temporal, as circunstâncias. Assim, a idealidade seria exemplificada em
caos reais.
Para apreender a essência do
sujeito seria necessário isolar as suas capacidades noéticas. A abstração da
experiência empírica permitiria observar o invariante, separando o eu corporal
empírico se isolaria a consciência, a unidade das vivências psíquicas, o eu
fenomenológico. De um lado o eu empírico, o corpo físico, do outro o eu
fenomenológico, o espiritual, psíquico, a sua essência. A fenomenologia estaria
muito associada à psicologia, haveria apenas uma diferença de grau, essa última
empírica e a primeira descritiva, investigando as características essências da
experiência psíquica de modo isolado do contato empírico corporal com o mundo:
um tipo de psicologia eidético-descritiva.
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* notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, prof. Marcus Sacrini.
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* notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, prof. Marcus Sacrini.