domingo, 17 de maio de 2015

Objeto da fenomenologia: a consciência intencional do sujeito constituída de vivências*

Husserl acentuava o processo intencional através do qual o sujeito se voltaria para si mesmo, fazendo aparecer a estrutura intencional da sua consciência, com o foco nesse processo interno. Através de um esforço reflexivo, objetivando as estruturas internas da consciência, seria deixado de lado o que normalmente aparece, visando fazer aparecer o que não aparece: as vivências. Seriam deixados de lado os objetos intencionais que estão no mundo porque eles não seriam interiores à consciência, eles apareceriam: seriam os polos aos quais a consciência se dirigiria. E eles nem mesmo seriam necessários para as vivências aparecerem, poderiam ser visados objetos inexistentes ou objetos irreais, resultados de conjecturas. A fenomenologia deveria fazer aparecer as vivências, torná-las objeto, através da descrição eidética da imanência psíquica, da região ontológica interior da consciência, de sua essência noética.
As vivências seriam constituídas de sensações e apreensões objetivantes. As sensações seriam o material inerte da consciência, elas seriam vividas, não intencionais e não apareceriam. As apreensões objetivantes seriam os atos intencionais que fariam aparecer os objetos. Então, o vivenciar seria um mecanismo que não aparece, a partir de sensações que não percebemos, mas que são sensações de algo e que são animadas pelas apreensões que direcionam a consciência rumo aos objetos, em um esquema de conteúdo-apreensão. Ou seja, o material sensível inerte é animado por um ato mental que então constitui a referência intencional ao objeto visado.
Husserl atribuía ao sujeito o poder de constituir o sentido objetivo do correlato visado através desse processo reflexivo e interior. Somente por meio do interior os objetos do mundo receberiam sentido ativamente, mas, embora esse real não estivesse reduzido ao interior do sujeito, ele só se manifestaria pela atividade (imperceptível) do sujeito. As emoções também seriam manifestadas por meio da intencionalidade, como atos complexos: uma tomada de posição afetiva seria construída sobre uma apresentação prévia do objeto, supondo um ato objetivante prévio.
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* Notas de aula de História da Filosofia Contemporânea, professor Marcus Sacrini. 

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