Faz uma exploração inicial acerca da possibilidade de
se encontrar uma unidade semântica
Em termos gerais, a sintaxe é aquela que trata das regras gramáticas ao passo que a semântica se preocupa com o significado, que é coisa difícil de definir e entender. Isso porque um significado em si é uma passagem para alguma coisa, isto é, é um signo. Então, um significado significa algo: uma ideia em nossa mente, uma memória, um fato no mundo ou até uma ludibriação. Vejamos:
1. A frase “Que vontade de comer uma picanha”
pode indicar a sensação de comer uma picanha nesse momento, por fome, desejo,
whatever.
2. Já “Que vontade de comer aquela picanha”
pode se referir a um fato, ou melhor, há uma carne comida outrora.
3. Por outro lado, “Que vontade de comer picanha”
referir-se-ia a um argumento tolo em uma discussão sobre a proteína do almoço
de amanhã.
Pois bem, voltemos ao título e perguntemos: Qual a "unidade semântica” do que foi até agora explicitado? Seria a picanha, a
vontade, comer ou nenhuma das anteriores? Por nenhuma das anteriores abrimos o
leque de tudo-o-que-existe, que são as mais variadas teorias psíquicas sobre o desejo de
comer picanha, teorias fisiológicas sobre o efeito da picanha no corpo, teorias
ecológicas sobre a pastagem do gado origem da picanha, elocubrações veganas relativas
à piedade de se matar os pobres bichanos, e por aí vai.
Em resumo, podemos encontrar uma unidade
semântica ou a própria unidade semântica é semântica, qual seja, dependente da
própria maneira de como entendemos a semântica, ou de um ponto de vista
objetivo, daquilo que é aceito por muitos (“a picanha está muito cara
atualmente”) ou do que se entende subjetivamente (“picanha era carne de segunda,
antigamente”).
Um ponto evidente a se ressaltar é que se
trocarmos “picanha” por “feijão”, “comer” por “cozinhar” e “vontade” por “raiva”,
todos os exemplos significantes que levamos em conta até agora cairiam por terra, exceto
a estrutura da argumentação. Clarificando, a busca pela unidade semântica emerge agora como uma negação do significado em si. Repetimos: buscar a unidade
semântica significa abrir mão do significado aplicado e entender, usando a
linguística ou a filosofia, se a unidade semântica pode ser uma classe gramatical
(substantivo, verbo...), uma frase (sentença, proposição...), um parágrafo ou o
texto todo (poderíamos, talvez, usar máquinas, algoritmos de computação e matemática para tentar nos ajudar nessa identificação).
De novo, peguemos esse texto (a tal da autorreferência) e façamos o teste: extraio significado do título, de algumas palavras chave, de cada uma das frases individualmente, dos parágrafos ou do conjunto da obra? Se isso é importante? Claro! Nossa maior aquisição é a linguagem, embora muito mal utilizada.
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