domingo, 26 de abril de 2015

Investigação fenomenológica: as condições subjetivas do conhecimento em circunstâncias ideais*

Ao conclamar os filósofos para o movimento fenomenológico, Husserl constatava o estado de imperfeição teórica das ciências porque, apesar dos resultados técnicos por elas apresentados, faltaria clareza acerca dos seus fundamentos, acerca dos fundamentos sobre os quais a ciência operaria. Assim, seria preciso explicitar os pressupostos que legitimariam os conhecimentos científicos fundamentados: quais seriam esses pressupostos, seu alcance e sentido. Husserl, então, defenderia um projeto de fundamentação das ciências como explicitação dos pressupostos teóricos que garantiriam a cientificidade do conhecimento, de modo que fosse possível evidenciá-los, clarificá-los, elucidá-los. De acordo com ele, haveriam dois tipos de pressupostos, de condições que garantiriam a legitimidade do conhecimento:
·         Condições objetivas: seriam restrições conceituais, formas de inferência e sistematização de teses, formas das teorias possíveis e estariam sob o domínio da lógica, domínio formal de leis e princípios que visavam o respeito às regras e evitariam contradições.
·         Condições subjetivas: seriam as restrições ao conhecimento referentes às capacidades de atestação da validade lógica, capacidades que permitiriam distinguir entre bons e maus raciocínios e reconheceriam com evidência as condições formais válidas.
Nesse projeto haveria uma divisão do trabalho entre matemáticos e filósofos. Com os primeiros ficaria a tarefa da lógica pura, que visava fundamentar as ciências do ponto de vista objetivo, tornando explícitos os pressupostos lógico-conceituais a que toda teoria científica deveria se submeter. Com os segundos ficaria a tarefa da fenomenologia, que visava fundamentar as ciências do ponto de vista subjetivo, tornando explícitas as possibilidades e os limites do sujeito cognoscente.
As condições subjetivas que deveriam ser investigadas pela fenomenologia não envolveriam circunstâncias empíricas, factuais, de vida subjetiva, mas deveria ser investigada a subjetividade em geral, o modo natural das essências. Interessaria explicitar a essência da subjetividade, os aspectos estruturais que definem, a priori, o que é uma subjetividade cognoscente em geral, distinguindo o noético: o geral, a ideia, do psicológico: instâncias do noético, casos da ideia. A fenomenologia até poderia partir de casos empíricos, mas através deles deveria buscar o invariante, o que permanece, a essência. No plano psicológico, poderiam ser observadas situações reais que o sujeito percebe, o caso singular seria o ponto de partida no rumo do factual para o essencial. A essência seria a espécie, a unidade de vários casos: de um lado estaria o ente ideal, idêntico e de outro o real, temporal, as circunstâncias. Assim, a idealidade seria exemplificada em caos reais.
Para apreender a essência do sujeito seria necessário isolar as suas capacidades noéticas. A abstração da experiência empírica permitiria observar o invariante, separando o eu corporal empírico se isolaria a consciência, a unidade das vivências psíquicas, o eu fenomenológico. De um lado o eu empírico, o corpo físico, do outro o eu fenomenológico, o espiritual, psíquico, a sua essência. A fenomenologia estaria muito associada à psicologia, haveria apenas uma diferença de grau, essa última empírica e a primeira descritiva, investigando as características essências da experiência psíquica de modo isolado do contato empírico corporal com o mundo: um tipo de psicologia eidético-descritiva.
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* notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, prof. Marcus Sacrini.

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