Trata-se
de mostrar pontos da dialética marxista a partir da contribuição de Althusser, conceituação
que diverge da interpretação do marxismo
vulgar.
O
marxismo vulgar aplica a dialética hegeliana ao materialismo dialético, porém
inversamente. Em linhas gerais, a dialética hegeliana é o desenvolvimento
histórico do espírito absoluto que se manifesta no real através dos fenômenos
materiais. O espírito absoluto é a essência que produz efeitos no mundo real tal
qual nós o conhecemos: mundo aparente. O material é um efeito do espírito que é
a essência. O desenvolvimento do espírito absoluto tem uma finalidade racional
e, na sua teleologia, não se dispersa, não há momentos de indeterminação. Conforme
Homero bem lembra, Fukuyama já tratara do fim da história, com Hegel o fim racional
teria sido dado com a revolução francesa e sua concepção de Estado criado por
uma astúcia da razão.
Para
o marxismo vulgar, o desenvolvimento dialético se dá essencialmente pela
economia. Aparentemente somos racionais, porém a essência é o economicismo. A
finalidade do materialismo histórico dialético seria mostrada pela contradição
geral que se dá entre capital e trabalho, ou seja, burguesia e proletariado. Tudo
convergiria para essa contradição que levaria ao fim do capitalismo. Porém, o
exemplo de revolução oriunda da cartilha marxista, a revolução russa, não foi
capaz de abalar todas as estruturas e, mesmo que tenha havido uma
transição para a economia socialista, as demais estruturas não se
transformaram. A contradição geral é uma possibilidade que requer condições objetivas
para se realizar.
A
partir da revolução russa, Althusser constata que a dialética pregada na
cartilha marxista versa sobre a contradição hegeliana simples, quando na
verdade a dialética marxista é sobre determinada. Tal concepção é oriunda do
conceito psicanalítico do sonho onde há diversas sobre determinações sobre um
efeito que se dá de maneira diversa[1]. O
mesmo, então, se passa com as contradições do capital: não haveria uma
contradição geral (econômica: capital-trabalho) que reduziria as demais
contradições (cultural, religiosa, educacional, etc.)[2].Há
sempre uma determinação dominante em última instância, que, no capital, é a
econômica, mas que se relaciona com as demais instâncias e não as reduz. Sabemos
da influência estruturalista sobre Althusser: não devemos buscar essa última instância
econômica em sua origem, mas como ela se apresenta em um determinado tempo, por
exemplo, na sociedade russa da revolução[3].
De
posse disso, Althusser pode redefinir uma nova ciência da história que não é a
ciência da historia do marxismo vulgar que se funda unicamente na contradição geral,
mas uma ciência da história que se aplica a distintos modelos de sociedade,
tomando a sua última instância de determinação em cada momento. Essa nova
ciência da história seria, então, a base para uma nova filosofia marxista (apesar
de críticas que possam haver a essa navalha da ciência).
* Anotações de aula de Moderna IV, professor Homero Santiago, tomadas em 04 de maio de 2017.
[1] Uma palinha do inconsciente
sobre determinado pode ser encontrada aqui: http://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/09/cinco-licoes-de-psicanalise.html
[2] Os AIE de Althusser, conforme: http://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2015/10/aie-escola.html.
[3] Estruturalismo abordado por Deleuze: http://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2015/09/como-reconhecer-o-estruturalismo.html.