A segunda-feira sempre foi um problema
para mim. Houve uma época em que eu sentia um grande vazio existencial segunda à
noite e só me restava a alternativa de ir para os botecos tomar uma cerveja e “rebater
o fim de semana”. Essa solução se mostrou um tanto cara e maléfica para a saúde,
mas isso foi “lá traz”, lá pelos idos de 2005, 6.
O tempo passa e, na minha estada no Rio de
Janeiro (7-10), a “síndrome da segunda-feira”, às vezes, durava até quarta ou
quinta-feira. Não se sabe porquê, mas a terra de São Sebastião não me ajudou
quando o assunto era trabalho. Enfim, o tempo passa e a gente toca o barco. Na
volta para a SP, a terapia me ajudou a afastar esse problema com um pouco de
conversa e alguns remedinhos. Nada de mais, digamos que uma dose de uma cachacinha
feita em laboratório.
Tudo vai e tudo vem, pandemia e a coisa
toda, e eis que estamos aqui, terça-feira, 6h AM, nos defrontando com esse
texto resultado do que chamo de uma insônia de última milha e que tem me
acometido no que, já vai tarde se ainda não foi, 2022. A experiência e a barba
branca, contudo, me ensinam a “modular”, digamos, a questão. Dá para conviver:
entre despertares por volta de 4 ou 5h da manhã, um pouco de sofá e tuite me
trazem de volta para a cama e o sono. Mas, cá entre nós, embora não afete meu
dia, poderia ser melhor né?
Bem, o Rufino[i] aponta o caminho: trabalhar
três dias na semana e folgar quatro. A Lívia trabalha quatro e folga três, mas
o inimigo ainda está ganhando. O Safatle tem dito que na Europa eles têm
tentado reduzir a carga de trabalho, mas esses sacanas desses branquelos tomaram o Brasil de assalto e acabaram com a nossa relação com a natureza, que agora ocorre
mediante o trabalho.
Reverter isso levará tempo, mas é, sem
dúvida, a melhor alternativa. Produzir demais não ajuda ninguém, mas quem sou eu
para dizer, que estou quase um workaholic. Ora, voltarmos para as formas de vida de
nossos povos originários e, com a sabedoria deles aprendermos, é o melhor que
temos a fazer, afinal, ainda está em nosso DNA, mesmo que tentemos brutalmente
acabar com essa marca indelével.
[i] Em Arruaças, Mentira vira
verdade e verdade vira mentira, a respeito do Neco.