sábado, 18 de abril de 2015

Bicho Homem

    O ser que escreve essas linhas está estudando a fenomenologia de Husserl e a leitura que Sartre faz de tal filosofia. Embora o ser que escreve essas linhas às vezes pense que não tem capital cultural suficiente para entender de Filosofia (nem no geral, nem especificamente), ele sabe que tem o direito de escrever o que bem lhe der na telha, inclusive sobre Filosofia.
    Ele, mal esclarecendo isso, tem a impressão de que, se a consciência é vazia conforme Sartre procura demonstrar no seu "A transcendência do ego", o Homem é mais Bicho do que Homem, no que ele esclarece: o Homem é mais Animal do que Racional. Se o fluxo da consciência expulsa o ego para o mundo, fazendo dele ser transcendente, ele coloca a consciência irrefletida como principal polo de imanência. Nesse sentido, ele entende que essa tese dele faz com que cada ato factual coloque a consciência em uma relação imediata com o mundo, guiada pelo mundo naquele momento. Objetivamente, o ser que escreve essas linhas entende que o ser-no-mundo dele, aquele da situação, é mesmo, de fato, existencial. Mas ele admite que, nesse ponto, está fugindo do contexto e da evolução do pensamento sartreano que ainda não abordava o existencialismo. De qualquer forma, ele reforça que o fato, (a essência...),o mundo, etc., se revela ao ser de forma intensa, instantânea e inexorável, contra a consciência, atingindo-a. E atinge muito mais um animal que um racional.
    E ele acrescenta que, com a visada atual de uma consciência reflexiva que tem como objeto a consciência refletida, que foi irrefletida, mas que agora tem a ela um EU agregado, muito mais do que antes, o Homem é mais Animal do que Racional, porque primeiro um animal visa o mundo (na consciência irrefletida) e depois visa a si mesmo (na consciência reflexiva), tornando-se racional. Ou seja, ele acredita que o Homem é muito mais Animal que Racional, porque se não há EU na consciência irrefletida (ou seja, há EU no mundo) e o EU só se verifica na consciência reflexiva, esse EU é passado. Esse EU é um objeto anterior, com muito menos força que aquele EU da consciência irrefletida, que é transcendente. Esse EU nem mesmo é transcendente, ele é inventado. Quando isso acontece, ele pensa que o EU atual depende do EU que passou e que é inventado. Por isso, o EU atual se guia pelas experiências do EU passado e, agora, conhecido. Essa reflexão da consciência coloca a consciência irrefletida em defasagem com o EU reflexivo, ela fica à frente dele e muito determinada pelas experiências dele. Portanto, ela está sempre um passo a frente dele. O ego transcendental está sempre a frente do ego inventado. O ego transcendental é a primeira pessoa do sujeito, mas totalmente atrelada ao mundo, como ele procurou mostrar no segundo parágrafo dessa reflexão. O EU que surge como agente já passou e o EU atual se fia nas experiências do ego inventado, por isso, muito mais determinado, mais dependente das experiências dele. Por isso, ele acredita (não eu que sou irrefletido, mas ele que é refletido na consciência reflexiva) que, nesse contexto de reflexão, o Homem é muito mais Animal que Racional.
    Isso posto, o ser que escreve essas linhas entende que deve estudar mais a fenomenologia de Husserl e a leitura que Sartre faz dela, para tentar elucidar esse mistério. Por exemplo, em um outro viés, atribuindo muita liberdade quando a consciência irrefletida age na situação, sem reflexão.

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