Por que filósofo? Conforme Giannotti,
o que busca o filósofo é um exercício de distanciamento e intimidade como o
mundo, porque o filósofo visa o mundo, mas pelo olhar de outro filósofo. Quando
o filósofo lê, consome uma filosofia, ele não a destrói, mas a perpetua; é de
uma ideia, de uma filosofia que surgem novas ideias e novas filosofias. Ao
mesmo tempo em que é um exercício autônomo é também dependente, porque é um
exercício de transformação. Meio ao modo da noção de história hegeliana é a
história de um espírito que se desenrola no tempo, não um espírito absoluto,
mas um espírito encarnado que está no mundo em interação com outros pensantes. Assim
é o professor quando leciona e cria: da atividade surgem novos pensamentos.
O exercício autônomo do livre
pensar, mas dependente de outras leituras porque intermediando o acesso ao
mundo que afasta e aproxima, esse exercício, assim colocado por Giannotti, é
científico porque, segundo ele, apresenta um resultado objetivado. Nesse
sentido, permite a análise por outra subjetividade que também o objetiva,
apresentando esse caráter de perpetuação. E, mais do que nunca, hoje o filósofo
é financiado pelo Estado. O filósofo acadêmico, ao mesmo tempo em que é
funcionário do Estado com disciplinas e obrigações, ainda mantém certo caráter
subversivo, mas muito mais reflexivo. E a ele muito se associa a imagem do
professor aposentado, como o legislador de Rousseau - aquele que
"ilumina" o povo, como o escritor proposto por Sartre - aquele que,
de dentro da academia e dentro dos círculos cultos pode fazer a reflexão. Mas,
menos do que nunca, independentemente, porque compromissado com os deveres que
a produção dos ethos acadêmico exige.
Mas se a filosofia é o exercício da
reflexão, Giannotti conclui o artigo indicando que o filósofo não deve se
satisfazer apenas com o discurso: é preciso interação, diálogo, é preciso se
aproximar da prática. É estimulando aquele movimento de intimidade e
distanciamento nos outros que o filósofo poder se libertar e escapar da mão
forte do Estado que o financia. É preciso ir a fundo à reflexão exatamente para
se verificar até que ponto existe essa interferência ou não. A própria ciência,
que se autoproclama neutra e autônoma, se vê às voltas de um exercício teórico
e quase apartado da realidade, quase estéril no que tange a grandes inovações.
O filósofo precisa ir além desses efeitos aparentes dados pela lógica
competitiva do mercado onde é necessário produzir, do capital financeiro que
estabelece prioridades e da mão paterna do Estado que afaga, mas submete. A
consciência que o filósofo deve apresentar, segundo Giannotti, pode aparecer no
uso de suas palavras e nas consequências que ele pode trazer aos jovens, ao
mesmo tempo em que pode se difundir pela sociedade de modo que suas reflexões
diminuam as diferenças entre filósofos e não filósofos.
____________* Resenha – texto “Por que filósofo?” – José Arthur Giannotti
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