domingo, 26 de janeiro de 2020

A consciência da ginoide[i]

Supor a existência de uma ginoide[ii] (robô feminina com todas as características de um ser humano) é um interessante experimento mental para se verificar a existência de consciência não humana. Pessoa associa esse experimento ao teste de Turing[iii] que seria capaz de averiguar se uma máquina pensa. Trata-se de um “jogo da imitação” em que um ser humano conversa com uma máquina imaginando ser um ser humano, sem descobrir que conversa com uma máquina. Turing previu esse desempenho para o ano 2000, previsão atualmente em 2029, segundo Raymond Kurzweil, um inventor e futurista dos EUA.
Se o argumento de Turing se refere a um computador ser pensante ou não, ele recebeu críticas por uma possível associação desse ser pensante com um ser consciente, que ele chamou de “argumento da consciência”. Segundo ele, o argumento visava negar a validade de seu teste, porém, no limite, somente sendo a máquina poderíamos ter certeza que ela pensa, assim como, somente sendo outro homem para ter certeza que ele pensa, ou seja, cairia-se em um solipsismo. Pessoa o cita:
“Não desejo dar a impressão de que penso não haver mistério acerca da consciência. Há, por exemplo, algo paradoxal ligado a qualquer tentativa de a localizar. Mas não penso que estes mistérios têm necessariamente de ser resolvidos antes de podermos responder à pergunta de que nos ocupamos neste artigo.”
Retornando à ginoide, Pessoa pergunta se ela é consciente. Por um lado, o behaviorismo (comportamentalismo filosófico) que se vale da aparência, dos eventos externos, poderia aceitar essa atribuição ao passo que o mentalismo tenderia a negar que a ginoide tenha consciência. De nossa parte, tendemos ao mentalismo por acreditar que uma consciência não se define simplesmente por comportamentos externos ou mesmo relações causais e funcionais.
Mais do que isso, também concordamos que uma consciência traz um aspecto subjetivo e qualitativo da experiência que não pode ser atingido por uma ginoide ou robô construído artificialmente. Esse aspecto da consciência, assim posto, se aproxima mais de um sentimento, emoção ou reflexão do que uma racionalidade ou memória.



[i] Conforme Osvaldo Pessoa Jr., Filosofia das Ciências Neurais, Cap. I: Funcionalismo vs. Substancialismo. Em: http://opessoa.fflch.usp.br/sites/opessoa.fflch.usp.br/files/TCFC3-18-Cap01.pdf, acessado em 26/01/20.
[ii] Ginoide vem do grego γυνη, gynē - "mulher" e é uma expressão correlata ao masculino androide, também podendo se usar fembot (robô fêmea) e o neologismo feminoide. Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ginoide, acessado em 26/01/20.
[iii] Alan Mathison Turing, conhecido como o pai da computação,  foi um matemático e cientista da computação britânico. Contribuiu nas áreas da ciência da computação com o conceito de algoritmo e tendo papel importante na criação do computador moderno, além de pioneirismo na inteligência artificial. Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alan_Turing, acessado em 26/01/20.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Filosofia da Sobrevivência

A filosofia da sobrevivência rege: "é preciso sair do outro lado". Cada um luta com as armas que tem. Nesse sentido, a filosofia da sobrevivência traz o homem para perto de seus instintos. "Sair do outro lado" significa: não importa o que houve, não importa o que há, importa o que será. O foco da filosofia da sobrevivência é ação e futuro, não planejamento ou execução com qualidade. Mais rápido, mais simples e mais fácil.
E é tão difícil sobreviver. Enquanto houver vida haverá a encruzilhada entre o medir as consequências e o fazer. É o velho dilema entre a subjetividade que seduz e a objetividade que despe qualquer sentido. A última impera porque as pessoas perderam qualquer pudor em despir-se das aparências. Pensar e pensar. Pensar cansa. Fazer e fazer. Fazer cansa. Não há mérito, entende? É só uma opção, questão de gosto. Foda-se.
Veja: eu preciso dormir! Que horas são? É de manhã. Hum... O que preciso fazer para dormir de noite? Sabe, tem um monte de coisa voando aí na internet, existem assuntos superinteressantes e existem as fake news. Cara, vem tanta mensagem nesse WhatsApp! Meu mundo é o WhatsApp!!! :) :)
Quem me colocou esse cérebro todo entranhado na minha cabeça? Um monte de massa mole. Meu cérebro lembra meu intestino, por dentro e por fora. O intestino é um monte de massa mole cheio de merda, já meu cérebro... Tem mais merda!
Azar do que pensam. Ninguém está preocupado comigo. De fato, ninguém se preocupa com ninguém porque cada um se preocupa em SAIR DO OUTRO LADO. Sabe aquele tatuzinho meigo, pequeninho, bonitinho? Ele só quer sair do outro lado. E você tont@ tentando tirar uma foto dele para colocar no Face.
Eu quero beber uma, mas será que assim eu saio do outro lado?
Entrego minha alma a Deus, el@ me ajudará a sair do outro lado?
Como de boca aberta... Isso me compromete na busca do lado de lá?
Qual o lado de lá? Alguém já viu??
O
Lado
De
É
Um
Lado
Que
Não
Vemos
Que
Buscamos
Aonde?
Do
Lado
De
Lá?
Com quem????????????????????? Não importa, não é essa a questão. Preste atenção. Alooooou? Alô?
Eu estava aqui meio sei lá. Aí de repente eu fui comprar um jornal. Ali na capa haviam umas manchetes que não diziam respeito a mim, eu achei interessante, mas achei também que era de um mundo meio esquisito, meio estranho, meio sem amor. Não sei, me achei meio careta. Achei que era bem ridículo ficar pensando nessas coisas. Então fui tomar um cuado no Jeová. Eu fiquei ali amuado no sol e de repente passou um muleque pedalando uma magrela com uma caixa grandona laranja nas costas. Um caixão. Eu fiquei curioso pra saber o que tinha dentro e pensei: essas caixas podiam ser transparentes, né? Falta transparência no mundo, embora as redes zelem pela transparência, diria um filósofo sul coreano.
Mas whatahell fazia o boy na bike? Saía do outro lado.
E o whatahell quem pediu fazia? Saía do outro lado.
E whatahell eu fazia? Saía do outro lado.
Você me entende agora? Você entende a filosofia da sobrevivência?