Até onde se sabe nós, humanos, somos os
únicos seres que conhecemos que são autoconscientes. Por exemplo, o cachorro
tem consciência, sente fome, frio e fica feliz. O cachorro tem as suas armas na
luta pela sobrevivência. Porém, parece que ele não sabe que sabe disso. Ou
talvez saiba, em uma escala bem menor do que a nossa. Já dos homens se diz que
são animais racionais e tal afirmação aponta para a primazia da razão que vem
calcada na consciência reflexiva
O homo sapiens, que é o que somos, tem
350 mil anos[i] e
seu cérebro desenvolvido remete à casa de milhares de anos. Uma bela evolução!
Ou seria o cérebro (e seu produto ou sua cara metade a consciência) contra
evolutivo? Bem, vejamos. A consciência não foi [ainda] definida, explicada quer
seja pela ciência quer seja pela filosofia e mantem-se misteriosa. Desde Kant e
sua terceira antinomia vemos o conflito da consciência com a natureza[ii].
Diríamos que o que há de mais antinatural é a consciência!
Falemos sobre a marca da morte. Vivemos
sentindo a marca do tempo e buscando nossa conservação, mas não é só isso (já
diria Rousseau[iii]).
O cachorro também busca a sua conservação (foge quando há perigo, briga por
comida, etc.), mas, provavelmente, só “lembra” que está em risco nesses
momentos. Nós, humanos, podemos passar todo o tempo de nossa vida pensando na
morte (nossa, dos entes queridos, etc.) ou mesmo forjar perigos fictícios que
possam nos levar a uma morte nada iminente.
Mais do que isso, ao mesmo que nos
conservamos destruímos o planeta e os outros animais. Seria essa mente evoluída
a responsável pela provável eliminação dela própria? A consciência (a mente, o
cérebro, a alma, enfim..) se choca com o mundo, não entende o mundo. Ela é feita
de outro material. Na dúvida, conforme Camus, o suicídio é uma saída (nada
racional!). Pois essa consciência é a primeira dificuldade no estudo da
Filosofia da Mente.
[i] Conforme https://pt.wikipedia.org/wiki/Humano,
acesso em 03 de março de 2020.
[ii] Na verdade trata-se do conflito
da liberdade com a natureza, mas aqui tomamos liberdade por consciência, conforme
já explorado em: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/06/um-caminho-para-liberdade-em-kant.html.
“Kant separa a causalidade da natureza e a causalidade da liberdade, essa como
faculdade de seus agentes, dos homens, ou seja, uma causa fora da série. Essa
liberdade é uma liberdade transcendental, é uma ideia da razão que não vem da
experiência.” Vê-se aqui a liberdade fora da natureza. Mais do que isso essa
liberdade não passa de uma ideia!
[iii] Aqui remetemos ao ensaio de
Rousseau que parte de um estado fictício da humanidade em que o homem tinha um
amor-de-si que se transforma em amor próprio, na medida em que o homem se
socializa e quando surgem as paixões e os males da sociedade.
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