quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Atitude filosófica*


A vida é uma ficção? A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Trocando em miúdos, a vida é uma criação ou uma geração espontânea? Digo, se a vida não é uma ficção, a vida se dá ao acaso, meramente. Sendo a vida ficção, há um autor que pode ser você, eu ou Deus. Portanto, devemos ter muita atenção na interpretação das frases feitas e palavras de efeito. Em todos esses casos, se fomos inventados ou se somos resultado de uma linha evolutiva muito mal fadada, porque contra evolutiva, o fato é que criamos construindo e destruindo. A criação literária é um resultado que, como especifica Sartre no seu “O que é a literatura”, só se faz com outro. Por exemplo, eu aqui escrevendo este texto, se ninguém o lê, ele não se completa. Há um pacto aí. Podemos estender essa tese para a arte em geral e, podemos também, afirmar que por detrás de toda obra de arte há um recado, uma ideologia que “pagamos para ver”.
Por mais abstrata que possa parecer uma obra de arte, por mais incompreensível que um filme possa ser, há uma intenção, uma projeção. Algo se lança e alguém o agarra, ou ninguém. Na verdade, então, não se trata de saber se a vida imita a arte ou se a arte imita a vida, mas qual o significado dessa frase, dessa criação. Confundir vida e arte, muito mais do que talvez partir de uma ordem de precedência entre elas, visa estabelecer que: há vida, há arte e há imitação e que, portanto, nada é garantido. Então, tal frase com um fundo moral inicial se transforma em questão existencial: noves fora, criamos. [imitamos, vivemos...]
A atitude filosófica também nada garante, embora permita ir mais a fundo, seja moralmente ou epistemologicamente. Daí se extrai um “sentido de vida” que pode tanto encantar quanto desiludir. Uma breve incursão em tal atitude, que de tão breve não passa de excursão, mostra principalmente que há muito mais do que os nossos olhos podem ver, seja a arte mostrando que há muito mais vida do que a mera vida que temos, ou a vida mostrando que a arte é a nossa própria vida ilusória. De todo modo, uma vez rompendo a barreira senso comum-filosofia, fica difícil sobreviver em paz com nosso travesseiro.



* CHAUI, M. Iniciação à filosofia: ensino médio, volume único. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013 – pg 17. Atividades: 1. Você assistiu ao primeiro filme da série Matrix? Se sim, responda: que paralelos podemos estabelecer entre a personagem Neo e o filósofo Sócrates? 2. Por que Sócrates é considerado o “patrono da filosofia”? 3. O que Platão quis representar no Mito da Caverna? Faça uma relação entre o mito e o filme Matrix. 4. Explique o que são as nossas crenças costumeiras. Dê outros exemplos de crenças que reproduzimos no cotidiano. 5. De acordo com o que foi estudado no capítulo, em que momento passamos da atitude costumeira à atitude filosófica?

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