domingo, 13 de setembro de 2015

Bando de loucos

     Eu vejo gente conversando na rua, dois homens indo para o trabalho. Eu passando pela calçada observo uma mesa com pessoas reunidas por detrás de uma porta de vidro. Eu vou ao bar e há grupos de amigos bebendo e trocando ideias. Eu vejo tudo isso e acho estranho... Sobre o que essas pessoas conversam? O que elas pretendem conversando? Será que elas pretendem emitir uma opinião, se resguardar, influenciar o interlocutor, enfatizar suas convicções, enfim, o quê? Eu me pergunto se, na verdade, elas sabem o que pretendem. Creio que não... Mas eu tenho a impressão que elas não sabem o que pretendem porque não sabem o que é possível. Não por elas próprias, mas pelas condições a que são submetidas.
    As pessoas se encontram e falam, falam. Falam e não sabem se são ouvidas, mas falam. Eu suspeito que elas não sejam ouvidas e que mal sabem o que falam e porque falam. De fato, surgimos nesse mundo de falar em que não se sabe se escutar e, muito menos, comunicar. Não examinamos essa condição[1] e acreditamos que é natural e que é o único meio que temos de viver. Porque quase tudo se faz falando ou se comunicando.
     Entretanto, estou certo que em um mundo com a quantidade enorme de ruídos que temos qualquer tipo de comunicação é inviável (senão impossível), pelo menos da forma que conhecemos atualmente. Por que nascemos assim, utilizamos a linguagem, tudo não passa de certa instrumentalização. A linguagem não é fim, ela é meio. Ela serve a interesses e, por isso, não é confiável. O objetivo do homem ao falar é se valer de uma necessidade que é criada. O objetivo do homem não é uma comunicação stricto sensu. O homem sabe que tem ruído na conversa e usa isso como moeda de manipulação. Está na hora de começarmos a desvelar essa forma de comunicação hipócrita e comezinha. 
     Embora me seja simpático, não quero propor aqui uma volta a um estado de natureza antissocial. Mas também não quero esse meio termo da linguagem que conhecemos. Não é viável tal tipo de comunicação em que falamos, falamos e, às vezes, escutamos, escutamos. E? E, nada! E falamos e escutamos, somente.
     Uma forma de comunicação só seria aceita se houvessem todas as garantias de um profundo entendimento. Oh, mas e a subjetividade, a relação de transferência, a liberdade que por aí se insere? Não há liberdade aí. O que há é um não saber disfarçado de liberdade. O que há é um contentar-se com pouco. Evoluamos! Não significa dominemos o mundo, não significa vida eterna. É somente uma busca por uma forma de comunicação mais elementar, básica, consistente e que também pode ser estimulante e surpreendente. Não sejamos um bando de loucos.
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[1] Aqui não entraremos no mérito da linguagem enquanto estrutura subjetiva partilhada historicamente por todos os homens.

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