terça-feira, 3 de março de 2020

Uma consciência, uma dificuldade

Até onde se sabe nós, humanos, somos os únicos seres que conhecemos que são autoconscientes. Por exemplo, o cachorro tem consciência, sente fome, frio e fica feliz. O cachorro tem as suas armas na luta pela sobrevivência. Porém, parece que ele não sabe que sabe disso. Ou talvez saiba, em uma escala bem menor do que a nossa. Já dos homens se diz que são animais racionais e tal afirmação aponta para a primazia da razão que vem calcada na consciência reflexiva
O homo sapiens, que é o que somos, tem 350 mil anos[i] e seu cérebro desenvolvido remete à casa de milhares de anos. Uma bela evolução! Ou seria o cérebro (e seu produto ou sua cara metade a consciência) contra evolutivo? Bem, vejamos. A consciência não foi [ainda] definida, explicada quer seja pela ciência quer seja pela filosofia e mantem-se misteriosa. Desde Kant e sua terceira antinomia vemos o conflito da consciência com a natureza[ii]. Diríamos que o que há de mais antinatural é a consciência!
Falemos sobre a marca da morte. Vivemos sentindo a marca do tempo e buscando nossa conservação, mas não é só isso (já diria Rousseau[iii]). O cachorro também busca a sua conservação (foge quando há perigo, briga por comida, etc.), mas, provavelmente, só “lembra” que está em risco nesses momentos. Nós, humanos, podemos passar todo o tempo de nossa vida pensando na morte (nossa, dos entes queridos, etc.) ou mesmo forjar perigos fictícios que possam nos levar a uma morte nada iminente.
Mais do que isso, ao mesmo que nos conservamos destruímos o planeta e os outros animais. Seria essa mente evoluída a responsável pela provável eliminação dela própria? A consciência (a mente, o cérebro, a alma, enfim..) se choca com o mundo, não entende o mundo. Ela é feita de outro material. Na dúvida, conforme Camus, o suicídio é uma saída (nada racional!). Pois essa consciência é a primeira dificuldade no estudo da Filosofia da Mente.


[i] Conforme https://pt.wikipedia.org/wiki/Humano, acesso em 03 de março de 2020.
[ii] Na verdade trata-se do conflito da liberdade com a natureza, mas aqui tomamos liberdade por consciência, conforme já explorado em: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2016/06/um-caminho-para-liberdade-em-kant.html. “Kant separa a causalidade da natureza e a causalidade da liberdade, essa como faculdade de seus agentes, dos homens, ou seja, uma causa fora da série. Essa liberdade é uma liberdade transcendental, é uma ideia da razão que não vem da experiência.” Vê-se aqui a liberdade fora da natureza. Mais do que isso essa liberdade não passa de uma ideia!
[iii] Aqui remetemos ao ensaio de Rousseau que parte de um estado fictício da humanidade em que o homem tinha um amor-de-si que se transforma em amor próprio, na medida em que o homem se socializa e quando surgem as paixões e os males da sociedade.

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