terça-feira, 7 de abril de 2015

Intuição e dedução

Parece que há uma oposição entre essas duas operações do pensamento. O que vamos fazer aqui é desenvolver uma reflexão típica de um filósofo de rua: sem nenhuma referência teórica assertiva ou rigorosa (embora à luz de Husserl). Apenas divagaremos um pouco sobre essas duas operações e em um futuro incerto retomamos com mais propriedade e embasamento. Concordemos que intuição e dedução são operações do pensamento e se referem a objetos. Porém, a dedução é lógica e a intuição é empírica (ou psicológica?). Nesse sentido, a dedução é um procedimento que tem um embasamento formal enquanto que a intuição é um procedimento que tem um embasamento material, concreto.
As regras da dedução são rígidas e podem ser aprendidas, de modo que sejam reconstruídas. A intuição não se atém a regras de sintaxe ou morfológicas, mas visa uma apreensão dos objetos. A dedução é uma forma a priori do pensamento puro, é como uma luva pronta para ser usada, basta lá encaixar os dedos. Não tem “pode ser assim ou assado”, existe um comportamento intelectual que adere àquelas regras que não podem ser violadas. A intuição é um contato direto com o objeto, que pode ser mediado ou imediato. As regras da intuição são regras de acesso ao mundo e aos objetos. São regras que podem ser direcionadas a objetos individuais, como esta caneta, objetos gerais, como uma caneta genérica ou objetos inexistentes, como um disco voador, por exemplo. Qual seja, intuímos essências, existências, fatos ou conjecturas. A dedução orienta as formulações que faremos com relação aos objetos, permitem proposições que podem ser compartilhadas intersubjetivamente. Mas a dedução é uma formalidade do juízo do eu, assim como a intuição é uma apreensão constitutiva do eu, do que se conclui que, de uma maneira ou de outra precisamos de ambas, seja para fazer ciência, arte ou filosofia, e tudo o mais. Muito embora haja um sentido intrínseco que as diferencia e que pode ser levado em consideração quando se quiser decidir sobre quais delas priorizar em nossas análises, sejam elas de fato ou de direito.
Ambas as operações mentais são conhecimentos, produzem conhecimentos, embora distintos: a intuição um conhecimento mais próximo do animal e a dedução um conhecimento humano. E parece que eles se complementam: forma e conteúdo. Uma lógica sem objetos versa sobre o vazio; intuição em si não é proposicional. A intuição em si está atrelada a uma sobrevivência animal, precisamos intuir, conhecer o alimento que vamos comer, intuir os animais que podem nos atacar e os perigos do mundo. A dedução é sobrevivência humana: precisamos formular os conhecimentos adquiridos, exteriorizar a outros, mais prioritariamente aos nossos. Assim, em nossa condição humana não vivemos, nem sobrevivemos sem tais operações mentais. 
De todo modo há que se considerar sobre quais objetos intuir e sobre quais deduzir, usar operações certas para objetos e fins adequados, fazer bom uso das operações, enfim situá-las. Com isso, evita-se o radicalismo e se coloca cada coisa em seu lugar.
Objetos, ah, os objetos. Para a dedução eles vêm prontos, idealizados, não há preocupação com o detalhe, com suas características. Isso fica por conta da intuição. Para ela um objeto aparece: de um lado, do outro lado, em cima, embaixo. A intuição visa cada parte do objeto em sua opacidade e vai constituindo-o. Assim age com um e assim age com outro, similar ao anterior. Assim vai aparecendo o objeto geral, ideal que, abstraído, é apossado pela lógica. Para a lógica importa o geral, não esse ou aquele. A intuição individualiza, mas também especifica, no sentido de espécie. Ela capta a essência dos semelhantes, generaliza e entrega de bandeja para o consumo lógico que está desarmado desse tipo de preocupação. A lógica não se preocupa com a existência, com o fato, mas com a não contradição com as regras de formação, com a proposição. Objetos de uma e de outra, objetos do mundo e do pensamento: cada um em seu lugar.

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