Me parece sobremaneira interessante fazer um
recorte da chamada teoria da referência indireta, como a nós pareceu. Vejamos:
há um nome, talvez uma expressão ou proposição, ou seja, um recurso linguístico
que tem um sentido antes de ter uma referência. Mais do que isso, o sentido é
mister, é mais do que a referência e pode até dela prescindir.
Por exemplo, tomemos a frase: “Minha terra
tem palmeiras, onde canta o sabiá”. A semântica fregeana se perguntaria pelo
sentido dela e não pela referência, isto é, se há palmeiras e se nela existem
sabiás que cantam. Se eu digo: “Superman!!”, o que quero dizer? Ao analisar
esse nome, “Superman”, eu penso no Superman em si ou no homem que vai me salvar? Ou no homem que usa uma capa vermelha? Engano, não é um homem, pois
veio de outra planeta...
Parece óbvio, não é? Há tantos sentidos e há uma referência, mas quantas e repetidas vezes vivemos do sentido? Esquecemos completamente a referência e tratamos do sentido que a ela queremos dar. Diz a mãe: “Ah, meu menino...”, ao que o outro responde: “Que menino o que boba, já passou dos 30!”. Vê? São sentidos bem diferentes. Quem tem razão? Basta olhar para a referência? Certamente não. Então? Há o impasse e, daí, o diálogo.
* * * * *
As notícias recentes me fizeram pensar
sobre a expressão: “crime contra a humanidade”. Ela se refere a agentes da
Polícia Rodoviária Federal que assassinaram Genivaldo em Sergipe, em Umbaúba, semana passada. Os
policiais assassinos executaram esse cidadão pela tortura: espancamento e câmara
de gás. Tortura é um crime contra a humanidade. Mas o atual presidente é um
genocida, e também cometeu crime contra a humanidade durante toda a pandemia, reiteradamente.
Humanidade... Humanidade que é o que eu
tenho, você tem. Humanidade que é muita gente ou toda a gente do planeta. O
crime de tortura que as polícias brasileiras praticam, e agora com maior complacência, é um crime contra a humanidade de uma pessoa. Quando você tortura uma pessoa,
ela deixa de ser humana. O genocídio que o atual presidente cometeu na pandemia, e que ainda quer cometer, visa
pobres, minorias, indígenas, etc., é um crime que coloca em risco a humanidade
como um todo, se a moda pega.
Nesse "sentido", não importa a referência, o
que importa é o sentido mesmo: fascismo.
PS.: inspiração oriunda dos vídeos de
Ruffino sobre Frege e tristemente ancorada na tragédia brasileira.
Bauman diz algo sobre essa questão de <> que é tirar da pessoa seus atributos como pessoa, logo, tirando-lhe a própria humanidade. Se eu despersonalizo o outro, fica mais fácil aporrinhá-lo, torturá-lo, matá-lo. Esse deprimente caso supracitado mostra isso - Genivaldo não era um ser humano para as autoridades, sendo assim, de nada sentiram. Nem remorso, nem culpa. Tanto o é como para as comunidades indígenas, para a população negra da periferia, para os palestinos... Numa mistura de referências e sentidos eu adorei o texto (mesmo boiando no assunto), seguimos!
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