Quem é
estruturalista em 1967: o linguista R. Jakobson, o sociólogo Lévi-Strauss, o psicanalista
J. Lacan, o filósofo M. Foucault, o filósofo marxista L. Althusser, o crítico
literário R. Barthes, entre tantos outros. Eles se valem de um espírito do
tempo e usam a estrutura (ou sistema) nos mais variados domínios. Ela se
origina na linguística de Saussure: só há estrutura do que é linguagem. Nos
domínios temos a estrutura do inconsciente: ele fala e é linguagem; a estrutura
dos corpos que falam com a linguagem dos sintomas; das coisas através do discurso
silencioso da linguagem dos signos.
A primeira
descoberta do estruturalismo é a dimensão do simbólico que rompe a oposição (ou fusão) entre real e imaginário –
jogo dialético que vem da filosofia clássica e, depois, é abarcado pela
psicanálise. Seu começo na linguística reporta, por um lado, para a palavra que
tem realidade e partes sonoras, imagens e conceitos, mas, por outro, existe o
elemento simbólico, o objeto
estrutural. A estrutura encarna-se na realidade e nas imagens a partir de
séries determinadas e os perturba porque é mais profunda que eles; a estrutura é
o subsolo. Havia o pai real e imagens do pai na psicanálise, Lacan descobre um
terceiro pai: o Nome-do-pai. O terceiro elemento é o simbólico, mas a própria estrutura é pelo menos triádica porque há
um terceiro irreal, mas não imaginável. A ordem simbólica nada tem a ver com uma forma sensível que se exerceria no
real ou na percepção, nem com uma figura da imaginação e nem tanto com alguma
essência inteligível, seus elementos formais não tem forma, representação,
significação, conteúdo, realidade, enfim. Pode-se haver um desconhecimento da
ordem simbólica por um lado, por
outro o estruturalismo permite uma reinterpretação de obras e teorias.
Os elementos de
uma estrutura só tem o sentido de posição,
dentro de um espaço topológico e inextenso os elementos estão em uma relação de
vizinhança em seu interior. São primeiros em relação a coisas e seres que os
virão a ocupar e mesmo aos papéis imaginários que daí surge. Portanto os
lugares são mais importantes de quem os preenche, pai, filho, esposa, são
lugares a serem ocupados nas estruturas, entramos na fila e chegaremos lá, um
dia ocuparemos o papel de morto. O elemento simbólico, sendo sentido de posição sem designação extrínseca ou
significação intrínseca, é um sentido que resulta da combinação de elementos
não significantes. Combinação excessiva dos elementos, elementos sobrepostos, sobre
determinados. O estruturalismo se vale do jogo: no baralho o coringa circula
pela estrutura; pensar é lançar os dados. Estruturalismo que aponta para um
anti-humanismo ao valorizar a posição
e não quem a ocupa...
As unidades de
posição entram em relações diferenciais.
Há a relação real: 2/3, 3+2, com elementos e relações reais. Há a relação
imaginária: 2x+y=0, valor não especificado, mas que deve ser determinado caso a
caso. E as simbólicas: dx/dy=x/y, os elementos não têm qualquer valor
determinado, mas se determinam na relação diferencial,
ela sim determinada. A natureza simbólica é definida nesse processo de
determinação recíproca no seio da relação. E surgem singularidades na determinação
recíproca (dos pontos forma-se a curva), da determinação recíproca temos a
determinação completa. As estruturas apresentam, então, os aspectos: um sistema
de relações diferenciais segundo as
quais os elementos simbólicos se determinam reciprocamente (pai só é pai se tem
filho; filho só é filho se tem pai) e um sistema de singularidades
correspondendo a essas relações e traçando o espaço da estrutura. Com
Althusser, as relações diferenciais
se dão entre elementos simbólicos, são categorias, designações: força de
trabalho e meios de produção em relações de propriedade. Já as singularidades
se referem a funções, atitudes: cada modo de produção é uma singularidade que
corresponde aos valores das relações. O verdadeiro sujeito não é o homem, mas a
definição dos lugares e funções. A estrutura é inconsciente e virtual, é real
sem ser atual e ideal sem ser abstrata. É uma virtualidade de coexistência que
se atualiza em direções exclusivas. Somente determinadas relações e
singularidades se atualizam aqui e agora. Diferenciação:
conjunto das diferenças em uma
estrutura, a nível vertical, fora do espaço e tempo. Diferenciação: conjunto atualizado num dado espaço e tempo da
estrutura. A gênese e o tempo na estrutura vão do virtual ao atual, não há
atualização forma-forma, sempre se remete ao virtual. Atualizam-se as relações diferenciais (espécies diferenciadas) e as singularidades
(partes diferenciadas da espécie). A
estrutura é diferencial não só nos
efeitos que nela se atualizam, mas diferencial
em si mesma. A imaginação opera sobre os efeitos de superfície que escondem o
mecanismo diferencial de pensamento
simbólico. Então, a estrutura sendo inconsciente (e diferencial) se confunde com seus efeitos. De acordo com o campo
simbólico, o inconsciente se coloca, e coloca problemas e questões a serem
resolvidos em cada domínio.
Qualquer estrutura
é serial, multisserial, cada série
composta de elementos simbólicos que se relacionam e só assim a série se põe em movimento. Séries de elementos e relações,
sistemas, diferença. Não há regra geral para a organização das séries constitutivas de uma estrutura.
O problema que o estruturalismo coloca objetivamente se resolve a partir dessas
constituições seriais. As séries se deslocam umas em relação às
outras, não é um deslocamento imaginário, é estrutural e simbólico, pertence
aos lugares no espaço da estrutura e aciona os disfarces imaginários dos seres
e objetos que secundariamente ocuparão esses lugares.
A casa vazia, objeto = x paradoxal que aparece nas estruturas, é capaz de
convergir séries divergentes, se move e circula em cada série. Como nas canções
onde o refrão é relativo ao objeto = x
e as estrofes as séries divergentes pelas quais ele circula. Objeto sempre
deslocado a si mesmo, está onde não se procura. Não é real porque falta no seu
lugar, não é imagem porque falta na sua própria semelhança, não é conceito porque
falta na própria identidade. O objeto =
x é o diferenciante da diferença. Como no jogo que só funciona com a casa vazia que muda de posição
constantemente. É a palavra "coisa" que possui excesso de sentido,
que significa nada ou qualquer coisa, ou que dota de sentido o significante e o
significado. Ou o objeto = x é
determinado como falo, nem o falo real, nem as imagens a ele associadas,
mas o falo simbólico que funda a sexualidade. O falo é uma questão e designa a casa vazia da estrutura sexual. Assim como
na estrutura econômica a casa vazia
é o valor, o não empírico atribuído ao trabalho em geral. Mas, o que vem
primeiro, o valor ou o falo? Não há ordem nas estruturas, elas estão
perpendiculares umas as outras e à experiência única do indivíduo.
Então a estrutura
é preenchida em si por elementos simbólicos e, atualizada, é preenchida por
seres reais; o que não se preenche é a casa vazia. Vazio positivo que não
é lacuna, mas espaço a ser preenchido. O sujeito
é a instância que segue o lugar vazio, menos sujeito e mais sujeitado,
o estruturalismo dissipa o sujeito e
o faz nômade, individual, mas impessoal. E podem ocorrer dois acidentes na
estrutura: ou a casa vazia não é preenchida (vira lacuna) ou é preenchida e sua
mobilidade perdida. Esses acidentes são aventuras da casa vazia suscitados por
contradições internas à própria estrutura, acontecimentos que afetam a casa
vazia (ou sujeito). O sujeito não preenche, mas deve acompanhar
o deslocamento da casa vazia, deslocamentos que geram novas singularidades, e
pela práxis essas singularidades são
redistribuídas; novos dados são lançados. Portanto, há um processo de produção
estrutural que produz efeitos nos diferentes níveis da estrutura, sejam eles: o
real (os seres reais); o imaginário (as ideologias); o sentido e a contradição.
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*Resenha (e colagens, recortes) do texto homônimo de Gilles Deleuze.