Husserl acentuava o processo
intencional através do qual o sujeito se voltaria para si mesmo, fazendo
aparecer a estrutura intencional da sua consciência, com o foco nesse processo
interno. Através de um esforço reflexivo, objetivando as estruturas internas da
consciência, seria deixado de lado o que normalmente aparece, visando fazer
aparecer o que não aparece: as vivências. Seriam deixados de lado os objetos
intencionais que estão no mundo porque eles não seriam interiores à consciência,
eles apareceriam: seriam os polos aos quais a consciência se dirigiria. E eles
nem mesmo seriam necessários para as vivências aparecerem, poderiam ser visados
objetos inexistentes ou objetos irreais, resultados de conjecturas. A
fenomenologia deveria fazer aparecer as vivências, torná-las objeto, através da
descrição eidética da imanência psíquica, da região ontológica interior da consciência,
de sua essência noética.
As vivências seriam constituídas de
sensações e apreensões objetivantes. As sensações seriam o material inerte da consciência,
elas seriam vividas, não intencionais e não apareceriam. As apreensões objetivantes
seriam os atos intencionais que fariam aparecer os objetos. Então, o vivenciar
seria um mecanismo que não aparece, a partir de sensações que não percebemos,
mas que são sensações de algo e que são animadas pelas apreensões que
direcionam a consciência rumo aos objetos, em um esquema de conteúdo-apreensão.
Ou seja, o material sensível inerte é animado por um ato mental que então constitui
a referência intencional ao objeto visado.
Husserl atribuía ao sujeito o poder
de constituir o sentido objetivo do correlato visado através desse processo reflexivo
e interior. Somente por meio do interior os objetos do mundo receberiam sentido
ativamente, mas, embora esse real não estivesse reduzido ao interior do sujeito,
ele só se manifestaria pela atividade (imperceptível) do sujeito. As emoções também
seriam manifestadas por meio da intencionalidade, como atos complexos: uma
tomada de posição afetiva seria construída sobre uma apresentação prévia do
objeto, supondo um ato objetivante prévio.
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* Notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, professor Marcus Sacrini.
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