O movimento fenomenológico
surge a partir de um chamado que Husserl fez para um trabalho coletivo dos
filósofos, recuperando a ideia original de filosofia como ciência englobante e
rigorosa. Ela deveria se basear no critério geral de cientificidade, qual seja: o reconhecimento intersubjetivo mínimo
da validade de
certos conteúdos teóricos e procedimentos metodológicos. Partindo de uma base
consensual com métodos lógicos que pudessem ser reconstruídos, sua validade se
daria por um acordo entre os pesquisadores e teria como consequência, a partir
daquela base consensual, uma progressão colaborativa.
Quando a Filosofia segue o gênio,
ela cria sistemas que são produzidos por uma só pessoa, sistemas quase
religiosos que tendem a se isolar. De outra forma, o movimento fenomenológico
deveria ser um chamado para as novas gerações, movimento colaborativo que desse ênfase
em contribuições parciais para a construção interminável de um saber válido, em um trabalho cumulativo. Essa deveria ser a direção da filosofia, não como
princípio, mas como um fim, um telos.
E a fenomenologia cumpre esse critério porque tem como pressuposto a
inesgotabilidade da experiência.
Sua metodologia parte da redução
eidética (eidos – essência) para a redução
fenomenológica transcendental. Concepção à época extremamente nova e radical, a
fenomenologia seria um método para tratar um núcleo de problemas transcendentais.
Em sentido kantiano, a fenomenologia transcendental não se preocupa com os
atributos sensíveis dos objetos, não descreve o mundo, mas o modo de acesso a
eles. Voltando-se para as capacidades subjetivas, em detrimento do que a experiência
nos dá, é a condição de possibilidade (a crítica) que é objeto de estudo: a constituição
dos modos de acesso de apreender fenômenos, suspendendo o mundo, o dado real, a
experiência. Assim, o núcleo dos
problemas são as condições subjetivas de possibilidade do conhecimento e da experiência
em geral e o método, a redução fenomenológica,
é a suspensão da vigência do ser das coisas para tornar visível como constituímos
o seu sentido a partir do aparecer fenomenal. A intuição permitiria mostrar
como a experiência é possível através das condições que devem ser preenchidas
para se atribuir ser às coisas.
A fenomenologia permitiria
reduzir o ser ao fenômeno, suspendendo a objetividade do mundo. Seria possível explicitar
o pressuposto do conhecimento objetivo através dos modos estruturais subjetivos
de como é possível este conhecimento. Eis a radicalidade: suspender o ser pelo
aparecer. Mas a redução não foi muito bem compreendida em sua época: Husserl propõe
um programa de pesquisa fenomenológico, mas há resistência em relação a seus
princípios básicos. Uma delas: Sartre.
* notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, prof. Marcus Sacrini.
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