Visa trazer anotações iniciais sobre uma primeira
leitura d’O Livro Azul[i]
Substantivação:
Wittgenstein nos chama a atenção, na primeira página (p 21), para uma prática
que leva a erros filosóficos, qual seja, ao tratar de um substantivo procurar
por um objeto associado. Aqui parece uma espécie de crítica à ostensão[ii], quando uma palavra é
significada apontando para uma coisa e também visa marcar um objeto, defini-lo
de forma fixa e não pelo dinamismo da linguagem. Um antídoto a essa prática
seria reformular perguntas que se referem ou buscam por coisas por perguntas
que buscariam por uma explicação de palavras ou conceitos para fugir do objeto.
Na verdade, mesmo a ostensão não garante o significado, já que a interpretação
pode variar. (Por exemplo, eu aponto para algo no céu que chamo avião, mas você pode chamar disco voador.) Por outro lado, há um uso mistificador da linguagem (p 29) que nos
confunde quando tratamos de certos substantivos, como o tempo e queremos
verificar a sua natureza[iii] tendendo-se a
diviniza-lo.
Frege: entendemos que
há uma crítica ao conceito de sentido posto por Frege, que seria algo que daria
vida à linguagem, ao invés de meros signos inertes, porém que pareceriam
direcionar a algo imaterial, quando Wittgenstein entende que o sentido vem da
utilização da linguagem. Aí teria uma referência implícita a Occam, ao se
questionar por que a adição de um sentido animaria aquele signo. Evita-se o
sentido pela utilização e a frase ganha vida pela linguagem. Na verdade, os
mais variados sentidos são descobertos pelo uso em cada caso particular, em
cada contexto e é pela gramática que o sentido pode ser explicado.
Depois de falar sobre dificuldades na compreensão
gramatical, jogos de linguagem aparecem como simplificações de linguagem
(p 44), próximos de uma linguagem primitiva ou daquela usada pela criança e que
não envolveriam pensamentos complexos, permitindo desnudar o uso da linguagem
habitual e que se mostrarão, a bem da verdade, similares ao de uma linguagem mais
complicada.
Ele trará um método de análise linguística
(p 61) que não se aterá a qualquer tipo de significado verdadeiro para uma
palavra, mas que mostra que seu sentido é sempre dado por alguém e que são
expressos pela linguagem comum, mas perfeita que uma linguagem ideal. E também
um método que rejeita que há um processo mental de pensamento como uma
instância além do seu mero caráter de expressar o pensamento, isto é, o ato mental
não passa de manipulação dos símbolos pela linguagem. Ele remete a velha
distinção entre um mundo mental e um mundo físico, sem que nos esqueçamos de
que nossas certezas pessoais ou mesmo estados psíquicos podem nos levar a um
excesso de subjetivismo, ao passo que proposições sobre objetos físicos pode sem
comprovadas pela experiência.
Temos certeza de quão rasas são essas
primeiras notas da obra e o quão incerto meu entendimento, o que nos instiga a
futura leitura detida, mas falemos dos tão polêmicos dados dos sentidos que nosso
autor traz ressaltando a atitude metafisica e que parece desmistificar o idealismo
/ solipsismo. Para ele, o metafísico aproxima os dados dos sentidos e que
seriam privados, aos corpos físicos, tratando ambos como verdades científicas,
como que expressando aquela indubitável certeza. Mas, não seriam eles, os dados
dos sentidos e o objeto físico uma e a mesma coisa? Isso ele parece dizer (p
114), quando compara os dados visuais de uma árvore com a árvore física. Ora,
sem os dados visuais dela, a árvore deixaria de existir? Finalizemos com a citação:
“Ora, o perigo que corremos quando adotamos a notação dados dos sentidos é o de
esquecermos a diferença entre a gramática e uma declaração sobre dados dos
sentidos e a gramática de uma declaração, exteriormente semelhante, sobre objetos
físicos.” (p 123).
[i] WITTGENSTEIN, L. O Livro Azul.
Lisboa: Edições 70, 2018. Anotações expressas..
[ii] Como sendo o sentido.
[iii] Santo Agostinho recebe uma crítica mais a frente por querer “medir o tempo” (p 58) – tempo que é sempre fugidio....
Nenhum comentário:
Postar um comentário