Observações sobre a prática da avaliação da
aprendizagem nas escolas brasileiras atestam que ela se orienta pela pedagogia
do exame polarizada pelas provas e exames, ainda mais intensos no ensino médio
que deve preparar os alunos para o vestibular.
Sob essa ótica, o sistema de ensino é quantitativo
porque baseado em números que se concretizam nas notas das provas ou nos
percentuais de aprovação e reprovação e também instrumental porque tem
como fim a promoção nas séries de escolaridade. Tal abordagem mobiliza todos os
atores e agentes envolvidos na educação: sejam os alunos que devem se inteirar
das tarefas necessárias para obter as notas; os professores que usam as provas
como instrumento de ameaça aos alunos; os pais que ficam na expectativa das
notas; o estabelecimento de ensino que se vale das estatísticas dos resultados
(que escondem as disparidades individuais e os caminhos que levaram à obtenção
da nota); e o sistema social que, aferindo esses resultados, tem “garantias” de
que tudo está indo bem (claro que aparentemente...). Os desdobramentos desse
quadro revelam uma relação cindida entre professores autoritários que utilizam
as provas como instrumento de disciplinamento de alunos que, com medo, se
submetem as avaliações em busca de aprovação. Não vemos nessa prática a
valorização, quer seja de conteúdos, quer seja de competências.
Luckesi nos mostra que um processo histórico
instaura esse quadro atual, seja partindo da pedagogia jesuítica que já se
valia de um ritual de provas e exames ou da pedagogia comeniana que pregava que
“o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos”[i].
Além disso, a sociedade burguesa capitalista ainda incide sobre a nossa
educação com seus mecanismos de controle que operam o fetiche da prova que se torna
o objeto que regula a relação entre professor e aluno pela via da dominação: a prova
vale mais do que o aprendizado; mecanismos que impõem medo aos alunos que vivem
em constante preocupação com as avaliações que os cerceiam.
Assim, a pedagogia do exame traz consequências: 1)
pedagógicas, porque centraliza atenção aos exames em detrimento da
aprendizagem; 2) psicológicas, porque os alunos se tornam submissos aos exames
e devem se conformar com essa pedagogia, criando sujeitos coagidos; 3)
sociológicas, em virtude dos processos de seletividade social que se dão de modo
desigual em virtude das classes sociais. Mas o que há de errado? O problema seria
a avalição ou o modo de avaliação e sua prática? Deixaremos por hora essa
pergunta em aberto e voltaremos a esse assunto brevemente.
* Parte do trabalho: Como avaliar? Em Filosofia se avalia, mas,
como pressuposto o quadro teórico da disciplina, é preciso um processo
avaliativo coerente com o enfoque. Junho/2015. Sintetiza-se aqui tópico de LUCKESI,
Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São
Paulo: Cortez Editora, 2003.
[i] LUCKESI, 2003, p. 22.
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