quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Como resolver problemas filosóficos*

Perguntamos: problemas filsóficos podem ser resolvidos através de proposições lógicas ou de um mero discurso do senso comum?
Isomorfismo. Partimos da tríade linguagem, pensamento e realidade. O primeiro Wittgenstein, do Tractatus, se questiona se existiria uma ordem a priori no mundo e, se sim, em que consistiria? Para o 1º W[i], sim: há uma ordem no mundo e ela é a estrutura lógica composta por um mesmo esqueleto que parte do isomorfismo entre linguagem, pensamento e realidade, representada pela lógica simbólica, cujo embrião já estava presente em Russell. De acordo com Schwartz, podemos encontrar nos Principia Mathematica, uma definição do atomismo lógico como o mundo tendo a estrutura da lógica matemática. Porém, salienta Schwartz, se há um potencial da ordenação do mundo que se baseia no pensamento e na linguagem, esta é imprecisa. Assim, a lógica simbólica deveria ser usada para ordenar pensamento e linguagem e resolver problemas filosóficos, valendo-se de uma linguagem ideal. Do que se cunha: “A proposição mostra a forma lógica da realidade”. Nada mais cristalino para uma definição positivista. Já o 2º W[ii] revela a ilusão do Tractatus: uma ordem a priori que correlaciona linguagem e mundo, ordem simples, sem interferência empírica e anterior à experiência.
Significado. Além do isomorfismo, o 1º W também definiu a teoria pictórica do significado. Por ela, enunciados obtém significado ao representar fatos: se sim, são enunciados verdadeiros, se não, falsos. Ryle a chama de “Fido”-Fido: Fido representa Fido, tratando-a como uma teoria grotesca. Seguindo Sto Agostinho, que revelou que aprendeu a linguagem a partir de quais objetos as palavras representam, a teoria do significado dos formalistas usa elementos de linguagem para retratar, nomear. Tal teoria é criticada pelo 2º W como sendo uma simplificação extrema focando em apenas um tipo de função de linguagem. Juntamente com Austin, argumentam que a linguagem não é apenas isso: “Para uma grande classe de casos em que empregamos a palavra significado – embora não todos -, ela pode ser explicada da seguinte maneira: o significado de uma palavra é seu uso na linguagem” (p. 128). Significado é uso, saber como usar a linguagem é uma técnica (regras, convenções). Portanto, o uso não é óbvio, ainda mais em Filosofia.
Jogos de linguagem. O 2º W também trata dos jogos de linguagem, pelos quais elementos de linguagem são como lances em um jogo regido por regras. Se a teoria pictórica do significado dos formalistas trata o significado como propriedade formal das palavras, o 2º W nos questiona: “O signo sozinho parece morto. O que lhe dá vida? – No uso, ele vive.”. Jogos de linguagem salientam que os usos são infinitos e variados, assim como o são nossas vidas ativas. Há uma conjectura por parte dos formalistas ao afirmar que a palavra representa a coisa, isso seria um erro. Para Frege, Russell: “cada termo teria exatamente um significado perfeitamente preciso”. Conforme Schwartz, o projeto dos formalistas da linguagem ideal é um projeto sem esperança.
Atos de fala. Nesse contexto de Oxford, de uso comum da linguagem em Filosofia e para resolver problemas filosóficos, concluiremos com Austin e seus atos de fala. Partindo da definição formalista para a qual qualquer coisa que dizemos deve ser verdadeira (ou não falsa), Austin mostra que elocuções performativas como “Eu prometo” ou “Eu condeno...” não são relatórios do verdadeiro ou falso, mas realizam uma ação. Ele retira o foco de proposições que podem ser verdadeiras ou falsas trazendo-o para elocuções performativas que podem ser felizes ou infelizes e lançando uma sombra sobre o verdadeiro e o falso. Os atos de fala, então, seriam a essência da linguagem e tal conceituação extrapolou os limites da filosofia, sendo usada também em outras áreas do conhecimento.



* Uma crítica da Filosofia da linguagem comum de Oxford ao positivismo lógico e seus influenciados que reforça os diferentes usos e pontos de vista da linguagem. “Uma breve história da filosofia analítica de Russell a Rawls”. Schwartz, Stephen P. São Paulo: Edições Loyola, 2017, p. 126 e ss.
[i] 1º W = primeiro Wittgenstein.
[ii] 2º W = segundo Wittgenstein.