sexta-feira, 24 de abril de 2015

Movimento Fenomenológico*

O movimento fenomenológico surge a partir de um chamado que Husserl fez para um trabalho coletivo dos filósofos, recuperando a ideia original de filosofia como ciência englobante e rigorosa. Ela deveria se basear no critério geral de cientificidade, qual seja: o reconhecimento intersubjetivo mínimo da validade de certos conteúdos teóricos e procedimentos metodológicos. Partindo de uma base consensual com métodos lógicos que pudessem ser reconstruídos, sua validade se daria por um acordo entre os pesquisadores e teria como consequência, a partir daquela base consensual, uma progressão colaborativa.
Quando a Filosofia segue o gênio, ela cria sistemas que são produzidos por uma só pessoa, sistemas quase religiosos que tendem a se isolar. De outra forma, o movimento fenomenológico deveria ser um chamado para as novas gerações, movimento colaborativo que desse ênfase em contribuições parciais para a construção interminável de um saber válido, em um trabalho cumulativo. Essa deveria ser a direção da filosofia, não como princípio, mas como um fim, um telos. E a fenomenologia cumpre esse critério porque tem como pressuposto a inesgotabilidade da experiência.
Sua metodologia parte da redução eidética (eidos – essência) para a redução fenomenológica transcendental. Concepção à época extremamente nova e radical, a fenomenologia seria um método para tratar um núcleo de problemas transcendentais. Em sentido kantiano, a fenomenologia transcendental não se preocupa com os atributos sensíveis dos objetos, não descreve o mundo, mas o modo de acesso a eles. Voltando-se para as capacidades subjetivas, em detrimento do que a experiência nos dá, é a condição de possibilidade (a crítica) que é objeto de estudo: a constituição dos modos de acesso de apreender fenômenos, suspendendo o mundo, o dado real, a experiência. Assim, o núcleo dos problemas são as condições subjetivas de possibilidade do conhecimento e da experiência em geral e o método, a redução fenomenológica, é a suspensão da vigência do ser das coisas para tornar visível como constituímos o seu sentido a partir do aparecer fenomenal. A intuição permitiria mostrar como a experiência é possível através das condições que devem ser preenchidas para se atribuir ser às coisas.
A fenomenologia permitiria reduzir o ser ao fenômeno, suspendendo a objetividade do mundo. Seria possível explicitar o pressuposto do conhecimento objetivo através dos modos estruturais subjetivos de como é possível este conhecimento. Eis a radicalidade: suspender o ser pelo aparecer. Mas a redução não foi muito bem compreendida em sua época: Husserl propõe um programa de pesquisa fenomenológico, mas há resistência em relação a seus princípios básicos. Uma delas: Sartre.

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* notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, prof. Marcus Sacrini.

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