Perguntamos: problemas filsóficos podem ser resolvidos através de proposições lógicas ou de um mero discurso do senso comum?
Isomorfismo.
Partimos da tríade linguagem, pensamento e realidade. O primeiro Wittgenstein,
do Tractatus, se questiona se
existiria uma ordem a priori no mundo e, se sim, em que consistiria? Para o 1º W[i],
sim: há uma ordem no mundo e ela é a estrutura lógica composta por um mesmo
esqueleto que parte do isomorfismo entre linguagem, pensamento e realidade,
representada pela lógica simbólica, cujo embrião já estava presente em Russell.
De acordo com Schwartz, podemos encontrar nos Principia
Mathematica, uma definição do atomismo lógico como o mundo tendo a
estrutura da lógica matemática. Porém, salienta Schwartz, se há um potencial da
ordenação do mundo que se baseia no pensamento e na linguagem, esta é imprecisa. Assim, a lógica simbólica deveria ser usada para ordenar pensamento e
linguagem e resolver problemas filosóficos, valendo-se de uma linguagem ideal. Do
que se cunha: “A proposição mostra a forma lógica da realidade”. Nada mais
cristalino para uma definição positivista. Já o 2º W[ii]
revela a ilusão do Tractatus: uma ordem
a priori que correlaciona linguagem e mundo, ordem simples, sem interferência
empírica e anterior à experiência.
Significado.
Além do isomorfismo, o 1º W também definiu a teoria pictórica do significado.
Por ela, enunciados obtém significado ao representar fatos: se sim, são
enunciados verdadeiros, se não, falsos. Ryle a chama de “Fido”-Fido: Fido
representa Fido, tratando-a como uma teoria grotesca. Seguindo Sto Agostinho,
que revelou que aprendeu a linguagem a partir de quais objetos as palavras
representam, a teoria do significado dos formalistas usa elementos de linguagem
para retratar, nomear. Tal teoria é criticada pelo 2º W como sendo uma simplificação
extrema focando em apenas um tipo de função de linguagem. Juntamente com Austin,
argumentam que a linguagem não é apenas isso: “Para uma grande classe de casos
em que empregamos a palavra significado – embora não todos -, ela pode ser
explicada da seguinte maneira: o significado de uma palavra é seu uso na
linguagem” (p. 128). Significado é uso, saber como usar a linguagem é uma
técnica (regras, convenções). Portanto, o uso não é óbvio, ainda mais em
Filosofia.
Jogos
de linguagem. O 2º W também trata dos jogos de linguagem,
pelos quais elementos de linguagem são como lances em um jogo regido por
regras. Se a teoria pictórica do significado dos formalistas trata o
significado como propriedade formal das palavras, o 2º W nos questiona: “O
signo sozinho parece morto. O que lhe dá vida? – No uso, ele vive.”. Jogos de
linguagem salientam que os usos são infinitos e variados, assim como o são nossas
vidas ativas. Há uma conjectura por parte dos formalistas ao afirmar que a palavra
representa a coisa, isso seria um erro. Para Frege, Russell: “cada termo teria
exatamente um significado perfeitamente preciso”. Conforme Schwartz, o projeto dos formalistas da
linguagem ideal é um projeto sem esperança.
Atos
de fala. Nesse contexto de Oxford, de uso comum da
linguagem em Filosofia e para resolver problemas filosóficos, concluiremos com
Austin e seus atos de fala. Partindo da definição formalista para a qual
qualquer coisa que dizemos deve ser verdadeira (ou não falsa), Austin mostra que
elocuções performativas como “Eu prometo” ou “Eu condeno...” não são relatórios
do verdadeiro ou falso, mas realizam uma ação. Ele retira o foco de proposições
que podem ser verdadeiras ou falsas trazendo-o para elocuções performativas que podem
ser felizes ou infelizes e lançando uma sombra sobre o verdadeiro e o falso. Os
atos de fala, então, seriam a essência da linguagem e tal conceituação extrapolou
os limites da filosofia, sendo usada também em outras áreas do conhecimento.
* Uma crítica da Filosofia da linguagem comum de Oxford
ao positivismo lógico e seus influenciados que reforça os diferentes usos e
pontos de vista da linguagem. “Uma breve história da filosofia analítica de Russell a Rawls”. Schwartz, Stephen P. São Paulo: Edições Loyola, 2017, p. 126 e ss.
[i] 1º W = primeiro Wittgenstein.
[ii] 2º W = segundo Wittgenstein.
No limite, para 2W não haveria problemas filosóficos mas confusoes linguísticas
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