segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Do conhecimento à opinião há erro*

Russell tratará de verificar se conseguimos distinguir entre crenças verdadeiras e falsas, iniciando com o que significa conhecer. Se parece que o conhecimento é o resultado de uma crença verdadeira, pode às vezes acontecer de uma crença verdadeira ser deduzida de uma crença falsa e isso não resulta em conhecimento. Ou de um processo falacioso de raciocínio,  até mesmo com premissas e conclusão verdadeiras.
Segundo Russell, o conhecimento é algo deduzido de premissas conhecidas, ou seja, um conhecimento derivativo de premissas conhecidas intuitivamente, desde que assumida uma conexão lógica válida. Há, até mesmo, conhecimento que pode ser uma inferência de uma notícia de jornal obtido pelos dados-dos-sentidos da leitura da notícia que não é, de fato, uma inferência lógica, mas inferência psicológica. Russell diz que não há uma definição precisa de conhecimento pois este pode ser estender até a provável opinião. Se o conhecimento derivativo depende do indutivo, o último não tem um critério certo de conhecimento ou erro[i].
Russell, então, compara o conhecimento de verdades, que corresponde ao complexo dito no capítulo anterior, com o conhecimento por familiaridade e situa o último como dependente da percepção e não suscetível ao julgamento que pode acarretar em erro. Então ele distingue os dois tipos de autoevidência que se seguem.
Conhecimento autoevidente de um fato particular fica privado a uma pessoa: dados-dos-sentidos, um sentimento, já fatos relacionados a universais não têm essa privacidade e podem ser conhecidos por muitas mentes por familiaridade. Assim, uma garantia absolutamente de autoevidência é quando conhecemos por familiaridade os termos e a relação envolvidos em um complexo, neste caso o julgamento de que os termos estão relacionados deve ser verdadeiro.
Entretanto, passar da percepção de um fato complexo ao seu julgamento não é um processo infalível porque pode terminar em não correspondência devido a algum erro. Já o segundo caso de autoevidência apresenta graus, não por conta dos dados-dos-sentidos, mas pelos julgamentos duvidosos sobre eles[ii]. Já nos conhecimentos derivados, as últimas premissas devem ter alto grau de autoevidência, como quando em matemática partimos de axiomas e devemos demonstrar os resultados.
Encerrando, Russell argumenta que se no que acreditamos é verdade, tem-se conhecimento, seja intuitivo ou inferido, caso contrário se falso é erro e, não sendo ambos, é uma opinião provável. Na base, há o conhecimento intuitivo em proporção aos graus de autoevidência. A opinião provável pode se valer do critério da coerência que é usado nas ciências e filosofia, mas que por si só não se transforma em conhecimento indubitável.



* Bertrand Russell, Problems of Philosophy. KNOWLEDGE, ERROR, AND PROBABLE OPINION. Acessado em 12/7/2019: http://www.ditext.com/russell/rus13.html. Ver o seguinte fichamento e os anteriores: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2019/07/a-unidade-complexa-de-russell.html.
[i] Conforme Russell: “all our knowledge of truths is infected with some degree of doubt, and a theory which ignored this fact would be plainly wrong”.
[ii] Graus como ocorrem na afinação de um instrumento, ele cita.