Pessoa trata da “identidade” a partir de
uma distinção entre identidade quantitativa e identidade qualitativa. Segunda a
Wikipédia[ii]:
A
noção de identidade faz surgir um número de problemas filosóficos, incluindo a
identidade dos indiscerníveis (se x e y
gozam do mesmo conjunto de propriedades, trata-se então de coisa única e mesma?)
e questões sobre mudança e identidade pessoal através do tempo (quais as
condições para que a pessoa x e a pessoa y, esta de um tempo posterior, sejam a
mesma pessoa?).
O que se destaca em negrito, acima, foi
sucintamente abordado em texto anterior[iii].
O mote de Pessoa para esse capítulo é “Uma cópia material humana perfeita tem
consciência idêntica?” e merece ser mais bem analisado, mas agora focaremos no
final. De acordo com a identidade numérica 2 são 1. De acordo com a identidade
qualitativa 2 são 2 (ou não...). A identidade qualitativa significa que duas
coisas diferentes têm as mesmas propriedades, ou seja, são [quase] “idênticas”, embora
sejam coisas diferentes. Já a identidade numérica, mais simples, diz sobre o
planeta Vênus que “a estrela d’alva e a estrela Vésper são idênticas”. Trata-se
do mesmo indivíduo. Já dois irmãos gêmeos são [quase] idênticos sendo diferentes.
Pessoa, remetendo ao debate entre
nominalistas e realistas, conclui com a diferença de abordagem na identidade
qualitativa. Tomando como exemplo um nariz idêntico de dois gêmeos univitelinos,
ele pergunta se a forma dos narizes pode ser considerada a mesma ou não. Para um
realista de universais, como Platão, é a mesma forma (somente uma, quantitativamente). Para um nominalista como Ockham são de fato duas: “essa” (nariz
1) e “aquela” (nariz 2)[iv].
[i] Capítulo II do curso de Filosofia
das Ciências Neurais do professor Osvaldo Pessoa
Jr, ano de 2016: http://opessoa.fflch.usp.br/.
[ii] Vide: https://pt.wikipedia.org/wiki/Identidade_(filosofia),
acessado em 13/02/2020.
[iv] Essas coisas todas, embora pareça somente filosofia, dizem muito sobre a vida e o mundo. Veja a diferença que há entre
o pensamento de Platão e Ockham. O uso de um termo, de uma identidade pode
significar muito em determinados contextos. Platão, quando remete a uma forma única, remete a "entidade" superior imutável. Já Ockham, que não conhecemos muito, privilegia o particular rechaçando o universal, abstrato.