sexta-feira, 24 de junho de 2022

unidade semântica

Faz uma exploração inicial acerca da possibilidade de se encontrar uma unidade semântica

Em termos gerais, a sintaxe é aquela que trata das regras gramáticas ao passo que a semântica se preocupa com o significado, que é coisa difícil de definir e entender. Isso porque um significado em si é uma passagem para alguma coisa, isto é, é um signo. Então, um significado significa algo: uma ideia em nossa mente, uma memória, um fato no mundo ou até uma ludibriação. Vejamos:

1. A frase “Que vontade de comer uma picanha” pode indicar a sensação de comer uma picanha nesse momento, por fome, desejo, whatever.

2. Já “Que vontade de comer aquela picanha” pode se referir a um fato, ou melhor, há uma carne comida outrora.

3. Por outro lado, “Que vontade de comer picanha” referir-se-ia a um argumento tolo em uma discussão sobre a proteína do almoço de amanhã.

Pois bem, voltemos ao título e perguntemos: Qual a "unidade semântica” do que foi até agora explicitado? Seria a picanha, a vontade, comer ou nenhuma das anteriores? Por nenhuma das anteriores abrimos o leque de tudo-o-que-existe, que são as mais variadas teorias psíquicas sobre o desejo de comer picanha, teorias fisiológicas sobre o efeito da picanha no corpo, teorias ecológicas sobre a pastagem do gado origem da picanha, elocubrações veganas relativas à piedade de se matar os pobres bichanos, e por aí vai.

Em resumo, podemos encontrar uma unidade semântica ou a própria unidade semântica é semântica, qual seja, dependente da própria maneira de como entendemos a semântica, ou de um ponto de vista objetivo, daquilo que é aceito por muitos (“a picanha está muito cara atualmente”) ou do que se entende subjetivamente (“picanha era carne de segunda, antigamente”).

Um ponto evidente a se ressaltar é que se trocarmos “picanha” por “feijão”, “comer” por “cozinhar” e “vontade” por “raiva”, todos os exemplos significantes que levamos em conta até agora cairiam por terra, exceto a estrutura da argumentação. Clarificando, a busca pela unidade semântica emerge agora como uma negação do significado em si. Repetimos: buscar a unidade semântica significa abrir mão do significado aplicado e entender, usando a linguística ou a filosofia, se a unidade semântica pode ser uma classe gramatical (substantivo, verbo...), uma frase (sentença, proposição...), um parágrafo ou o texto todo (poderíamos, talvez, usar máquinas, algoritmos de computação e matemática para tentar nos ajudar nessa identificação).

De novo, peguemos esse texto (a tal da autorreferência) e façamos o teste: extraio significado do título, de algumas palavras chave, de cada uma das frases individualmente, dos parágrafos ou do conjunto da obra? Se isso é importante? Claro! Nossa maior aquisição é a linguagem, embora muito mal utilizada.

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