Dúvida que os jogos de linguagem sejam explicação suficiente para refutar o conceito de sentido proposicional no uso da linguagem[i]
O prefácio do Livro Azul aparenta
indicar que, quando Wittgenstein refuta o significado de uma proposição, sua teoria
de jogos de linguagem é insuficiente para dar conta do uso da linguagem. Na
verdade, o autor do prefácio questiona se os jogos de linguagem podem ser
considerados uma linguagem primitiva, isto é, uma simplificação da linguagem,
ou seria considerado uma outra linguagem, ainda que haja um conceito aproximado
ao de jogo de linguagem que é o de notação. Entretanto, tudo isso se mistura,
na argumentação de R.R., do que seria uma concepção do Livro Azul, do Livro
Castanho[ii]
ou das Investigações.
Mas, o ponto central é se, e como, se
poderia abrir mão do significado, ainda que fosse possível se comunicar e se
entender, independentemente de que se possa explicar o significado daquilo do
que se fala, conforme citação: “podemos falar e compreender o que é dito – sabendo
o que significa – sem que isso queira dizer que podemos dizer o que significa”
(p. xi). Essa ideia é de uma aprendizagem da linguagem como treino e iria de encontro
a proposta de Santo Agostinho de que já haveria uma estrutura de linguagem
pronta e que o ensino da língua se daria pela explicação do significado de expressões.
Entretanto, ressalta o autor, também há em Wittgenstein uma busca
pela natureza da linguagem que se opõe a sua logicização, como quando, de novo
em referência a Agostinho, ele mostra haver a consideração dos
demonstrativos isto e aquilo como nomes autênticos, ao passo que os nomes
próprios seriam inexatos. Porém, ele não teria explicitado de onde vem essa tendência
de análise lógica, se de um modelo de linguagem que usa regras exatas similares
as da ciência ou de uma origem de uso metafisico, embora sempre ressaltando que
o sentido que as palavras têm é o sentido que lhes damos.
Por fim, é um pouco disso que se trata, se a natureza da linguagem está baseada no uso, seria possível utilizar a linguagem e seus signos nos jogos independentemente
da noção de sentido? Se esse é o caso, conforme R.R., “...o método tem de ser
aí um tanto diferente. Não se pode esperar tanto dos jogos de linguagem” (p. xx).
[i] WITTGENSTEIN, L. O Livro Azul.
Lisboa: Edições 70, 2018.
[ii] Esses dois foram ditados aos seus
alunos.