Parece que há uma oposição entre essas duas operações do
pensamento. O que vamos fazer aqui é desenvolver uma reflexão típica de um
filósofo de rua: sem nenhuma referência teórica assertiva ou rigorosa (embora à luz de Husserl). Apenas
divagaremos um pouco sobre essas duas operações e em um futuro incerto retomamos
com mais propriedade e embasamento. Concordemos que intuição e dedução são
operações do pensamento e se referem a objetos. Porém, a dedução é lógica e a
intuição é empírica (ou psicológica?). Nesse sentido, a dedução é um procedimento que tem um
embasamento formal enquanto que a intuição é um procedimento que tem um
embasamento material, concreto.
As regras da dedução são rígidas e podem ser aprendidas, de
modo que sejam reconstruídas. A intuição não se atém a regras de sintaxe ou
morfológicas, mas visa uma apreensão dos objetos. A dedução é uma forma a
priori do pensamento puro, é como uma luva pronta para ser usada, basta lá
encaixar os dedos. Não tem “pode ser assim ou assado”, existe um comportamento
intelectual que adere àquelas regras que não podem ser violadas. A intuição é
um contato direto com o objeto, que pode ser mediado ou imediato. As regras da
intuição são regras de acesso ao mundo e aos objetos. São regras que podem ser
direcionadas a objetos individuais, como esta caneta, objetos gerais, como
uma caneta genérica ou objetos inexistentes, como um disco voador, por exemplo.
Qual seja, intuímos essências, existências, fatos ou conjecturas. A dedução
orienta as formulações que faremos com relação aos objetos, permitem
proposições que podem ser compartilhadas intersubjetivamente. Mas a dedução é
uma formalidade do juízo do eu, assim como a intuição é uma apreensão
constitutiva do eu, do que se conclui que, de uma maneira ou de outra
precisamos de ambas, seja para fazer ciência, arte ou filosofia, e tudo o mais.
Muito embora haja um sentido intrínseco que as diferencia e que pode ser levado
em consideração quando se quiser decidir sobre quais delas priorizar em nossas
análises, sejam elas de fato ou de direito.
Ambas as operações mentais são conhecimentos, produzem
conhecimentos, embora distintos: a intuição um conhecimento mais próximo do
animal e a dedução um conhecimento humano. E parece que eles se complementam:
forma e conteúdo. Uma lógica sem objetos versa sobre o vazio; intuição em si
não é proposicional. A intuição em si está atrelada a uma sobrevivência animal,
precisamos intuir, conhecer o alimento que vamos comer, intuir os animais que
podem nos atacar e os perigos do mundo. A dedução é sobrevivência humana:
precisamos formular os conhecimentos adquiridos, exteriorizar a outros, mais
prioritariamente aos nossos. Assim, em nossa condição humana não vivemos, nem
sobrevivemos sem tais operações mentais.
De todo modo há que se considerar sobre quais objetos
intuir e sobre quais deduzir, usar operações certas para objetos e fins
adequados, fazer bom uso das operações, enfim situá-las. Com isso, evita-se o
radicalismo e se coloca cada coisa em seu lugar.
Objetos, ah, os objetos. Para a dedução eles vêm prontos,
idealizados, não há preocupação com o detalhe, com suas características. Isso
fica por conta da intuição. Para ela um objeto aparece: de um lado, do outro
lado, em cima, embaixo. A intuição visa cada parte do objeto em sua opacidade e
vai constituindo-o. Assim age com um e assim age com outro, similar ao anterior. Assim vai
aparecendo o objeto geral, ideal que, abstraído, é apossado pela lógica. Para a lógica importa o geral, não esse ou aquele. A intuição individualiza, mas
também especifica, no sentido de espécie. Ela capta a essência dos semelhantes,
generaliza e entrega de bandeja para o consumo lógico que está desarmado desse
tipo de preocupação. A lógica não se preocupa com a existência, com o fato, mas
com a não contradição com as regras de formação, com a proposição. Objetos de uma e de outra, objetos do mundo e do pensamento: cada um em seu lugar.
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