O
atual mundo conectado exige propaganda: não somente faça, mas fale que faz ou,
quem sabe, só fale e não faça – às vezes cola. O fato é que se torna difícil ficar
indiferente às mídias sociais. É preciso “se mostrar”, é preciso produzir e o
ser humano é pura produção, sempre! Não poderia ser diferente porque há sangue
correndo nas veias e impulsos elétricos nervosos em fluxo contínuo enquanto o
corpo vive. Por mais que sejamos uma-pessoa-calada-e-sozinha-no-mundo somos um
algo que reflete e que aparece para os outros, provocando reação, mesmo que indiferença[1]. Além disso, precisaríamos
investigar o caso de termos conceituado tão fortemente a pura produção, qual a
sua mais profunda finalidade?
O
“se mostrar” nas redes sociais, sejam elas audiovisuais ou só visuais,
textuais, pessoais ou profissionais, é um se mostrar que visa uma positividade.
Ora, temos que servir para alguma coisa, certo? A positividade aclamada é a
chave do sucesso, a garantia de que a via positiva certamente levará a um
desenvolvimento. Ser positivo é ser ativo e somar. Ser positivo é continuar.
Ser positivo é produzir. Há que se verificar aonde a positividade se expressa e
abraçar-se a ela, para que ela nos conduza na sua rota inesgotável. A positividade
gera positividade e somando-se as positividades entramos em um círculo virtuoso.
Podemos e até devemos seguir, não há problemas, mas há outro lado: a
negatividade.
O
ser humano é pura carência e desconforto, mas tenta se enganar. Por mais metas
que nos coloquemos sempre haverá dúvidas. A pura produção, se de per
si varonil, tem a sua dialética, como, de mais a mais, tudo na natureza
apresenta contrariedade. Há momentos de angústia e travamento, há inquietações,
mas a positividade emerge das profundezas e nos levanta. Mas a positividade não
ensina porque repete o que está por aí, não mostra a “outra face”. É nos tombos
que nos machucamos e lambemos as nossas feridas. É nesse encontro com nós mesmos
que nos humanizamos e nos sentimos seres psicossomáticos e quase uma-pessoa-calada-e-sozinha-no-mundo.
Essa negatividade não é uma limitação ou um retrocesso, ela é a nossa marca. E,
dialeticamente, dela surge outra positividade. Então, pergunto: pode “se
mostrar” a negatividade? Podemos nos humanizar ou seremos o super-homem que não
falha. Ah, como seria bom dizer para todo mundo: “cara, como é difícil encarar
uma vida dedicada ao trabalho, que é prenhe e preenche, mas que nos domina e
assola?”. Não nego o trabalho porque precisamos dos objetos que produzimos,
embora seria bem interessante todo mundo andando nu por aí, mas, às vezes, desconfio da pura produção baseada na positividade.
[1]
A indiferença é uma reação passiva externa, mas muito ativa internamente porque
fica marcada na nossa reflexão.
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