sexta-feira, 1 de maio de 2015

Aula de Didática*

    Conforme Perrenoud, podemos verificar três tipos de currículos escolares: 1.) currículo formal: aquele que está documentado, que dita o que será lecionado (ou não) e como; 2.) currículo real: do que está documentado, o que de fato acontece na prática, desvios de planejamento, etc.; 3.) currículo oculto: o que é aprendido/apreendido pelos alunos mas que não é explicitado, documentado, por exemplo, que na escola há um hierarquia, que tem que usar uniforme e isso se parece com o uniforme que será utilizado nas fábricas, que na festa junina da escola o caipira vira alvo de deboches e piadas e é desvalorizado sem ficar claro para os alunos, etc. Diálogo de aula:

Interlocutora 1: Professora, mas a escola não tem que formar cidadãos conscientes e participativos? Na verdade, as pessoas não sabem se comportar em sociedade, esse não seria um papel da escola?

Interlocutora 2: Entendo que isso é um problema de vivência de cada um, que nasce com a gente e vamos desenvolvendo durante toda a vida. Isso seria relativo ao âmbito familiar, os pais, primos, toda uma interação que se constrói e que nos molda. Imagine o fardo dos professores, além de ter que ensinar o conteúdo (ou vá lá..., que seja competências e habilidades) e ainda ter que educar os alunos.

Interlocutora 1: Mas as pessoas hoje não tem o mínimo de civilidade. Outro dia, eu estava na fila do bandejão e, de repente, entrou um monte de gente na minha frente, não pediram licença e acharam aquela atitude a coisa mais normal.

Interlocutora 3: Na verdade, cidadãos conscientes e participativos devem pensar além: qual a situação dos funcionários que nos estão servindo no bandejão, faz quanto tempo que não tem aumento. Alguns moram em favela, outros são terceirizados e, ainda, tem muitos funcionários com LER (lesão de esforço repetitivo). Cidadãos conscientes e participativos não pensam somente neles mesmos, pensam além, além das suas próprias fronteiras pessoais e individuais.

Interlocutor 4: Numa outra aula em que eu estava participando, a professora comentou a respeito da nossa atitude atual de sempre responder, nunca intervir. A gente não transforma mais o nosso espaço, só ficamos reclamando e não temos atitude.

Interlocutor 5: O problema não é entrar na fila do bandejão comportadamente, o problema é saber porquê estamos fazendo aquilo. O que se ensina na sala de aula acontece sob uma relação de autoridade entre professor e alunos, não sabemos para que serve aquilo, mas temos que fazer.

Interlocutora 1: Mas o que eu dizia sobre moralização, não quer dizer algo que se fazia na ditadura, é um mínimo que é necessário na vida real. Na escola onde faço estágio, na prática, não se consegue dar aula, teria que haver um mínimo de imposição ou de controle. Isso seria um currículo moral, ficaria escondido no currículo oculto ou deveria ser um artifício a ser acrescentado ao currículo formal?

Eu: só ouvindo...
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* as falas foram resumidas e estilizadas.

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