domingo, 29 de janeiro de 2017

Só uma resposta

Cotidianamente precisamos dar respostas, mas qual é a resposta certa? Não sabemos, mas temos que ter uma resposta. Se há pergunta, há resposta, deve haver. Há vários tipos de perguntas, algumas esperando uma resposta, algumas somente perguntando. Mas, se perguntar é válido, é válido responder? Se uma pergunta exige uma resposta, qual é o valor da resposta? A resposta é uma convicção ou somente uma resposta?
Uma convicção é uma verdade assumida e convencida ao passo que uma resposta é uma busca pela convicção. Se não for pelo diálogo, nunca haverá convicção e, portanto, a resposta é sempre uma construção. Não podemos nos iludir com respostas que parecem convicções. A verdade, em se tratando de uma formulação humana, é sempre relativa.
Parece haver uma ansiedade por respostas convincentes mas uma resposta convincente não estabelece uma verdade. Uma resposta convincente dura o tempo em que não se verifica outra resposta mais convincente, ao menos outra resposta. Transferir o peso da pergunta para a resposta é no mínimo antitético. Por que não respondes, cara pálida?
Atualmente rege a lei da resposta. Para uma pergunta deve haver uma resposta, convicta. Mentira!! Uma convicção se dissolve facilmente, uma resposta é uma procura que tenta se estabelecer. Somos curiosos e queremos garantias, mas não há temos. Não se pode condenar uma resposta, mas fazer com que ela se transforme em nova pergunta que, refletida, siga o caminho de uma convicção que é sempre provisória.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Um sentimento

É tão difícil acreditar que somos corpos, mas o deslocamento livre e inconteste nos faz menos racionais e o ir e vir surpreende e desarma. Tudo está em perpétuo fluxo porque o nosso pouco tempo no mundo nos faz acreditar no infinito. Mas não é nesses termos que nos devemos medir; medimo-nos pelas aberturas que nos são impostas por nós mesmos. De repente, algo que estava aqui já não está e, se o visávamos, agora tal intencionalidade esvaiu-se e nada há de surpreendente, apenas nossa estrutura biofísica se afeta de maneira diversa. A nossa pele, que é muito sensória, e demais órgãos afetivos sobrepõem-se a uma consciência extravagante. Ela, sim, move-se sem se mover, mas movendo um corpo que se move passionalmente. Subjaz um estado de constante interferência que qualquer inferência, se estatisticamente acurada, não previne precauções.
Mas, qual a estranheza? Ninguém nos enganou e nada nos prometeram, simplesmente o vento soprou e espalhou o que estava assentado. O vento não é um, é múltiplo e dinâmico. Sentimos, em nossa disposição física, sensações térmicas distintas que paralelamente se repelem e se associam mais parecendo um emaranhado de possibilidades decompostas. Um dedo é muito mais do que um todo. Um dedo fala por si, toca por si, reverbera por si. Um corpo com muitos dedos que sentem é um corpo precário quando se pensa um corpo articulado. O que mais se articula é o pedaço mínimo que, isolado, irrompe em um efeito não linear. Tudo isso é muito específico e não científico para que as variáveis possam ser controladas.
Foi-se o momento em que o que tinha de ser seria, foi-se o momento em que sabíamos para onde iríamos. Não há escolha já que todas as moléculas tem um resto de autonomia. O microscópio não amplia porque tudo está lá, na mais perfeita desorganização, e cada combinação não passa de um mero acaso. Não importam grandes predições, embora sejam belas. Cada movimento deixa um resquício inominado de probabilidades que não se decantam e se transformam em algo que jamais ele poderia supor. Esse pedaço de verdade constitui a sua mais perfeita identidade que se subsumi ao que estaria posto de antemão e que se responsabilizaria pela guia da direção que não se estipula.
Há todo o sentido em cada lampejo da mais pura variação e, por isso, um corpo não se nega. Uma razão só é válida na medida em que se descarta a carne que sangra. É daí que brota a ansiedade que transforma até a besta em exímia enxadrista. Não se pode aceitar a menor alegação de que haveria de se supor mal traçados planos. Em nenhum momento falou-se qual era, em definitivo, o ponto que deveria ser valorizado no caso de serem expostas as incongruências que só fazem concluir que cada minúscula partícula é igual entre si e, por isso, concorrente na corrida que é vital para algum tipo de encadeamento. Só nos resta sentir.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Atitude filosófica*


A vida é uma ficção? A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Trocando em miúdos, a vida é uma criação ou uma geração espontânea? Digo, se a vida não é uma ficção, a vida se dá ao acaso, meramente. Sendo a vida ficção, há um autor que pode ser você, eu ou Deus. Portanto, devemos ter muita atenção na interpretação das frases feitas e palavras de efeito. Em todos esses casos, se fomos inventados ou se somos resultado de uma linha evolutiva muito mal fadada, porque contra evolutiva, o fato é que criamos construindo e destruindo. A criação literária é um resultado que, como especifica Sartre no seu “O que é a literatura”, só se faz com outro. Por exemplo, eu aqui escrevendo este texto, se ninguém o lê, ele não se completa. Há um pacto aí. Podemos estender essa tese para a arte em geral e, podemos também, afirmar que por detrás de toda obra de arte há um recado, uma ideologia que “pagamos para ver”.
Por mais abstrata que possa parecer uma obra de arte, por mais incompreensível que um filme possa ser, há uma intenção, uma projeção. Algo se lança e alguém o agarra, ou ninguém. Na verdade, então, não se trata de saber se a vida imita a arte ou se a arte imita a vida, mas qual o significado dessa frase, dessa criação. Confundir vida e arte, muito mais do que talvez partir de uma ordem de precedência entre elas, visa estabelecer que: há vida, há arte e há imitação e que, portanto, nada é garantido. Então, tal frase com um fundo moral inicial se transforma em questão existencial: noves fora, criamos. [imitamos, vivemos...]
A atitude filosófica também nada garante, embora permita ir mais a fundo, seja moralmente ou epistemologicamente. Daí se extrai um “sentido de vida” que pode tanto encantar quanto desiludir. Uma breve incursão em tal atitude, que de tão breve não passa de excursão, mostra principalmente que há muito mais do que os nossos olhos podem ver, seja a arte mostrando que há muito mais vida do que a mera vida que temos, ou a vida mostrando que a arte é a nossa própria vida ilusória. De todo modo, uma vez rompendo a barreira senso comum-filosofia, fica difícil sobreviver em paz com nosso travesseiro.



* CHAUI, M. Iniciação à filosofia: ensino médio, volume único. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013 – pg 17. Atividades: 1. Você assistiu ao primeiro filme da série Matrix? Se sim, responda: que paralelos podemos estabelecer entre a personagem Neo e o filósofo Sócrates? 2. Por que Sócrates é considerado o “patrono da filosofia”? 3. O que Platão quis representar no Mito da Caverna? Faça uma relação entre o mito e o filme Matrix. 4. Explique o que são as nossas crenças costumeiras. Dê outros exemplos de crenças que reproduzimos no cotidiano. 5. De acordo com o que foi estudado no capítulo, em que momento passamos da atitude costumeira à atitude filosófica?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Empírico e Racional

Existem várias maneiras de “nos virarmos” na vida, mas o discurso moderno, que não é o contemporâneo, basicamente dividiu nossas possibilidades em empírica e racional, embora de certa forma elas muito se correlacionem. Vis-à-vis, ambas não apresentam garantia de sucesso e mais se adequam ao entendimento de mundo de cada um, porém há que se prestar atenção ao rumo que estamos seguindo para verificar se há correções de rota, já que tudo nos leva há uma práxis, enfim.
O empirismo nada mais é do que uma prática particular em que se leva em conta o acúmulo de experiências baseado, por um lado, em observações cotidianas, mesmo que sistematizadas como acontece na ciência e, por outro lado, na troca de experiências que se dão por um discurso casual. Se o ponto de partida é o particular, isso não impede que se chegue próximo de um consenso e mesmo que tal se universalize, atentando para que, aí, todos concluam o mesmo [ou tenham a mesma experiência].
O racionalismo se guia pelas regras formais e lógicas do entendimento e da razão, orientando-se, grosso modo, pela idealização matemática [ou filosófica] do mundo. Aqui se parte de definições, premissas, axiomas, preposições e, consequentemente, corolários, e se chega a uma via demonstrativa. Se fundada em princípios bem estabelecidos, a regra da razão não se contradiz e garante conhecimento certo e seguro. Como se admite ser a razão igual para todos, ela é o particular e o universal, ao mesmo tempo.
Então, nos guiamos: racional e/ou empiricamente. O empirismo depende de circunstâncias, mas a observação acurada e repetida e as variáveis condicionantes nos orienta na práxis. O racionalismo se aplica às circunstâncias, seja pela prova ou contraprova... Não é fácil "se virar" na vida e os recursos devem ser utilizados, sejam eles racionais ou empíricos. Há momentos em que o empírico vence, em outros o racional convence, mas aquele que vive e se insere na práxis contemporânea deveria se utilizar de ambos, e isso não é antiético.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Entre o positivo e o negativo

O atual mundo conectado exige propaganda: não somente faça, mas fale que faz ou, quem sabe, só fale e não faça – às vezes cola. O fato é que se torna difícil ficar indiferente às mídias sociais. É preciso “se mostrar”, é preciso produzir e o ser humano é pura produção, sempre! Não poderia ser diferente porque há sangue correndo nas veias e impulsos elétricos nervosos em fluxo contínuo enquanto o corpo vive. Por mais que sejamos uma-pessoa-calada-e-sozinha-no-mundo somos um algo que reflete e que aparece para os outros, provocando reação, mesmo que indiferença[1]. Além disso, precisaríamos investigar o caso de termos conceituado tão fortemente a pura produção, qual a sua mais profunda finalidade?
O “se mostrar” nas redes sociais, sejam elas audiovisuais ou só visuais, textuais, pessoais ou profissionais, é um se mostrar que visa uma positividade. Ora, temos que servir para alguma coisa, certo? A positividade aclamada é a chave do sucesso, a garantia de que a via positiva certamente levará a um desenvolvimento. Ser positivo é ser ativo e somar. Ser positivo é continuar. Ser positivo é produzir. Há que se verificar aonde a positividade se expressa e abraçar-se a ela, para que ela nos conduza na sua rota inesgotável. A positividade gera positividade e somando-se as positividades entramos em um círculo virtuoso. Podemos e até devemos seguir, não há problemas, mas há outro lado: a negatividade.
O ser humano é pura carência e desconforto, mas tenta se enganar. Por mais metas que nos coloquemos sempre haverá dúvidas. A pura produção, se de per si varonil, tem a sua dialética, como, de mais a mais, tudo na natureza apresenta contrariedade. Há momentos de angústia e travamento, há inquietações, mas a positividade emerge das profundezas e nos levanta. Mas a positividade não ensina porque repete o que está por aí, não mostra a “outra face”. É nos tombos que nos machucamos e lambemos as nossas feridas. É nesse encontro com nós mesmos que nos humanizamos e nos sentimos seres psicossomáticos e quase uma-pessoa-calada-e-sozinha-no-mundo. Essa negatividade não é uma limitação ou um retrocesso, ela é a nossa marca. E, dialeticamente, dela surge outra positividade. Então, pergunto: pode “se mostrar” a negatividade? Podemos nos humanizar ou seremos o super-homem que não falha. Ah, como seria bom dizer para todo mundo: “cara, como é difícil encarar uma vida dedicada ao trabalho, que é prenhe e preenche, mas que nos domina e assola?”. Não nego o trabalho porque precisamos dos objetos que produzimos, embora seria bem interessante todo mundo andando nu por aí, mas, às vezes, desconfio da pura produção baseada na positividade.



[1] A indiferença é uma reação passiva externa, mas muito ativa internamente porque fica marcada na nossa reflexão.