sábado, 7 de janeiro de 2017

Entre o positivo e o negativo

O atual mundo conectado exige propaganda: não somente faça, mas fale que faz ou, quem sabe, só fale e não faça – às vezes cola. O fato é que se torna difícil ficar indiferente às mídias sociais. É preciso “se mostrar”, é preciso produzir e o ser humano é pura produção, sempre! Não poderia ser diferente porque há sangue correndo nas veias e impulsos elétricos nervosos em fluxo contínuo enquanto o corpo vive. Por mais que sejamos uma-pessoa-calada-e-sozinha-no-mundo somos um algo que reflete e que aparece para os outros, provocando reação, mesmo que indiferença[1]. Além disso, precisaríamos investigar o caso de termos conceituado tão fortemente a pura produção, qual a sua mais profunda finalidade?
O “se mostrar” nas redes sociais, sejam elas audiovisuais ou só visuais, textuais, pessoais ou profissionais, é um se mostrar que visa uma positividade. Ora, temos que servir para alguma coisa, certo? A positividade aclamada é a chave do sucesso, a garantia de que a via positiva certamente levará a um desenvolvimento. Ser positivo é ser ativo e somar. Ser positivo é continuar. Ser positivo é produzir. Há que se verificar aonde a positividade se expressa e abraçar-se a ela, para que ela nos conduza na sua rota inesgotável. A positividade gera positividade e somando-se as positividades entramos em um círculo virtuoso. Podemos e até devemos seguir, não há problemas, mas há outro lado: a negatividade.
O ser humano é pura carência e desconforto, mas tenta se enganar. Por mais metas que nos coloquemos sempre haverá dúvidas. A pura produção, se de per si varonil, tem a sua dialética, como, de mais a mais, tudo na natureza apresenta contrariedade. Há momentos de angústia e travamento, há inquietações, mas a positividade emerge das profundezas e nos levanta. Mas a positividade não ensina porque repete o que está por aí, não mostra a “outra face”. É nos tombos que nos machucamos e lambemos as nossas feridas. É nesse encontro com nós mesmos que nos humanizamos e nos sentimos seres psicossomáticos e quase uma-pessoa-calada-e-sozinha-no-mundo. Essa negatividade não é uma limitação ou um retrocesso, ela é a nossa marca. E, dialeticamente, dela surge outra positividade. Então, pergunto: pode “se mostrar” a negatividade? Podemos nos humanizar ou seremos o super-homem que não falha. Ah, como seria bom dizer para todo mundo: “cara, como é difícil encarar uma vida dedicada ao trabalho, que é prenhe e preenche, mas que nos domina e assola?”. Não nego o trabalho porque precisamos dos objetos que produzimos, embora seria bem interessante todo mundo andando nu por aí, mas, às vezes, desconfio da pura produção baseada na positividade.



[1] A indiferença é uma reação passiva externa, mas muito ativa internamente porque fica marcada na nossa reflexão.

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