sábado, 9 de maio de 2015

Do buraco a filosofia saiu e no buraco ela ficou

     Eu era eu há 5 anos atrás, mas eu era, digamos, descontente. Não posso explicar exatamente o motivo daquele descontentamento, mas faltava algo. Eu não sabia o que faltava, mas resolvi buscar alguma coisa: a filosofia. Hoje, com a filosofia, não me parece que falte algo, embora eu não saiba o que eu busco. A falta é um buraco que nos é imposto e que nos incomoda. A busca é um buraco que criamos e que nos incomoda. O buraco da falta nos invade e nos inibe. O buraco da busca nos move. O buraco está lá, é o mesmo, sempre teremos que lidar com ele. Por mais areia que coloquemos dentro dele, nunca vamos cobri-lo. Por mais que o cavemos, nunca encontraremos o fundo. 
     Podemos cair dentro do buraco e sermos engolidos por ele, sem conseguir sair. Por mais que tentemos, escorregamos. Quanto mais força, menos energia. A ansiedade de sair do buraco nos torna incrédulos, o tempo passa e o buraco continua. E, nós, dentro do buraco. Então percebemos os mais sórdidos detalhes do buraco, percebermos que ele nos esquenta quando está calor e nos esfria quando está frio. Percebermos que quanto mais luz queremos, mais escuro ele fica. E quando vem a água... Vindo em grande quantidade, maior o buraco fica e nós a girar com a água dentro do buraco. Ficamos tontos. Vindo pouca água, ela vem pouca porque temos sede. A água se mistura com a terra e fica suja, não mata a nossa sede. E o buraco está ali para nos proteger dos outros. Temos medo dos outros e nos escondemos dentro do buraco. Se nos chamam, não temos para onde correr, cavamos, cavamos, cavamos!! Cavamos... Não tem jeito, vão nos achar.
     Mas, se vão nos achar, porque não os chamamos, então? Venham todos, por favor, comigo para dentro do buraco! Podemos, juntos, lutar contra as adversidades...  Hum. Bobagem minha. Eles não têm tempo, ninguém tem tempo de lutar com os outros pelas adversidades deles. Mas é só isso: uma questão de tempo, nada mais. E o tempo, hoje, é precioso. Por isso entendemos porque eles não vêm. Tudo bem, tudo bem. Não nos resta saída, o buraco está em nós e nós estamos no buraco. Então, entremos dentro dele. Cultivemos o buraco. Abandonemos o buraco da falta pelo buraco da busca. Buraco por buraco, que ele seja nosso. Criemos o buraco a nosso modo e, se preciso for, a revelia dos outros. Criemos um buraco, não para preenchê-lo, nem para aumentá-lo, criemos nosso buraco para deixá-lo ali, conosco. Ele é nosso buraco e de mais ninguém. É o buraco mais importante que tem porque é nosso e precisa ser cultivado, e mesmo cultuado, a nosso modo. Quem quiser pode se emburacar, não paga nada. Mas não há um compromisso, fiquem à vontade. 
     Buraco, buraquinho, buracão. Grande ou pequeno, limpo ou sujo: é o meu buraco. Não é onde me escondo, é onde me crio. É o meu buraco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário