Traz aspectos de uma teoria funcionalista sobre a consciência
que opera como narrativa da mente[i]
Teixeira
inicia a abordagem da consciência em Dennett ressaltando que, embora a inteligência
artificial (IA) tenha tido um grande avanço em seu desenvolvimento, ela não
explica a consciência. Mesmo na ficção é possível assistir a grandes
personagens que são máquinas conscientes, embora inteligência e consciência
sejam coisas distintas. Por exemplo, o vírus HIV tem um comportamento que pode
ser dito inteligente, mas não podemos dizer que é consciente. Mas a teoria da
mente que mais se aproxima da IA é a funcionalista e se ela pudesse explicar a
consciência haveria grande espaço para a chancela da IA como coisa consciente.
Para Dennett, então, a consciência é a
narrativa do que ocorre na mente. Ele distingue um aspecto mais elementar de consciência que é a capacidade
de deliberação, isto é, do controle do comportamento que significaria estar consciente
para executar as ações. Porém, elaborar narrativas vai além disso: é ter a
capacidade de realizar escolhas do que será feito a seguir. Nesse sentido, Dennett é
signatário de Ryle[ii],
ou seja, ambos não tratam a consciência como uma unidade, não pensam que possa haver uma mente una
e indivisível se opondo a matéria infinita e divisível e seria utopia buscar por um
lócus da consciência, embora parte da neurociência caminhe nessa direção.
Dennett entende que somos uma coleção
difusa de vozes e fragmentos. Com uma postura deflacionária, a consciência é caracterizada
com uma construção que atribuímos aos outros e não faz sentido buscarmos por seus
correlatos neurais. Da mesma forma que Ryle, então, Dennett confronta o mito
cartesiano de um coordenador central administrando nosso corpo e de um pano de
fundo onde estariam inscritas as nossas experiências conscientes. Pleiteando um
modelo descentralizado nos livramos do peso ontológico do “eu-penso” e do
caminho que desemboca na figura do pai, do estado ou de deus.
A teoria dennettiana da consciência é empírica e toma por base o conceito de Pandemonium criado por Selfridge que permite reconhecer padrões mal definidos. Tal conceito será abordado a seguir.
[i] Começando
o segundo capítulo de A mente segundo Dennett, de, João de Fernandes
Teixeira. São Paulo: Editora Perspectiva, 2008.
[ii] Sobre Ryle: https://www.reflexoesdofilosofo.blog.br/2024/11/revisitando-o-mito-cartesiano.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário